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Corra, Jamie, corra! Viajante faz 17.000 km a pé do Canadá à Argentina

Jamie Ramsay com o carrinho que o acompanhou durante toda a aventura pelas Américas  - Arquivo pessoal
Jamie Ramsay com o carrinho que o acompanhou durante toda a aventura pelas Américas
Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

02/12/2021 04h00

Depois de completar 34 anos de idade, o britânico Jamie Ramsay (@jamieisadventuring) chegou à conclusão definitiva de que não estava feliz com sua vida.

"Por 12 anos, tive um emprego no centro financeiro de Londres pelo qual não nutria paixão nenhuma. E, nas horas vagas, comecei a me enfiar em pubs para passar horas bebendo. Certo dia, cheguei de manhã ao meu trabalho após ficar até de madrugada em um bar e dormi no banheiro do escritório. Quando acordei, me olhei no espelho e fiquei me perguntando: 'o que estou fazendo aqui?'".

Este questionamento motivou Jamie a buscar novos caminhos: ele, então, largou seu emprego e resolveu viajar.

Eu já havia feito corridas de longa distância e tinha gostado muito da experiência. E, agora que estava livre, quis unir viagens com as corridas. Queria fazer coisas que, ao contrário da minha antiga profissão, me deixassem realizado"

Jamie na região dos Andes, local com algumas das paisagens mais lindas do trajeto - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jamie na região dos Andes, local com algumas das paisagens mais lindas do trajeto
Imagem: Arquivo pessoal

O projeto bolado pelo britânico foi grandioso: ele voou para a cidade canadense de Vancouver e lá começou um trajeto de mais de 17 mil quilômetros que cruzaria 14 países das Américas, duraria mais de um ano e iria terminar em Buenos Aires, na Argentina. E Jamie fez quase toda esta rota correndo.

Jamie cruzou de montanhas a desertos, como este no Peru - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Jamie cruzou de montanhas a regiões desérticas, como esta no Peru
Imagem: Arquivo pessoal

"Escolhi este percurso porque, com meu passaporte britânico, teria entrada fácil em todos os países que faziam parte do itinerário. E seriam apenas dois idiomas, inglês e espanhol, com os quais lidar na jornada. E, logicamente, eu sabia que iria encontrar lindas paisagens no caminho", conta a Nossa.

Jamie Running | Estados Unidos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Nos Estados Unidos, segundo país da longa jornada pelas Américas
Imagem: Arquivo pessoal

E ele não estava errado: sozinho e empurrando suas coisas pelas estradas em um carrinho, Jamie cruzou a fronteira do Canadá com os Estados Unidos, desceu correndo pela Costa Oeste do território americano, cruzou o México e, depois, passou (sempre correndo) por Guatemala, El Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica e Panamá.

Cenas latinoamericanas: nas rodovias de El Salvador... - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Cenas latinoamericanas: nas rodovias de El Salvador...
Imagem: Arquivo pessoal
Parada no Panamá - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Em uma parada no Panamá...
Imagem: Arquivo pessoal
E matando a sede na Colômbia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
E matando a sede na Colômbia
Imagem: Arquivo pessoal

Após sair da América Central, o viajante ingressou na América do Sul, atravessando a pé Colômbia, Equador, Peru, Chile e, finalmente, Argentina.

E, em todo este roteiro, realmente passou por lugares incríveis, como as praias da Baja California (no México), as florestas do Panamá, as paisagens andinas do Equador e o deserto de Atacama, no Chile.

Jamie levou suas coisas em um carrinho durante a viagem - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Para a empreitada, ele criou um carrinho — parecido com um de bebê — e chegou a levar mais de 30 quilos na engenhoca. Estavam ali objetos importantes para a jornada, como equipamentos de camping (na hora de dormir, Jamie acampou em grande parte do percurso), itens para cozinhar ao ar livre (como fogareiro), comida, água e roupas para diferentes temperaturas.

Em média, eu corria cerca de 46 quilômetros por dia. Mas houve um dia em que fiz quase 80. Ao todo, a viagem consumiu 17 pares de calçados"

Momento de descanso na estrada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Um descanso no caminho: ao todo, Jamie gastou 17 pares de tênis
Imagem: Arquivo pessoal

Desafio no deserto e na altitude

Jamie, logicamente, enfrentou momentos extremamente desafiadores na viagem. Ele, por exemplo, cruzou correndo o inóspito deserto de Sechura, no Peru.

"Antes de chegar lá, conheci ciclistas que haviam sido assaltados neste deserto. Eles me disseram que era um lugar muito perigoso. Mas não consegui fazer outra rota", diz.

No deserto de Sechura, região perigosa para viajantes sozinhos, no Peru  - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
No deserto de Sechura, região perigosa para viajantes sozinhos, no Peru
Imagem: Arquivo pessoal

Quando estava entrando em Sechura, algumas crianças na beira da estrada começaram a gritar para mim, dizendo eu ia morrer. Fiquei assustado, mas, no final, nada aconteceu"

Já ao cruzar as montanhas dos Andes, o britânico teve que sobreviver à altitude: ele chegou a correr a aproximadamente 4.800 metros sobre o nível do mar, em um dos trechos da viagem em que seus pulmões foram mais exigidos.

Na imensidão do Deserto do Atacama, no Chile: caminho solitário - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Na imensidão do Deserto do Atacama, no Chile: caminho solitário
Imagem: Arquivo pessoal

E, ao ir ao Atacama, precisou estar preparado para passar um longo tempo sem ter qualquer contato humano. "Corri 715 quilômetros entre as cidades chilenas de Arica e San Pedro de Atacama. No caminho, era só deserto. Foi difícil, mas, ao mesmo tempo, foi uma das coisas mais incríveis que já fiz. Eu queria ser capaz de vencer todos os desafios que aparecessem na minha frente. Este era um dos motivos pelos quais eu estava nesta viagem".

O trecho final da jornada, por sua vez, presenteou Jamie com uma partes mais fascinantes do trajeto: a região andina que separa o Chile da Argentina, cheia de montanhas lindíssimas.

Nesta área, pude ver paisagens repletas de vicunhas, admirar lagos coloridos embelezados por flamingos e correr em estradas cercadas por cenários que pareciam com Marte"

Jamie Running e seu carrinho - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

"Ao acampar nesta zona dos Andes, não havia ninguém por perto. Eu estava completamente sozinho, tomado por um sentimento libertador", relembra.

Depois disso, Jamie cruzou a Argentina e chegou a Buenos Aires. "Quando terminei a viagem, me vi dominado por uma mistura de sentimentos. Estava feliz por ter superado meus limites e chegado tão longe. E, ao mesmo tempo, percebi que sou mais feliz no trajeto do que no final das viagens. O fim de uma aventura assim é sempre triste".

Jamie Running | Estados Unidos - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Jamie Running | Logo após entrar nos EUA a partir do Canadá - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Jamie, entretanto, não parou por aí. Ele já realizou outras jornadas extremamente desafiadoras pelo planeta (compartilhadas em seu site), como uma corrida de 430 quilômetros pela Escócia e a escalada do Aconcágua, a montanha com o pico mais alto das Américas.