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Fritura, anúncio de madrugada e 'atraso': as demissões tortuosas do Fla

Marcos Braz (vice de futebol), Paulo Sousa, Rodolfo Landim (presidente do Fla) e Bruno Spindel (gerente de futebol) - Divulgação / Flamengo
Marcos Braz (vice de futebol), Paulo Sousa, Rodolfo Landim (presidente do Fla) e Bruno Spindel (gerente de futebol) Imagem: Divulgação / Flamengo

Alexandre Araújo e Letícia Marques

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ)

10/06/2022 04h00

Contratações com toda a pompa e demissões com o técnico isolado, em meio a negociações já em andamento. O contraste tem sido uma tônica do Flamengo nos últimos anos.

Ontem (9), enquanto Paulo Sousa e sua comissão comandavam o treino em Atibaia, no interior de São Paulo, a diretoria agilizava, nos bastidores, a chegada de Dorival Júnior, que já até havia se despedido do Ceará.

Durante a gestão de Rodolfo Landim, que iniciou em 2019, o Rubro-Negro tem adotado o 'modus operandi' de só tornar oficial a demissão de um técnico com um plano já bem avançado. Abel Braga, primeiro treinador deste período, também foi o primeiro a sofrer com essa 'estratégia' e, não à toa, optou por entregar o cargo ao saber que a cúpula negociava com Jorge Jesus.

As quedas seguintes mantiveram o cenário de um dia de adeus e as boas-vindas logo depois, às vezes, com diferença de horas.

Domènec Torrent chegou ao clube com a missão de substituir Jorge Jesus, mas em uma passagem cambaleante e recheada de dúvidas, não conquistou a torcida e foi alvo de diversas críticas. Acabou demitido na tarde de 9 de novembro de 2020 e, na manhã seguinte, o Fla anunciou Rogério Ceni.

Domenec Torrent, técnico do Flamengo, durante a partida contra o Goiás - Jorge Rodrigues/AGIF - Jorge Rodrigues/AGIF
Domenec Torrent
Imagem: Jorge Rodrigues/AGIF

Ceni teve passagem pela Gávea com títulos, como o do Brasileiro 2020 e Carioca 2021, mas foi mais um a não ter caminhada muito longa. A permanência já parecia insustentável, com indícios, até mesmo, de um vestiário rachado, quando áudio de um integrante do departamento de futebol vazou e externou atritos nos processos internos.

A diretoria anunciou o adeus de Ceni em postagem nas redes sociais oficiais durante a madrugada. No fim da tarde daquele mesmo dia, divulgou a chegada de Renato Gaúcho.

Ídolo do Grêmio, Renato teve a chegada celebrada e início animador, mas, aos poucos, o trabalho perdeu fôlego e a pressão aumentando. A derrota na final da Libertadores de 2021, para o Palmeiras, foi o estopim, e o próprio treinador, ainda no Uruguai, sabia que seu futuro não seria na Gávea. O adeus foi concretizado dois dias depois, e já em reta final de temporada, Maurício Souza comandou o time nos jogos restantes.

Rogério Ceni conversa com grupo de jogadores do Flamengo em treino no Ninho do Urubu - Alexandre Vidal / Flamengo - Alexandre Vidal / Flamengo
Rogério Ceni
Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

A definição quanto ao futuro de Paulo Sousa foi tomada pela diretoria ainda na noite da última quarta-feira, após a derrota para o Red Bull Bragantino. A pressão já vinha forte há alguns dias e no começo da tarde de ontem, já se sabia que Dorival Júnior havia aceitado a proposta do Rubro-Negro.

Às 16h, como programado, o elenco foi a campo sob o comando da comissão técnica de Paulo Sousa, que chegou ao local acompanhada do diretor executivo Bruno Spindel, que logo depois teve Marcos Braz ao seu lado.

No decorrer do dia, a delegação seguiu o planejamento sem qualquer alteração, mesmo com todas as informações já notórias. Além de Spindel, Marcos Braz, vice de futebol, também acompanha o elenco na estadia em São Paulo. A demissão foi anunciada oficialmente pelo clube apenas à noite.

Renato gaúcho, técnico do Flamengo, em partida contra o Bahia - Alexandre Vidal/CRF - Alexandre Vidal/CRF
Renato Gaúcho
Imagem: Alexandre Vidal/CRF

Bastidores do último dia de Sousa

A delegação seguiu o planejamento sem qualquer alteração, mesmo com todas as informações já notórias. Sendo assim, Paulo Sousa foi comunicado do desligamento somente no início da noite, por volta das 18h, após reunião com Braz e Spindel no hotel.

Mesmo depois do desligamento, o técnico e sua comissão se mantiveram hospedados no hotel e seguiram a rotina. O jantar foi realizado e contou, claro, com a presença dos jogadores.

O clima de despedida já pairava no ambiente desde cedo, no entanto, foi oficializado durante a refeição. Um discurso do treinador, que se encerrou com aplausos. Aos poucos os jogadores foram deixando a sala de jantar, enquanto Sousa se manteve por lá conversando com seus companheiros.

O ambiente tenso traduzia os dias de tensão que já rondavam o Flamengo. Há quem diga que não havia clima para a permanência de Sousa, antes mesmo da viagem para Atibaia. No entanto, a falta de opção para comandar a equipe nos jogos do Brasileirão deram sobrevida ao treinador.

Paulo Sousa em treino chuvoso do Flamengo no Ninho do Urubu - Marcelo Cortes/Flamengo - Marcelo Cortes/Flamengo
Paulo Sousa em treino no Ninho do Urubu
Imagem: Marcelo Cortes/Flamengo

A derrota para o Red Bull Bragantino minou a pouca chance do português permanecer no cargo. Os passos seguintes do clube foram avaliados como 'constrangedores' por uma ala dos bastidores, que discordaram do tratamento com Sousa, fazendo o técnico dar o treinamento, enquanto acertava a contratação de Dorival.

Com a saída de Paulo Sousa, o Flamengo noticiou que Mario Jorge, técnico do sub-20, estaria em Atibaia, onde acontece o próximo treinamento da equipe ainda hoje. A tendência é que o treinador siga viagem para Porto Alegre junto com a delegação, e participe da preparação para enfrentar o Internacional, sábado (11).