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Paulinho pede fim da desigualdade e fala sobre sonho olímpico: 'Que Exu nos ilumine'

Paulinho, atacante da seleção olímpica, durante treino no CT do Palmeiras - Marco Galvão/CBF
Paulinho, atacante da seleção olímpica, durante treino no CT do Palmeiras Imagem: Marco Galvão/CBF

20/07/2021 15h01

O atacante Paulinho fez uma forte reflexão sobre estar às vésperas de disputar as Olimpíadas de Tóquio com a camisa da seleção brasileira. Em carta publicada no "The Player's Tribune", o jogador de 21 anos fez um forte desabafo sobre as desigualdades sociais que assolam o Brasil, criticou as condutas do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e destacou que o bicampeonato olímpico pode ser um alento para um país que lida com a pandemia de covid-19.

"Rezo todos os dias para que Exu ilumine o Brasil e os nossos caminhos. Que os orixás nos deem forças pra buscar essa medalha de ouro. O brilho dela seria um alento para o povo brasileiro após tantos meses de caos no país", disse.

"Se sou crítico do atual governo, é porque eu confio na ciência. Todo mundo enxerga o que se passa durante esse um ano e meio de pandemia, todo o descaso com a saúde. Mesmo vivendo em outro continente, tenho pessoas queridas que moram no Brasil. Elas precisam de segurança, de amparo, de vacinas. Depois que me mudei para a Alemanha, eu descobri que o nosso país ainda pode melhorar em inúmeros aspectos."

"'Ah, tá com a vida ganha...', Isso é o que muitos dizem sempre que eu manifesto alguma opinião sobre política. Não importa se sou um jogador de futebol que atua no exterior. Nada a ver com dinheiro ou patriotismo. Eu faço parte da sociedade. Continuo sendo um cidadão brasileiro, que se emociona ao ouvir o hino nacional".

O atacante também fez questão de falar sobre sua forte ligação com o candomblé e pontuou que este é apenas mais um motivo de discriminação no país.

"Religião, não. Prefiro chamar de filosofia de vida. Uma coisa bem pessoal, que toca o meu coração. Sou eu comigo mesmo, entende? Cultuar essa filosofia me traz muita energia boa, muito axé. Como assentado e praticante, vou ao meu pai de santo sempre que estou no Brasil e peço proteção aos orixás, principalmente ao meu Pai Oxóssi e à minha Mãe Iemanjá. Laroyé", disse.

"Por tudo que nosso país já sofreu, temos não só o preconceito com religiões de matriz africana, mas também de outras naturezas, como de raça, gênero e orientação sexual. Como uma pessoa que tem voz, eu não posso me dar o direito de permanecer calado. De não me posicionar diante de preconceitos e negligências".

O atacante também frisou seu desabafo para lutar contra a discriminação.

"Hoje, milhares de pessoas me seguem nas redes sociais. Algumas delas me têm como exemplo. Enfim, sou uma pessoa que tem voz. Justamente por isso, quero que essa corrente de luta contra a discriminação siga se alongando. Não interessa a crença. Cada um pode manifestar sua fé do jeito que bem entender.

Além disto, falou sobre a relevância do esporte para fortalecer a população.

"O esporte me ensinou que, se a gente se unir, nos fortalecemos. Sei da responsabilidade que é representar uma nação gigante. Me sinto muito honrado, desde que cheguei na seleção de base, aos 14 anos. Eu passei por todas as categorias, sei do que estou falando. Posso me considerar um veterano com a amarelinha".

Aos seus olhos, disputar os Jogos Olímpicos é um privilégio.

"Olho para o escudo e vejo cinco estrelas. São cinco Copas do Mundo. É uma camisa pesada. Quem nunca experimentou o sentimento de vesti-la, jamais poderá imaginar o que significa disputar uma Olimpíada".