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Coluna do Veterinário

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Cio de gatas é momento de atenção e cuidado redobrado. Saiba o motivo

Cio das gatas pede atenção maior para doenças, barulho e fugas - Getty Images
Cio das gatas pede atenção maior para doenças, barulho e fugas
Imagem: Getty Images

Colaboração para Nossa, em Murcia (ESP)

06/05/2021 04h00

No último texto, falei um pouco sobre as diferenças entre o ciclo estral das cachorras e gatas e o ciclo menstrual das mulheres. Também descrevi cuidados e aspectos específicos do ciclo reprodutivo das cadelas.

Hoje vou falar especificamente sobre as gatas.

A idade em que as gatas entram no cio varia de acordo com seu tipo. Em geral, as de pelo curto entram no cio mais cedo: ele pode ocorrer a partir dos 4 meses de vida. Já as gatas de pelo longo demoram um pouco mais, até os 12 meses de idade.

Já com relação à frequência com que entram no cio, essa pode ser bem mais irregular do que na espécie canina. A periodicidade do cio das gatas depende de algumas características de cada animal, como ter ovulado ou não (falarei um pouco mais sobre isso abaixo). Porém, também está sujeita a alguns fatores ambientais, como a presença ou não de machos e a estação do ano.

Uma característica da espécie é que o seu ciclo estral é estacional: elas ciclam quando há mais horas de luz no dia. Essa é uma particularidade que tem maior importância em locais de maior latitude. Em nosso país, no entanto, devido à proximidade da linha do Equador, esse é um fator menos importante, e elas podem entrar no cio em qualquer mês.

Características do cio

Uma diferença importante entre elas e as cachorras é que as gatas geralmente não apresentam o sangramento do início do período de cio, o proestro. Embora possam ter outras alterações, como o aumento da vulva, as principais mudanças observadas durante o período são as comportamentais.

Durante o cio, elas ficam mais carentes e carinhosas. Você vai reparar, por exemplo, que elas passam a se roçar mais nas suas pernas e nos móveis. Além disso, podem adotar posturas de cópula, como levantar a traseira e colocar a cauda de lado.

Porém, o grande marco desses dias são os comportamentos indesejados. Nesse momento, as gatas estão procurando por um parceiro para se reproduzir. Dessa maneira, irão fazer de tudo para serem encontradas. Para isso, urinam em locais impróprios, espalhando o seu odor, e vocalizam mais que o normal. Para atrair parceiros, as gatas no cio costumam miar alto, principalmente à noite, e isso muitas vezes incomoda bastante donos e vizinhos.

Um grande risco durante o cio são as fugas. Na busca por parceiros, elas saem mais para a rua. Mesmo as gatas mais caseiras podem buscar modos de fugir de casa, por frestas em janelas, escalando muros ou passando por portas abertas. Portanto, nesse momento é importante ter cuidado redobrado, de maneira a evitar essas fugas, que podem resultar em prenhez indesejada e acidentes.

A irregularidade que eu mencionei acima sobre o cio da gata se deve em parte a uma característica da espécie. Nelas, a ovulação geralmente só ocorre quando estimulada pelo macho. Ou seja, se não houver o contato sexual, a maioria das gatas entrará no cio, com todas as alterações comportamentais relacionadas, mas não terá uma ovulação. Isso leva a duas consequências práticas, uma boa e outra ruim.

A boa é que, se não ovulam, as gatas também não entram em diestro, o período do ciclo que vem imediatamente depois do cio. Esse período é caracterizado por níveis mais altos de progesterona, um hormônio que é um fator importante no aparecimento de alguns tumores de mama e na infecção de útero, a piometra. Esse é um dos motivos que faz com que essas doenças sejam menos comuns nelas do que nas cadelas.

Por outro lado, ao não entrar no diestro, as gatas entram em interestro, que é uma pausa menor entre cios. O resultado? Elas podem voltar a entrar no cio em alguns dias, principalmente quando há a presença de machos na vizinhança. Algumas delas praticamente emendam um no outro, levando os donos à loucura.

Cuidados

Um dos principais cuidados com as gatas durante o cio é evitar o contato com machos, para prevenir uma prenhez indesejada. Como mencionado acima, também se deve redobrar os cuidados para evitar as fugas.

Para elas, o que não fazer nesse momento talvez seja o mais importante. Ao longo de minha vida profissional, perdi as contas de quantas vezes atendi gatas que receberam pílulas anticoncepcionais para evitar o cio. Os remédios anticoncepcionais humanos, que têm efeito similar ao da progesterona, não são indicados para o tratamento das gatas.

Um pouco acima eu falei sobre a vantagem das gatas em ter menos progesterona circulante. Pois então, a partir do momento em que os hormônios similares a ela são administrados, essa vantagem some, e aumenta-se muito o risco do aparecimento de cânceres de mama e de infecção uterina. Além disso, elas também podem apresentar hiperplasia mamária (um crescimento anormal das mamas), que pode ser tão exagerado que gera necrose e necessita de cirurgia de mastectomia radical.

Também vi muitos animais com infecções de útero graves, que receberam hormônios abortivos após estarem no cio e escaparem. O uso desses medicamentos também aumenta muito a chance do aparecimento dessa doença.

Embora bem menos comuns do que nas cadelas, a piometra e os tumores de mama também podem afetar gatas que não tenham recebido nenhum hormônio. Portanto, é necessário estar atento aos sintomas.

A piometra pode ocorrer geralmente após um cio com ovulação em que não há prenhez (algumas gatas fogem a regra e podem ovular mesmo sem contato com um macho). Então, nas semanas seguintes ao cio, sintomas como apatia, vômitos, diarreia e aumento abdominal podem indicar a doença. A presença de secreção vaginal purulenta é observada nas piometras "abertas", porém nas "fechadas", pode não ocorrer.

Já os tumores de mama, em geral, ocorrem em gatas mais velhas não castradas. Nelas é necessário fazer a palpação da região das mamas frequentemente, buscando pela presença de nódulos.

Embora existam tratamentos hormonais para controle de ciclo estral nas gatas, eles só devem ser prescritos em situações muito específicas, e sempre por um veterinário.

E o mais importante: a maneira mais segura e efetiva de evitar o cio (e as alterações de comportamento que ele traz), prenhez indesejada, piometra e tumores de mama é com a castração.