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Mattos diz que movimentou R$ 1 bilhão em vendas no Palmeiras e no Cruzeiro

Apresentado no Palmeiras em 2015, Mattos permaneceu no clube até 2019, e contratou 70 atletas - Daniel Vorley/AGIF
Apresentado no Palmeiras em 2015, Mattos permaneceu no clube até 2019, e contratou 70 atletas Imagem: Daniel Vorley/AGIF

Guilherme Piu

Do UOL, em Belo Horizonte

05/10/2021 04h00

Um dos expoentes do Brasil no mercado de executivos do futebol, Alexandre Mattos vive "período sabático" desde que deixou o Atlético-MG, no começo deste ano. De lá para cá, nestes mais de nove meses sem atuar especificamente em um clube, Mattos vivencia experiências profissionais que vão além do dia a dia em uma equipe.

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o executivo abriu o jogo sobre o que pensa para o futuro da carreira e revelou uma conta bilionária: em sete anos, segundo o próprio Mattos, fez girar mais de R$ 1 bilhão em vendas de atletas.

"Tanto no Cruzeiro quanto no Palmeiras, clubes que fiquei mais tempo, deram superávit e muito lucro. Só em venda entre os dois clubes, de 2012 a 2019, foi quase R$ 1 bilhão. Tudo passou, claro, pelo meu telefone, mas não sozinho. Tive ajuda de outras pessoas também", disse.

Somando as aquisições de atletas nos dois Palestras Itália, o mineiro e o paulista, foram 114 contratações — 44 no Cruzeiro e 70 no Palmeiras. No Verdão o trabalho de Alexandre Mattos rende frutos até hoje, e o clube pode ser, quem sabe, bicampeão da Copa Libertadores com um elenco recheado de atletas contratados pelo seu ex-executivo de futebol.

"Contrato, desde que haja necessidade. Vi uma comparação do incomparável em uma rede de televisão. Comparar o incomparável é bisonho. Que o Palmeiras hoje contrata muito pouco. Óbvio que contrata pouco, 95% do elenco já estava fechado. Na final da Libertadores [edição 2020], dos 23 que estavam disponíveis, 21 foram deixados pela minha gestão", pontuou.

Sempre questionado por ser um dirigente que contrata muito, e, consequentemente, aciona os cofres do clubes, Mattos se explica, discordando dos críticos.

"Falar que eu contratei jogador que deu errado, claro, quando você contrata muito tem esse risco. Mas havia a necessidade do momento. Quando você tem que fazer reformulação drástica, você contrata muito. E se contrata muito, erra muito, depois tem que arrumar, depois tem que arrumar de novo, esse é o ponto. Quando eu cheguei ao Palmeiras havia a necessidade de se trocar o elenco. No ano seguinte, reajustar, no terceiro ano, idem. No quarto ano, em 2018, começamos a planejar o futuro, o planejamento de longo prazo", conta, citando que não teve tempo de colher os frutos do "elenco maduro".

"Planejar o futuro? Buscar um [Raphael] Veiga, um [Gustavo] Scarpa, um Emerson Santos, um Matheus Fernandes, um Arthur Cabral. Todos esses viram jogadores para o próprio Palmeiras, Veiga e Scarpa, por exemplo, ou viraram grana, ativo. Matheus Fernandes foi vendido por 8 milhões de euros, o Arthur Cabral por 6 milhões e o Emerson Santos por 1,5 milhão de euros, sendo que chegou de graça. Deram lucro", contabilizou.

Longo Prazo

"O longo prazo [No Palmeiras], eu já não participei, era exatamente absorver tudo o que foi feito. Que era a categoria de base já dando frutos, porque não é da noite para o dia que isso acontece, precisa de quatro, cinco, seis anos, nós praticamente saímos do zero. Um time maduro, o Palmeiras precisou mexer muito nos três primeiros anos, hoje é um time maduro, é referência", afirmou.

Evolução palmeirense em estágios

Podendo dizer que até foi longevo no Palmeiras, Mattos ficou no clube de 2015 a 2019. Neste período, implementou mudanças drásticas no clube que passava por situação complexa e até caótica, de jogadores que deixavam o Verdão em segundo plano em negociações.

"Hoje, você pega o Jorge [lateral], e na hora que o Eduardo Uram [empresário] ligou para o Palmeiras para oferecer o jogador quando o Viña ia sair, o Jorge ficou com um sorriso de orelha a outra, coisa que há poucos anos não era assim. Foi um planejamento de curto, médio e longo prazo. Mas, infelizmente, no futebol brasileiro a gente faz o curto, poucos conseguem continuar para o médio e o longo praticamente ninguém fica. Pelo desgaste político, pelo resultadismo", comentou.

Em bancarrota em 2015, o Palmeiras tinha despesas altas e poucas receitas. Alguns valores ainda a receber já comprometidos, o que atrapalhava ainda mais o trabalho.

"No Palmeiras foi um case de construção. O clube não tinha um centro de excelência, que nós fizemos, estava com a credibilidade no mercado muito abaixo. A categoria de base jamais em toda a história trabalhou com excelência, processos, metodologias, profissionais de primeira linha. Jogadores deixavam o Palmeiras em stand-by, a verdade é essa. Receitas antecipadas, salários atrasados, muita dívida para pagar de [dirigentes] anteriores. O Palmeiras tinha R$ 180 milhões de receitas quando eu cheguei, dessas 75% antecipadas. Quando eu sai, o Palmeiras estava om orçamento de R$ 690 milhões e sem antecipação nenhuma. O Palmeiras só teve superávit", revelou.

Curto prazo

"O que aconteceu no Palmeiras é que foi feito um planejamento estratégico, que todo mundo pede, mas quando alguém faz é criticado, porque não se dá tempo. Foi feito um planejamento estratégico no departamento de futebol por mim em curto, médio e longo prazo. O curto foi aquela de 2015, o Palmeiras precisava de uma cara nova, o torcedor estava com baixa autoestima, Palmeiras tinha que dar um recado para o mercado. Tinha 89 jogadores no departamento de futebol profissional do clube, nós ficamos com sete. Demorei quase dois anos para me desfazer de 82, que estavam lá e não faziam parte do projeto."

Médio prazo

"O de médio prazo foi a reconstrução da Academia de Futebol, foi a tecnologia. Poxa, o Palmeiras não tinha drone, não tinha GPS. Foi a construção do departamento de mercado, da análise de desempenho, que também não tinha. Foi o início da construção da categoria de base, que precisou quebrar muitos paradigmas, ter um choque. Isso foi o médio prazo."

Atlético-MG

"No Atlético-MG foi um case de reconstrução de elenco baseado no [técnico argentino Jorge] Sampaoli. Acho que o maior fator que agreguei foi na retirada de 22 atletas, todos com acordo. Isso dentro da visão do Sampaoli, todo mundo sabe disso. Acho que foi o maior fator preponderante de minha passagem no Atlético-MG, mesmo que curto, mas com um legado que todo mundo está vendo."

Pós Atlético-MG

Depois de lançar um livro — intitulado "Tudo começa com um sonho" e que conta a história de sua carreira —, agora Mattos enveredou pelo mercado de cursos. Em agosto realizou o "Imersão Presencial: Diretor Executivo de Futebol com Alexandre Mattos", curso que contou com a participação de diversos players do mercado futebolístico nacional. Inclusive, grandes nomes do mercado do esporte também estiveram presentes, como por exemplo, o super agente André Cury e João Paulo Sampaio, que trabalha na base palmeirense.

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