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Turistas estrangeiros presos no Brasil: "Estou sem dinheiro até para comer"

O músico colombiano Juan Pablo Echeverry está viajando de bicicleta até Brasília, onde tentará uma solução para retornar ao seu país - Arquivo pessoal
O músico colombiano Juan Pablo Echeverry está viajando de bicicleta até Brasília, onde tentará uma solução para retornar ao seu país
Imagem: Arquivo pessoal

Marcel Vincenti

Colaboração para Nossa

16/04/2020 04h00

A crise gerada pela pandemia de coronavírus cancelou voos em todo o mundo e, como consequência, deixou diversos turistas estrangeiros presos no Brasil, impossibilitados de regressar para seus países de origem.

Muitas destas pessoas enfrentam uma série de preocupações que vão além da inquietação com a covid-19. Entre elas, há viajantes que estão sem dinheiro para as necessidades básicas e até um idoso argentino com sérios problemas de saúde e sem acesso a seus remédios.

Boa parte destes viajantes está "ilhada" em lugares paradisíacos, como praias do Nordeste. Mas, apesar de cercados por lindas paisagens, só pensam em uma coisa: regressar aos seus países para estar perto de seus familiares e amigos.

A seguir, veja como está a realidade de sete turistas estrangeiros isolados no Brasil.

José Aramburu - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
José Aramburu
77 anos, aposentado

País de origem: Argentina
Onde está: Maceió (AL)

Situação atual: junto com sua esposa, chegou ao Brasil de férias no começo de março e deveria ter voltado para a Argentina no último dia 28. Seu voo foi cancelado e, desde então, permanece no hotel onde se hospedou. "Quando nos informaram sobre o cancelamento, ficamos desesperados, porque estou fazendo um tratamento oncológico e meus remédios iriam acabar", conta ele, ressaltando que os medicamentos terminaram no dia 2 de abril e que é impossível consegui-los no Brasil pois são muito caros. "Nosso dia a dia tem sido uma tortura, pois não sabemos o que vai acontecer".

Como está se virando: só estão ele e sua esposa no Maceió Mar Hotel, na orla da capital alagoana. Todos os outros hóspedes já foram embora. A administração do hotel permitiu que continuassem hospedados no local até que a sua situação se resolva. "Se não fosse por esta ajuda, não sei o que seria da nossa vida", afirma.

Chances de retorno: Aramburu está em contato com os serviços consulares da Argentina no Brasil, cobrando um plano que ajude a repatriar os argentinos que estão presos no Nordeste. "Não estou pedindo que me consigam um voo gratuito. Estou disposto a pagar pela passagem. Mas precisamos que encontrem uma maneira de nos levar até a Argentina", reclama.

Juan Pablo - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Juan Pablo Echeverry
35 anos, músico

País de origem: Colômbia
Onde está: pedalando rumo a Brasília

Situação atual: quando as fronteiras internacionais começaram a ser fechadas, estava em uma longa viagem de bicicleta pelo Brasil. "Sou músico e ganhava o dinheiro do meu sustento tocando em bares e restaurantes ao longo do caminho", conta. Mas, com as medidas de isolamento social, o comércio das cidades brasileiras começou a fechar e Echeverry perdeu sua fonte de renda. "Agora, estou sem dinheiro até para comer".

Como está se virando: está pedalando rumo ao Distrito Federal (quando falou com a reportagem de Nossa, encontrava-se em Minas Gerais, a 400 quilômetros da capital). "Em Brasília, quero ver se a embaixada da Colômbia me ajuda na repatriação", diz. Para sobreviver, está pedindo comida nos postos de combustíveis ao longo das estradas. Ele também tem dormido nestes locais, em uma barraca de camping que carrega em sua bicicleta. "Por sorte, são poucas as pessoas aqui no Brasil que me negaram ajuda".

Chances de retorno: Echeverry ainda não sabe quais são suas chances de conseguir um voo de repatriação para a Colômbia. Caso isso não dê certo, ele cogita encarar uma odisseia para ir até a divisa do Brasil com o território colombiano e tentar entrar em seu país pela região fronteiriça.

llaria - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Ilaria Fiorentino
27 anos, profissional de marketing

País de origem: Itália
Onde está: Salvador (BA)

Situação atual: veio ao Brasil para fazer trabalho voluntário e deveria ter retornado à Itália em março. Com o cancelamento de voos, ficou impossibilitada de voltar. Remarcou sua passagem para o começo de abril e até comprou um novo bilhete "pagando uma pequena fortuna", mas tudo foi cancelado. A situação a deixou "um pouco em pânico" e diz que precisa voltar para o seu país.

Como está se virando: encontra-se hospedada na casa de um amigo em Salvador. "Ele está me dando uma grande ajuda. Seria impossível pagar um hotel indefinidamente aqui". Fiorentino, entretanto, afirma estar preocupada com o movimento de pessoas que vê nas ruas. "Não parece haver quarentena. Há muitas aglomerações durante todo o tempo. A questão da saúde me preocupa, pois meu seguro está expirado e ouvi dizer que, aqui no Brasil, o sistema público de saúde não é muito organizado".

Chances de retorno: no dia 11 de abril, a embaixada italiana em Brasília publicou um aviso pedindo que seus cidadãos no Brasil voltem para a Itália "o quanto antes". Assim como outros italianos ouvidos por Nossa, Fiorentino diz que as passagens que restam estão com preços proibitivos. "Além disso, há o risco de que eu vá até São Paulo e o voo seja cancelado". Hoje, muitos italianos presos no Brasil pedem que seu governo organize voos especiais de repatriação para levá-los de volta para casa. A embaixada italiana em Brasília, porém, informa que ainda não há previsão para a realização deste tipo de voos.

Darwin Mauricio Vargas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Darwin Mauricio Vargas
30 anos, engenheiro de telecomunicações

País de origem: Equador
Onde está: Pelotas (RS)

Situação atual: estava em uma jornada de moto pelo Brasil quando começou o fechamento de fronteiras. Seu plano era ir até o Uruguai e, de lá, continuar por outros países da América do Sul. A crise paralisou sua viagem e o deixou "ilhado". Vargas vê com preocupação a disseminação do coronavírus no Equador, principalmente na cidade de Guayaquil, gravemente afetada pela covid-19. Sua família não vive ali, mas ele quer regressar para seu país para estar junto com seus parentes. "Preocupo-me muito com eles", diz.

Como está se virando: encontra-se hospedado na casa de um amigo motociclista. "No meu dia a dia, estou aproveitando para aperfeiçoar o português e aprender receitas da culinária brasileira. E também estou preparando pratos equatorianos para eles. Temos muitas interações culturais", conta.

Chances de retorno: o coronavírus fez com que repensasse seus planos de viagem e começasse a cogitar voltar para o Equador. "Mas, infelizmente, o meu país não faz fronteira com o Brasil". Com as fronteiras reabertas, pensa em ir de moto até o Peru, cruzar o país andino e ingressar no Equador.

Claudia Campana - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Claudia Campana
28 anos, audiologista

País de origem: Itália
Onde está: São Miguel do Gostoso (RN)

Situação atual: veio ao Brasil para fazer turismo e deveria ter voltado à Itália no dia 21 de março. O cancelamento dos voos a deixou impossibilitada de retornar. No momento, está em uma residência alugada. "Temos que deixar a casa no dia 23 de abril, mas é possível alugar outras casas ou pousadas, pois todas estão fechadas", relata, dizendo que não sabe para onde vai depois. "E também há o medo com a saúde, pois estou sem seguro viagem. Então, imagine como estou me sentindo".

Como está se virando: Claudia veio com seu namorado e conta que os dois têm se ajudado na hora de lidar com este momento de incertezas. Sai da casa apenas para fazer compras, mas a preocupação é constante: "à noite, não durmo, pois fico ansiosa para receber notícias positivas da minha embaixada".

Chances de retorno: os preços das passagens aéreas estão proibitivos para ela. Claudia tem cobrado do governo italiano a realização de voos de repatriação. Ao ser questionada se não tem medo de voltar para a Itália, um dos países mais afetados pelo coronavírus no mundo, ela diz que prefere regressar a ficar no Brasil, pois aqui o dinheiro pode acabar.

Mayran - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Mayan Benedicto
29 anos, profissional de marketing

País de origem: Filipinas
Onde está: Itacaré (BA)

Situação atual: está realizando uma viagem por diversos países e ficou "ilhada" quando chegou a Itacaré, no litoral baiano, em março. "Todo mundo começou a ficar com medo do vírus. As pousadas começaram a fechar e tudo me deixou muito preocupada", conta. Ela conseguiu permanecer hospedada em um hostel, mas, com o passar dos dias, os donos ficaram receosos e estressados com a presença de hóspedes, pois, segundo Mayan, "eles achavam que não estávamos tomando cuidado suficiente, apesar da nossa enorme cautela". Ela resolveu sair do hostel em um momento que classifica como "extremamente difícil". "Tive um ataque de pânico, pois não sabia para onde ir".

Como está se virando: Mayan conseguiu alugar um imóvel em Itacaré, onde tem trabalhado em seu computador e se alimentado com "comida saudável", para aumentar a imunidade contra um eventual contágio de covid-19. Ela permanece na casa o máximo de tempo possível.

Chances de retorno: por enquanto, pretende ficar em Itacaré. "Eu teria receio de pegar um avião neste momento e correr o risco de ser contagiada com o vírus. Adoraria continuar viajando, mas vou esperar para ver como as coisas evoluem".

Graeme - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal
Graeme Slater
36 anos, profissional de educação

País de origem: Inglaterra
Onde está: Cotia (SP)

Situação atual: está no Brasil com sua esposa brasileira e o filho, de sete meses, desde o começo do ano. "Há cerca de duas semanas, nossa passagem foi cancelada. Estamos seguros na casa da família da minha esposa, mas não temos ideia de quando conseguiremos voltar para a Inglaterra", diz Slater. Segundo ele, o consulado britânico está aconselhando que seus cidadãos saiam do Brasil. Slater, entretanto, afirma ter medo de entrar em um avião neste momento com sua família por causa dos riscos envolvidos na viagem.

Como está se virando: além de estar abrigado em um lar familiar, Slater tem conseguindo trabalhar desde seu computador. Ele também está tomando o máximo de cuidado com sua saúde e a de sua família, ficando em casa "sete dias por semana". "Agora, seria um péssimo momento para ir parar no hospital por qualquer razão", avalia.

Chances de retorno: "Minha esposa e eu decidimos aceitar que vamos ficar no Brasil por pelo menos mais um mês", conta. Entretanto, tem dúvidas sobre quando será seguro voar novamente. "É capaz que a gente fique aqui até junho ou julho".