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Cueca com bumbum de fora: a inusitada jockstrap vira tendência na moda

Thom Browne, uma das grifes a trazer a jockstrap para os holofotes - Thierry Chesnot/Getty Images
Thom Browne, uma das grifes a trazer a jockstrap para os holofotes
Imagem: Thierry Chesnot/Getty Images

Gustavo Frank

De Nossa

19/07/2022 04h00

Já há algum tempo, a moda feminina tem explorado novas modelagens para abraçar a sensualidade, um reflexo dos tempos pós-pandemia.

Se o romântico trilhou o otimismo nas passarela durante os momentos mais críticos da covid, após o coronavírus o caminho escolhido pelas grifes é com destino ao sexy — seja por meio de recortes mostrando áreas até então cobertas do corpo ou até mesmo as calcinhas à mostra. E engana-se quem acha que os homens foram deixados de lado, pois a jockstrap está vivendo um grande momento.

A jockstrap é uma peça íntima que tomou um rumo inusitado. A peça íntima, que deixa as nádegas de fora e cobre apenas a parte frontal, surgiu há dois séculos, em 1874. Seu uso original era feito por ciclistas, uma vez que forneciam maior conforto para os que trabalhavam na rua entregando cartas e encomendas.

Já no século 20, as cuecas passaram a ser usadas para fins médicos, auxiliando na recuperação de cirurgias como a de hérnia. Além dos hospitais, a peça também tinha popularidade entre os atletas. Em moldes mais resistentes, a parte frontal protegia a genitália dos homens em meio à prática de esportes.

Mas a moda, de fato, pegou com a comunidade queer. Nos anos 1950, era comum encontrar revistas gays em que os modelos usavam a jockstrap para ensaios sensuais. A modelagem da cueca se fez perfeita, isso porque a cueca traz duas alças que poderiam ser usadas como um sutiã para valorizar as nádegas. A partir de então, o look foi incorporado pela comunidade LGBTQI+, mais precisamente parte do uniforme dos gays.

A peça no Brasil

Por aqui, a moda se misturou ao fetichismo e ganhou lugar nas passarelas da São Paulo Fashion Week há um ano. A Bold Strap, comandada pelo designer Peu Andrade, quebrava um padrão da maior semana de moda da América Latina ao elaborar um fashion film em que modelos apareciam vestidos como parte de um fetiche lúdico.

Bold Strap | SPFW  - Fred Othero - Fred Othero
Bold Strap | SPFW
Imagem: Fred Othero

A marca nasceu após o estilista não encontrar uma jockstrap que o satisfizesse no mercado. Então, decidiu, por si só, criar a sua própria linha.

A ausência de uma etiqueta que abraçasse de fato o público gay, e o desejo deles por se vestirem de forma mais sensual e sem padrões de gênero, fez da Bold Strap um sucesso. Basta entrar no site oficial da marca para encontrar roupas e acessórios dignos de um quarto do sexo. As modelagens foram além, vestindo Camila Queiroz e Marina Sena, além de produzir figurinos exclusivos para a cantora Anitta.

Sucesso no mundo

Na moda internacional, as passarelas têm gritado a moda gay em alto e bom tom. No desfile do designer americano Thom Browne, a jockstrap ganhou destaque e pertencimento num styling à la faroeste. Como já contamos em Nossa, o cowboy machão ganhou uma nova cara.

De acordo com Browne, a coleção de Primavera 2023 foi uma "meditação atualizada sobre a ideia de 'até onde você pode ir?'". A ambição do estilista parece fazer com que os homens se apropriem da sensualidade fora das passarelas, como já fazem as mulheres, e abracem as peças como a jockstrap, responsável por causar o maior suspiro no desfile.

Na mídia internacional, a aparição — e sobretudo destaque — da peça íntima teria o mesmo impacto viral da minissaia da Miu Miu, que conquistou famosas e o street style com apenas 20 centímetros de comprimento. Para conquistar as ruas ainda falta tempo e menos timidez do público masculino. Seja ele gay ou heterossexual.

Thom Browne | Primavera 2023 - Divulgação - Divulgação
Thom Browne | Primavera 2023
Imagem: Divulgação

A Thom Browne no entanto não é a única a criar essa nova persona para o homem moderno. Ou retratar a masculinidade renovada da Geração Z. As casas de moda de luxo há um tempo já vêm colocando a jockstrap em seus desfiles.

A Gucci, por exemplo, colocou a peça íntima feita de couro em seu desfile para a coleção masculina de primavera 2019. Na apresentação, o diretor criativo Alessandro Michele exibiu a "cueca" até mesmo em uma versão branca cravejada com cristais. Em uma versão mais introvertida, as jockstraps foram sobrepostas às calças de alfaiataria.

Na mesma linha, a Rick Owens, mais recentemente, colocou a jockstrap preta e básica em sua coleção feita em colaboração com a marca esportiva Champion. A peça, que estava à venda por US$ 162, cerca de R$ 870, está esgotada desde o seu lançamento, em fevereiro deste ano.

Gucci | Jockstrap - Divulgação - Divulgação
Gucci | Jockstrap
Imagem: Divulgação
Gucci | Jockstrap - Divulgação - Divulgação
Gucci | Jockstrap
Imagem: Divulgação
Rick Owens x Champion | Jockstrap - Divulgação - Divulgação
Rick Owens x Champion | Jockstrap
Imagem: Divulgação

Jockstrap chegará às ruas?

Vetements | Outono/Inverno 2022-2023 - Divulgação - Divulgação
Vetements | Outono/Inverno 2022-2023
Imagem: Divulgação

Como comentado anteriormente, a aderência da jockstrap ainda é feita a passos curtos. Muito mais fácil vê-las no feed do Instagram do que nas ruas de fato. De forma inteligente, a VTMNTS de Guram Gvasalia — irmão de Demna Gvsalia da Balenciaga — inseriu a peça íntima de forma mais sutil, mas de forma mais efetiva a conquistar o look cotidiano.

No desfile da coleção de Outono 2022, apenas a alça da cintura era deixada à mostra em um look todo marrom, acompanhado da cintura baixa masculina.

Para o consultor de moda João Ribeiro, a nova abordagem de gênero na moda pode ser uma das impulsionadoras para que a jockstrap se popularize: "Muitos homens da comunidade queer já têm essas peças, no entanto, ainda é restrita ao ambiente mais íntimo. A partir do momento em que elas ganham as passarelas, passam a dar voz e uso para o dia a dia", diz ele para Nossa.

O especialista completa: "Em festas undergrounds, como no Rio de Janeiro e São Paulo, as jockstraps já fazem parte do dresscode. Essa tendência, assim como qualquer outra, primeiro parte como roupa para o reconhecimento de uma tribo, é vista por grandes estilistas e reconhecida por lojas menores.

"É um caminho consideravelmente longo até a popularização, principalmente por ser uma peça íntima", conclui.