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Coluna do Veterinário

Castração de pets antes da puberdade nem sempre é a ideal. Saiba mais

Getty Images/iStockphoto
Imagem: Getty Images/iStockphoto

Colaboração para Nossa, em Murcia (ESP)

21/01/2021 04h00

A castração de cães e gatos é indicada por várias razões, que vão muito além do óbvio controle populacional. O procedimento também ajuda no controle da agressividade e elimina o comportamento de cio, que pode ser um problema e gerar muita dor de cabeça para donos de gatas.

Animais castrados também brigam e fogem menos do que os não castrados. Quando falamos em termos de saúde dos animais, já se sabe há muito tempo que a castração ajuda a evitar infecções de útero e tumores de mama nas fêmeas e de próstata e testiculares nos machos.

Por esses motivos, o procedimento antes da puberdade é recomendado em muitos lugares, já que nas fêmeas praticamente elimina as possibilidades de câncer de mama quando realizada antes do primeiro cio. Nos machos, a operação nos primeiros meses de vida pode diminuir alguns comportamentos indesejados, como o de levantar as patas ao urinar, marcar território e a agressividade.

Cedo demais?

Porém, o que se começou a notar nesses animais castrados neste período? No caso das fêmeas, uma alteração muito importante é a incontinência urinária. Além disso, a ausência de hormônios faz com que não haja o desenvolvimento completo dos órgãos genitais. Por esse motivo, acredita-se que cães e gatos castrados muito jovens estão mais predispostos à obstrução de vias urinárias.

Nas fêmeas de raças caninas com excesso de pele, como as buldogues, esse menor desenvolvimento genital também pode causar problemas na pele da região, já que ela envolve a vulva, gerando acúmulo de urina e sujeira.

Por último, sabemos também que animais castrados têm uma propensão ao ganho de peso.

Outros riscos

Além desses problemas mais conhecidos, nos últimos anos uma série de estudos passou a ser publicada avaliando a presença de determinadas doenças em diferentes raças de cães. Observou-se que, em muitas delas, a castração nos primeiros meses de vida aumentou o risco de vários outros tipos de câncer e também de doenças ósseas e articulares.

Ao observar os estudos, notamos que estes problemas decorrentes da castração ocorreram, principalmente, em animais de porte grande, como rottweiler e golden retriever. Nessa última raça, por exemplo, um estudo retrospectivo realizado com mais de mil animais demonstrou que a castração aumentou a incidência de três tipos de câncer e alterações articulares, como displasia coxofemoral e ruptura de ligamento cruzado.

Nas fêmeas castradas antes dos 6 meses, esses aumentos foram de três a quatro vezes para os cânceres e de quatro a cinco vezes para as doenças articulares. Porém, os problemas não são exclusivos das raças grandes.

Um estudo realizado com daschunds — o popular salsicha — demonstrou que a castração antes dos 12 meses de vida aumentou a probabilidade de o animal apresentar hérnias de disco, um problema muito comum na raça, quando comparado aos animais castrados depois dos 12 meses.

O tempo certo

Ainda temos muito o que estudar com relação a esse tema, mas, com base nesses estudos recentes, um grupo de pesquisadores da universidade da Califórnia publicou no ano passado sugestões do período ideal de castração para diversas raças de cães e também para vira-latas de diferentes tamanhos.

De maneira geral, mas com algumas exceções, observamos nesses guias que animais de porte menor devem ser castrados mais cedo, enquanto nos maiores deve-se esperar a idade adulta"

Esses períodos ideais levam em consideração o risco que o animal tem de apresentar problemas decorrentes da castração ou da não castração, já que a chance de desenvolvimento de câncer de mama, por exemplo, também varia de acordo com as raças.

Entre os gatos, sabe-se também que a castração evita os mesmos problemas que ocorrem entre os cães e que também pode gerar efeitos indesejados. Apesar disso, não existem tantos estudos como em cachorros, e as recomendações existentes hoje são para castrá-los.

De maneira geral, a federação europeia de veterinários recomenda castrar entre os dois e quatro meses animais de rua ou com acesso à rua; e a partir dos quatro meses os que vivem dentro de casa, sem contato com outros indivíduos não castrados.

Saúde pública

Este é um assunto muito complexo, que vai além da questão da saúde individual de cada animal e reflete na saúde populacional dos cães e gatos e também na saúde pública.

A população de cães e gatos de rua nas cidades brasileiras é gigantesca, e esses animais, além de sofrerem com o abandono, também podem transmitir diversas doenças para os animais domesticados e também para nós.

Desse modo, defender a castração tardia de cães e gatos em uma situação como a que encontramos pode parecer um pouco irresponsável. Entretanto, é possível que cada veterinário e dono façam uma ponderação do que é melhor ou pior para cada indivíduo.

Se o animal tem donos que compreendem as questões de posse responsável, se os pets não saem a rua e não têm contato livre com outros animais, as recomendações de castração devem, sim, seguir as indicações mais recentes que existem, pensando na saúde daquele indivíduo.

Já quando se fala de adoção, de animais resgatados e de animais com acesso à rua, de fato o bem coletivo deve se sobressair sobre o individual, e a castração deve ser recomendada o quanto antes para todos os animais"

O mais importante é sempre avaliar cada situação individualmente e, em posse de todas as informações, decidir junto com o veterinário, de maneira responsável, o que é melhor para o cão ou gato. É importante lembrar que os animais, castrados ou não, devem passar sempre por consultas de rotina, de modo a identificar qualquer problema o mais cedo possível.