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Brasileiro que cruzava a Austrália de moto vive a quarentena em camping

O brasileiro Toco Lenzi já havia atravessado de moto a América do Sul e agora estava na Austrália a caminho da Ásia quando teve a viagem interrompida pelas medidas contra o coronavírus - Arquivo Pessoal
O brasileiro Toco Lenzi já havia atravessado de moto a América do Sul e agora estava na Austrália a caminho da Ásia quando teve a viagem interrompida pelas medidas contra o coronavírus Imagem: Arquivo Pessoal

Gustavo Frank

De Nossa

20/04/2020 04h00

Toco Lenzi já rodou o mundo de barco, bicicleta, riquixá, dromedário e a pé. A próxima aventura seria uma viagem de moto até o Quirguistão, país localizado na Ásia Central, depois de um convite feito por um amigo que mora na região. Para isso, ele desapegou de tudo o que lhe trazia gastos e adquiriu uma Royal Enfield Himalayan, veículo reconhecido como "inquebrável".

Em meio à rota, o brasileiro teve parte dos seus planos interrompidos pelas medidas internacionais tomadas para evitar a propagação do coronavírus. Sua moto agora está estacionada, junto a ele, no Discovery Parks, um camping na cidade de Darwin, norte da Austrália, onde está morando temporariamente.

"O que vejo é que, a cada dia, o isolamento horizontal está sendo ampliado. Aqui no camping, todos os lugares de acesso comunitário foram fechados, distanciamento social de 2 metros implantado e, na entrada de farmácias e supermercados, todos recebem kits para limpeza e higienização. Já os bares e pubs foram fechados e restaurantes funcionam somente com entregas", relatou Toco em depoimento ao Nossa.

Toco Lenzi - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Toco Lenzi atravessou sete mil quilômetros no deserto australiano para chegar até Darwin e, de lá, voar até a Ásia com a moto
Imagem: Reprodução/Instagram

Isolamento

Toco estava prestes a embarcar para o Timor-Leste, depois de cruzar 7 mil quilômetros no deserto australiano, quando deu de cara com as fronteiras fechadas ao chegar em Darwin, no dia 20 de março.

"Consegui fazer um acordo para poder ficar no camping", conta. "Me emprestaram uma geladeira, fogão e ventilador para que eu pudesse montar o ambiente. Só me resta esperar. Enquanto isso, fico escrevendo e editando vídeos para o meu blog".

Acampamento - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Acampamento em que Toco Lenzi está se hospedando na cidade de Darwin, na Austrália
Imagem: Arquivo Pessoal

A Austrália impôs um distanciamento social rigoroso, incluindo a limitação de reuniões públicas a apenas duas pessoas. Fronteiras estaduais, cafés, clubes, parques e academias foram fechados. Vários Estados também deram à polícia o poder de aplicar as regras por meio de pesadas multas e até penas de prisão.

Eles levam muito a sério o isolamento. Não existe caso nenhum de covid-19 circulando pela cidade de Darwin."

"Todos os casos aqui estão no hospital. São importados, ou seja, de pessoas que estavam viajando e chegaram aqui com o vírus", conta.

Aperto financeiro

Para a viagem, o brasileiro contava com o apoio de doações e o lucro de camisetas, colocadas à venda em um site online.

"No momento, estou passando por dificuldades financeiras", relata. "Quando eu comecei, uma das formas para ter essa viagem seria com patrocínio, mas no meu caso demoraria muito tempo para elaborar um projeto. Então, comecei de forma colaborativa, depois passei a vender camisetas".

Toco recebeu o apoio ainda de um grupo de brasileiros que vivem em Darwin, que deram e ele uma cesta básica para ajudar nesse período

Agora estou numa situação bem complicada. Seguindo alguns cálculos, consigo aguentar até julho com o dinheiro que tenho".

Expectativa para os próximos dias

Moto - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Em sua Royal Enfield Himalayan, moto reconhecida como "inquebrável", Toco carrega seu material de documentação audiovisual
Imagem: Arquivo Pessoal

Com incertezas sobre como serão os próximos dias e a possível abertura das fronteiras, a viagem que teve início há nove meses e teve seus destinos, ponto a ponto, planejados, enfrenta imprecisões.

"A ideia era abrir um caminho entre a América do Sul e a Ásia. Parece que ninguém nunca tinha feito essa travessia, principalmente de moto", comenta. "Por sorte, consegui uma extensão do visto para continuar aqui".

"Viajei o mundo por mais de 30 anos fazendo documentários e agora estou aqui com minha produtora de vídeo montada no baú da moto e produzindo conteúdo durante o trajeto. Dessa vez, estou aproveitando para compartilhar como está sendo esse novo momento".