Cadeira de boteco vira ícone pop, mas já foi banida em ruas da Europa

Branca, de plástico e barata. As cadeiras Monobloco são objetos muito populares nas ruas do Brasil e agora uma delas estampa "DeBÍ TiRAR MáS FOToS", o novo álbum do porto-riquenho Bad Bunny, classificado como o novo rei do pop pela revista Forbes em 2023.

O trabalho, que é o sexto álbum de estúdio de Benito Antonio Martinez Ocasio, já rendeu diversas trends nas redes sociais desde o lançamento, no dia 5 de janeiro.

O conjunto das cadeiras em uma área verde, por sua vez, também não passou despercebido pelos usuários. Há quem celebraram a simplicidade da capa, mas outros que questionaram o uso.

Mas afinal, qual é a história por trás desse clássico das casas latinas?

A cadeira de Bad Bunny

Ela recebe o nome de "monobloco" por ser feita a partir de uma única peça. Esse tipo de cadeira começou a ser produzido em 1946, no Canadá, por D.C. Simpson (1916-1967). O modelo até então não era adequado para produção em massa, mas a partir dela outros designers começaram a desenvolver novos formatos.

Uma das mudanças significativas foi a capacidade de empilhamento desenvolvida pelo designer Hemut Batzner em 1964, o que faz com que até hoje a cadeira seja reconhecida pela praticidade.

O modelo que hoje conhecemos foi produzido só em 1983, lançado pelo grupo francês Grosfillex sob o nome de "Cadeira de Jardim em Resina", em tradução livre. A produção teve um custo tão baixo que conseguiu manter-se no mercado a preços acessíveis.

A cadeira é feita de polipropileno. No processo, a substância é colocada em moldes submetidos a temperaturas altas entre 220ºC e 230ºC.

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Segundo a Elle Decor, o custo para a produção de uma cadeira dessas é de cerca de 3 euros, o equivalente a cerca de R$ 18,50 na cotação atual, tornando um objeto bastante popular no mundo inteiro e, para alguns, até um símbolo da globalização.

Uma pasta no Flickr intitulada "Aquelas Cadeiras Brancas de Plástico", em tradução livre, reúne mais de mil fotos dela ao redor do mundo.

Vi esse tipo de cadeira de plástico em fotos em Lagos, na Nigéria, nos lixões de cidades grandes. Uma foto de uma reunião em memória de um líder da Al Qaeda assassinado na Jordânia mostrava uma fileira dessas mesmas cadeiras em uma tenda. Eu mesmo tenho seis dessas cadeiras. Acredito que este tipo de cadeira branca de plástico pertence à categoria crescente de objetos onipresentes no mundo.
Ethan Zuckerman, diretor de Estudos de Mídia Cívica do MIT

Já "gongaram"

As cadeiras Monobloco tornaram-se objetos de desprezo em algumas cidades europeias, como no centro da cidade de Basileia, na Suíça, onde chegou a ser proibida legalmente de ser colocada nas ruas em 2008. Mas, depois, o decreto foi revogado.

Por um lado, há quem acredite que as cadeiras sejam "feias", gerando comparações como um "Tupperware de um universo de banha", como fez o escritor Hank Stuver, em um artigo no Washington Post em 2001.

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Por outro, há quem não encoraje o uso por acreditar que elas não sejam sustentáveis.

É uma conquista genial de criatividade e engenharia seguindo os princípios da modernidade: tornar os produtos mais rápidos, melhores, mais baratos e em maiores quantidades. Mas tendo atingido isso, encontramos os limites desse desenvolvimento. Habitamos uma fina camada de um pequeno planeta que não consegue sustentar a velocidade de produção de objetos que têm uma vida útil relativamente curta, mas que não se decompõem após o fim da vida útil da forma como os produtos naturais se decompõem. Em vez disso, acumulam-se no sétimo continente com consequências catastróficas.
Krassimir Terziev, artista visual da Bulgária ao site What Design Can Do

Símbolo e orgulho

Não é apenas no boteco do Brasil que a cadeira Monobloco está presente. Ela é uma referência para toda a América Latina — como em Porto Rico, a ilha de Bad Bunny — e também para países da África e Ásia.

Na Alemanha, no entanto, ela ocupou o Vitra Design Museu, em uma exposição que celebrava o simbolismo global. Uma das intervenções feitas por um artista sobre a cadeira trazia os dizeres: "Respeite. Barato", em inglês.

À medida que se espalhou pelo mundo, a cadeira Monobloco passou a representar a ambivalência da sociedade de consumo atual. (...) A mesma cadeira associada a mercadorias descartáveis de massa em alguns países é considerada um objeto valioso em outros - e pode ser reparada em vez de ser jogada fora. (...) Precisamente pela sua natureza multifacetada, a cadeira de plástico simboliza a complexidade da cultura material do nosso tempo.
Trecho de apresentação da exposição do Vitra Design Museu

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Sucesso renovado

O álbum do Bad Bunny renova afetos às cadeiras Monobloco. Após o lançamento, usuários das redes sociais de diversos países compartilharam memórias ao entorno das cadeiras.

Nas imagens compartilhadas no TikTok, os fãs do cantor mostraram fotos em reuniões de família, ao lado de amigos e outras situações sociais em que a cadeira Monobloco sustentou diversas memórias.

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