Há vida sem Endrick?

Jovem conquista último título no Palmeiras e está próximo de se transferir para o Real Madrid. E agora?

Flavio Latif Do UOL, em São Paulo Ettore Chiereguini/AGIF

Endrick encaminha seu adeus ao Palmeiras como sonhou. A criança que chegou ao Alviverde em 2016, com apenas 11 anos, se tornou um jovem talentoso que está pronto para voar e brilhar pelo Real Madrid após conquistar mais um título com seu clube do coração: o Paulistão 2024.

Negociado por 72 milhões de euros (cerca de R$ 409 milhões na cotação da época), Endrick se consolida como o principal talento do atual elenco comandado por Abel Ferreira.

O atacante estreou em outubro de 2022 e conquistou cinco títulos com o time profissional: Campeonato Brasileiro (2022 e 2023), Supercopa do Brasil (2023) e Campeonato Paulista (2023 e 2024). Ele foi decisivo na reta final do Brasileirão do ano passado, ao ser protagonista na retomada histórica, e também este ano, ao marcar o gol contra o Novorizontino que colocou o Palmeiras na final do Paulistão.

Na final, sofreu o pênalti que resultou no gol de Raphael Veiga, o primeiro da vitória por 2 a 0 sobre o Santos. E, mesmo no sacrifício por conta de uma lesão na coxa direita, roubou uma bola que iniciou a jogada do segundo gol.

Endrick já tem data para se despedir do Palmeiras: o jovem passará a integrar o bilionário elenco merengue a partir do segundo semestre deste ano. E a saída pode acontecer ainda antes caso ele seja convocado para a disputa da Copa América com a seleção brasileira.

E a dúvida que fica na cabeça do palmeirense é: há vida sem Endrick?

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Ettore Chiereguini/AGIF

Quando eu estava na seleção, percebi que a ficha estava caindo. Eu estava com Rodrygo e Vini sempre falando: 'Quando você vem?'. Paquetá, Bruno Guimarães, sempre falando isso. E começou a cair a ficha. Eu sei que vou sair, não vou falar que ficarei pra sempre. Mas minha cabeça está sempre aqui. Tenho mais três meses. Não sei se vou estar vivo amanhã, vivo um dia de cada vez. Só penso no Palmeiras, vou me tratar pra jogar na Libertadores e no Brasileirão.

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Endrick, atacante do Palmeiras

Ettore Chiereguini/Agif

Estrela brilhou na hora certa

Endrick perdeu o início da temporada por estar com a seleção pré-olímpica em busca da vaga nas Olimpíadas de Paris — que não se concretizou. Enquanto isso, ele desfalcou o Palmeiras na Supercopa do Brasil contra o São Paulo e viu de longe o Alviverde ser derrotado pelo rival paulista na primeira decisão da temporada.

O atacante se reapresentou antes do prazo e rapidamente voltou ao time titular, mas com desempenho pouco abaixo do apresentado na reta final da última temporada.

Endrick fez apenas dois gols neste Paulistão, mas que certamente ficarão na memória do torcedor quando ele se despedir. Ele balançou a rede contra o Corinthians, na Arena Barueri, e contra o Novorizontino, na semifinal, garantindo a vaga da equipe alviverde na decisão contra o Santos.

O segundo jogo da final, em si, teve um sabor diferente. Uma sensação, que segundo Endrick, remetia ao passado. A emoção veio:

Parecia que era meu primeiro jogo, minha primeira final. Na oração, eu comecei a chorar e agradecer a Deus porque isso aqui foi tudo que aconteceu minha vida. Mudou minha carreira, minha vida, a vida da minha família. Eu fico grato e lisonjeado de fazer parte disso aqui. Eu não tenho palavras para descrever. Foi meu último campeonato completo.

Mas até Endrick voltar ao time de forma consistente nesta edição do Paulistão, quem vinha liderando o Palmeiras na boa campanha no Paulistão era outro atacante.

Marcello Zambrana/AGIF

Palmeiras lapida Flaco López e é recompensado

Abel Ferreira precisou testar opções para atingir um feito que não acontecia há 90 anos: o terceiro título estadual consecutivo, conquistado pelo então Palestra Itália em 1934.

Sem Endrick e com poucas opções de atacantes que atuam pelos lados do campo, Abel manteve o sistema com três zagueiros que implementou após perder Dudu e tinha o ataque formado por Breno Lopes e Endrick.

O primeiro a ser testado foi Rony, que tem características parecidas com Endrick, mas quem se firmou mesmo foi Flaco López, um atacante menos móvel e que mudava o estilo ofensivo da equipe.

O Palmeiras fez um trabalho específico com Flaco López após perceber problemas de adaptação ao futebol brasileiro. O departamento de nutrição percebeu que o atacante tinha "medo de comer" e acabou perdendo mais de três quilos após sua chegada ao país. Após mudanças em sua alimentação e rotina de treinos, Flaco ganhou quatro quilos, passou a se sentir menos desgastado após os jogos e tem conseguido atuar por mais tempo.

No início da temporada, Racing e River Plate tentaram contratar o argentino, mas Palmeiras e Abel vetaram a saída. A promessa era que o jogador seria muito importante em 2024, ainda mais com a saída de Endrick para o Real Madrid.

E a avaliação foi correta: Flaco é o artilheiro da equipe na temporada e do Campeonato Paulista (com 10 gols) e a principal esperança para o ataque para a sequência do ano. Na final, não fez gol. Mas deu assistência para o gol de Aníbal Moreno, que sacramentou a virada no placar agregado contra o Santos.

Acho que estive preparado para as oportunidades que apareceram para mim. Estou feliz pelo sucesso desse grupo do Palmeiras. Essa torcida aqui é incrível. Eu me senti muito importante nesse Paulistão. Abel planejou muito bem as coisas. Estou muito feliz e grato a ele por me ter preparado bem para me tornar o jogador que estou sendo no Palmeiras.

Flaco López, atacante do Palmeiras

Os gols do Palmeiras na final

A opinião dos colunistas

Uol

Abel sai da rotina e vê Endrick, sempre ele, definir o título

O Palmeiras ser campeão sob o comando de Abel Ferreira não é mais novidade. Mas o português deixar de lado algumas convicções para buscar o resultado pode ser a notícia da vez na vitória por 2 a 0 em cima do Santos que garantiu o tricampeonato do Paulista consecutivo.

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UOL

A estrela óbvia brilha sobre o Santos e o Palmeiras é campeão

O Palmeiras conquistou seu primeiro tri paulista em 90 anos. Abel Ferreira, o seu décimo título pelo clube, garantindo que ? de novo ? terminará a temporada com pelo menos um caneco na prateleira. O último caneco da maior Cria já gestada pela Academia.

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Keiny Andrade/UOL

Endrick comanda a festa do tri do Palmeiras

Endrick teve participação nos dois gols e fez jogadas de arrepiar, mesmo sem estar com 100% das condições físicas. O atacante de 17 anos foi o protagonista da conquista do Palmeiras diante do Santos. E olha que o empate bastava para o time visitante, que venceu na ida por 1 a 0.

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Ettore Chiereguini/AGIF

Aníbal Moreno chega e resolve

A obsessão pelo atleta valeu a pena. A contratação mais cara da atual temporada chegou ao clube, vestiu a camisa e virou titular absoluta de Abel. O gol do título confirma a percepção anterior à final de que Aníbal Moreno tem muito a acrescentar a esse time.

O argentino é o único jogador que atuou em todos os jogos da equipe no Paulistão, seu estilo aguerrido conquistou a torcida palmeirense e solucionou um problema antigo no meio-campo.

O Palmeiras queria Aníbal Moreno desde o ano passado para a disputa da fase mata-mata da Copa Libertadores. O Racing, também na competição, pediu uma quantia que o Alviverde se recusou a pagar.

Meses depois, com ambos eliminados, o Alviverde anunciou a contratação do meio-campista por 7 milhões de dólares (cerca de R$ 35 milhões na cotação atual) de forma parcelada ao Racing, com mais 1 milhão de dólares (R$ 5 milhões) por metas a serem cumpridas pelo jogador com a camisa alviverde.

"A qualidade paga-se, não há outra forma. O Aníbal foi um reforço que, infelizmente, o clube não conseguiu trazer mais cedo com a saída do Danilo. Chegou quando tinha que chegar e estou muito grato, ao lado da torcida, pelo esforço que a diretoria fez", elogiou Abel Ferreira.

Marcello Zambrana/AGIF

Luan 'renasce', e zaga sobrevive sem Gustavo Gómez

Gustavo Gómez, capitão do time e um dos líderes do elenco, sofreu fratura no dedo do pé na nona rodada do Paulistão, no dia 18 de fevereiro. Dos 16 jogos do torneio, o paraguaio esteve em campo em apenas sete.

O paraguaio sempre foi considerado o pilar da defesa alviverde que conquistou diversos títulos nos últimos anos mesmo com altos e baixos, e chegou a causar preocupação perdê-lo quando os milhões do futebol árabe procuraram seu futebol.

No entanto, a lesão abriu espaço para o "renascimento" de Luan, que aproveitou a oportunidade e, ao lado de Murilo e Marcos Rocha, se firmou entre os titulares da segunda melhor defesa do Paulistão, com apenas 11 gols sofridos em 15 partidas. A defesa do São Bernardo levou 9 gols, mas fez 12 partidas.

Gómez já poderia ter retornado ao time titular desde a semi do Paulistão, mas Abel preferiu manter o trio que vinha atuando e tendo bom desempenho.

O defensor voltou a ser utilizado contra o San Lorenzo pela Libertadores, quando Abel poupou todos os titulares e escalou um time alternativo de olho na final contra o Santos, voltou a integrar os titulares na final contra o Santos e foi substituído aos 24 minutos do segundo tempo, quando o Palmeiras já vencia por 2 a 0.

O goleiro Weverton também foi fundamental para o título, apesar da oscilação durante o campeonato. Ele chegou a ser xingado pela torcida após falha contra o Corinthians, mas se recuperou na temporada.

Ettore Chiereguini/AGIF Ettore Chiereguini/AGIF
Ettore Chiereguini/AGIF

Abel encontra soluções e se torna mais vitorioso do Palmeiras

É comum ouvir Abel avisar que o Palmeiras "não vai vencer sempre", mas se tem uma coisa que o português se acostumou a fazer desde que atravessou o Atlântico é levantar troféus.

O treinador português mais uma vez apostou no trabalho do dia a dia para traçar diferentes táticas, minimizar as ausências por convocações ou lesões e apostou na força do coletivo para conquistar seu décimo caneco pelo Alviverde.

O treinador agora divide o posto de maior vencedor da história alviverde com outro gigante — e também líder de Academia — Oswaldo Brandão. O treinador comandou a Segunda Academia do Palmeiras (1972 a 1974), cuja escalação até hoje soa como música para os torcedores: Leão, Eurico, Luís Pereira, Alfredo e Zeca; Dudu e Ademir da Guia; Edu, Leivinha, César e Nei. Brandão também ostenta a marca de maior número de jogos (562) e vitórias (327) no comando alviverde.

Abel, por outro lado, chegou como um desconhecido, mas conquistou os torcedores pela "cabeça fria e coração quente". Com nomes menos estrelados do que os de Brandão, ele forjou a Terceira Academia à base do "todos somos um" e conseguiu — ao contrário do antecessor — dez taças em uma única passagem. O português ainda tem o tempo a seu favor e pode, até o fim de 2025, quando acaba seu contrato, se isolar na primeira colocação.

Os títulos de Abel Ferreira

Copa Libertadores da América: 2020 e 2021

Copa do Brasil: 2020

Recopa Sul-Americana: 2022

Campeonato Paulista: 2022, 2023 e 2024

Campeonato Brasileiro: 2022 e 2023

Supercopa do Brasil: 2023

Quanto mais ganhamos, mais perto estamos de perder. Esta é a verdade. Quanto mais ganhas, mais responsabilidades. Mais vão dizer que somos favoritos. Temos que dar o nosso melhor para continuar a ganhar. Nossos torcedores têm muito carinho por nós, mas só aceitam quando ganhamos.

Abel Ferreira, técnico do Palmeiras

Ettore Chiereguini/AGIF

O futuro está em casa

Leila Pereira, presidente do Palmeiras, afirmou que o time não precisa de um substituto para Endrick e classificou o elenco como fechado. Mas disse que vai ouvir Abel após o Paulistão.

"Acho que não precisamos [de substituto para o Endrick], mas sempre ouço minha comissão técnica e meu diretor de futebol. Para mim, nosso time está completo, mas se encontrarmos alguém que venha colaborar para que nosso time fique cada vez mais forte, estamos de portas abertas. Pela presidente, não tem necessidade nenhuma", declarou, em entrevista à TNT durante a fase de mata-mata do Paulista.

No mesmo dia, Abel reforçou o discurso e avisou que o Palmeiras não faria mais contratações.

"Já disse também para [a torcida] esquecer porque não vamos contratar mais ninguém. Vamos esperar por ele (Rômulo), que vai chegar em um time competitivo e vai ter que trabalhar muito para, primeiro, entrar [ao longo dos jogos] e depois ser titular."

Isso porque o Palmeiras tem em seu elenco dois jogadores que são muitos jovens e o clube espera muito: Estevão (16 anos) e Luis Guilherme (18 anos). Eles já foram sondados por clubes do futebol europeu, mas ainda não justificaram a grande expectativa desde que subiram ao time profissional.

Dentro do clube, ambos têm altas expectativas de resultado dentro de campo e nas cifras. O Palmeiras acredita que pode vendê-los por valores similares aos que Endrick foi negociado com o Real Madrid.

Enquanto os "novos Endricks" não decolam, a torcida curte "a última dança" do jovem mais talentoso revelado pelo clube na última década. Mas vai ser difícil achar substituto, porque qualidade igual a dele é difícil de achar. Se não aparecer outro Endrick, Abel Ferreira é o técnico certo para achar soluções coletivas que compensem — ou minimizem — a saudade.

É um orgulho imenso trabalhar com esse grupo. Isso comprova nosso profissionalismo, seriedade. O Palmeiras sempre entra para ser vencedor. Nosso segredo é valorizar os nossos atletas, dar tranquilidade para eles trabalharem. É isso que eles precisam. Esse é meu trabalho e vamos continuar assim.

Leila Pereira, presidente do Palmeiras

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