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Brasileiro assume a seleção da Tailândia e sonha com Copa do Mundo de 2026

Mano Pölking, treinador brasileiro que comandará a seleção da Tailândia de futebol - Reprodução/Instagram
Mano Pölking, treinador brasileiro que comandará a seleção da Tailândia de futebol Imagem: Reprodução/Instagram

Marinho Saldanha

Do UOL, em Porto Alegre

01/10/2021 04h00

O técnico brasileiro Mano Pölking é o novo treinador da seleção da Tailândia. Anunciado no início da semana, o gaúcho de Montenegro se prepara para sua primeira oportunidade no comando de uma seleção, já tem campeonato a disputar em dezembro e inicia um projeto que mira classificação para a Copa do Mundo de 2026.

"Nosso grande sonho é conquistar uma vaga na Copa do Mundo de 2026. Porque é a primeira Copa em que terá mais vagas, mais seleções. No Qatar, no ano que vem, serão 32 seleções. Na próxima serão 48, nos Estados Unidos. Isso aumenta a chance de classificação. As vagas asiáticas, hoje, são quase impossíveis para os países do Sul. Hoje são quatro, têm Japão, Coreia do Sul, Austrália... Passarão a ser sete, com uma oitava para repescagem", disse em entrevista ao UOL Esporte.

A repercussão da contratação chamou atenção do técnico de 45 anos. Mano recebeu mais de mil mensagens no telefone e pedidos de entrevista dos mais diversos lugares.

"Eu não esperava uma repercussão tão grande. BBC da Inglaterra, Sky da Austrália, todos querendo saber a história. Eu não esperava que uma seleção me colocasse assim. Recebi mais de mil mensagens no telefone, uma coisa absurda. Estou focado e trabalhando já faz alguns dias. Estou esperando os papéis do visto, mas estou contratado, fui anunciado, já estou em contato com alguns clubes, conheço todos os jogadores, muitos trabalharam comigo e devem ser chamados. Em dezembro temos nossa primeira competição", contou.

Inserido no "projeto Copa do Mundo" está o primeiro desafio para o brasileiro. Em dezembro, a Tailândia entra como uma das seleções favoritas ao título da Copa Suzuki, que reúne 10 seleções do sul da Ásia. O principal rival será o Vietnã.

"Temos que conquistar a Copa Suzuki, a Tailândia é um dos favoritos. O Vietnã ganhou a última, as duas anteriores a Tailândia venceu. Isso já seria muito importante na minha carreira e no objetivo de seguir na seleção", completou o treinador que contou um pouco de sua história ao UOL Esporte no ano passado.

Carreira fora do país

Mano Pölking, técnico brasileiro que assumiu a seleção da Tailândia - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

A trajetória de Alexandre Pölkington, que carrega o apelido de Mano desde a infância, no futebol é longa e toda construída longe do Brasil. Ele foi jogador apenas em clubes menores no Rio Grande do Sul até tentar a sorte em Portugal. Sem o sucesso esperado, voltou ao país, tinha desistido da carreira de atleta e partiu para Alemanha aos 21 anos com objetivo de estudar. Mas por lá novamente a bola reapareceu no caminho.

Mano se inscreveu em um clube da quarta divisão apenas para ganhar o dinheiro necessário para se sustentar. Mas o bom rendimento gerou oferta do Arminia Bielefed, que disputava a segunda divisão. Depois ele passou pelo Darmstadt, e então aceitou proposta de transferência para o futebol do Chipre. Por lá atuou ao lado de Paulo Rink, ex-Athletico Paranaense, e construiu carreira sólida. Quando a trajetória se aproximava do fim, surgiu a chance de mudar de função e virar auxiliar técnico em vaga aberta por Tite, técnico da seleção brasileira.

"Meu empresário me ligou, falou da oportunidade. Eu já estava numa fase que não vinha jogando tanto. Ele falou que era hora, que a curva era de queda. Eu lembro que disse: mas você esteve comigo na semana passada, viu jogo e disse que fui bem. Ele respondeu: eu sou teu empresário, tinha que te colocar para cima (risos)", lembrou.

Tite havia deixado o Al-Ain, do Emirados Árabes Unidos, e quando se transferiu levou uma série de brasileiros, preparador físico, treinador de goleiros, massagista, o meia Pedrinho, hoje comentarista do Sportv, entre outras funções. E o alemão contratado para assumir o time, Winfried Schäffer, precisava de um auxiliar que unisse os dois públicos. Mano aceitou.

Como auxiliar do alemão — famoso por formar astros como Oliver Kahn e comandar Camarões em uma Copa do Mundo — ele também trabalhou no Baku FC, do Azerbaijão, no Golden Arrows, da África do Sul, e na própria seleção da Tailândia. E os contatos feitos na época de auxiliar da seleção abriram caminho para os trabalhos no país.

Mano se tornou treinador definitivamente em 2013, quando assumiu o Army United e fez uma campanha histórica com sexto lugar na Liga Tailandesa. Em seguida comandou o Suphanburi, numa experiência que ele mesmo crê que não foi boa, até ser contratado pelo Bangkok United, onde esteve por seis anos.

"O dono do clube era uma pessoa de negócios, investia muito no clube. Não havia categorias de base e nós montamos, também participamos da montagem do CT, investimos em estrutura. E conforme foi crescendo o investimento, a pressão pelos títulos também passou a existir. No fim do trabalho já éramos um dos times mais fortes do país, acabamos não conseguindo o título e optei por pedir demissão. Acho que se não pedisse, acabaria sendo este o desfecho", contou.

"O nível do futebol tailandês em infraestrutura não perde para ninguém. Os clubes têm fisiologista, preparação física de qualidade, campos muito bons. É claro que é abaixo do Brasil, mas a infraestrutura é excelente. Sobre jogadores, os times têm cinco estrangeiros, que são os jogadores de maior qualidade da Liga. E os tailandeses vão na onda dos estrangeiros. A qualidade vem crescendo. Hoje a Tailândia contrata fácil jogadores de Série B e até Série A do Brasil. Se paga 50 mil dólares (R$ 270 mil na cotação atual) para jogador. Eu tive o Brenner, ex-Inter, o Robson, do Fortaleza, comigo. O Diogo, ex-Palmeiras e futebol grego, atua há anos lá. E isso eleva a qualidade dos jogadores", completou.

Ao sair do clube, Mano foi para o Vietnã e teve trajetória atrapalhada pela pandemia de novo coronavírus. De férias no Brasil, recebeu convite da seleção tailandesa de forma inesperada, mas prontamente aceitou.

"A gente precisa entender a cultura do lugar onde estamos. Eu cheguei na Tailândia e os clubes não tinham categorias de base. Hoje já têm. O jogador já vem ensinado. Mas a cultura sempre afeta de alguma forma. Eu noto que na Tailândia o jogador quer muito aprender, mas não gosta de crítica. Isso faz você perder o grupo, criticar um jogador. No Brasil, por exemplo, eu digo 10 palavrões, cobro, e isso motiva o jogador. Na Tailândia se um jogador toma dura na frente dos outros, se fecha, não recebe bem", explicou.

Sonho de trabalhar no Brasil e futebol ofensivo

Mano Pölking, treinador de futebol, durante jogo no futebol tailandês - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

A carreira como atleta e treinador construída tão longe não faz Mano Pölking esquecer do Brasil. Depois de até abrir algumas conversas, ele freou o desejo de trabalhar por aqui para focar na seleção, mas quer, um dia, se inserir no mercado brasileiro.

"Espero que essa etapa com mais visibilidade possa me ajudar para isso. Não vou chamar de preconceito, mas para vencer essa dúvida que fica com quem trabalha há tanto tempo fora, ainda mais na Ásia. Parece que há um certo medo no Brasil. Talvez esse trabalho maior, uma conquista grande, tire esse medo. E mesmo não vindo, vou tentar trabalhar no Brasil. Já tive algumas conversas, mas espero abrir essa porta", contou.

"Eu sou conhecido e até criticado por ser um técnico muito ofensivo. Quando saiu o anúncio, eu vi comentários que agora a seleção ganharia por 5 a 4... Meus times sempre fazem muitos gols mas sofrem gols também. Eu tenho tentado focar nessa parte da transição defensiva, mas jogamos mais para frente, com os zagueiros muitas vezes no campo do adversário, e ficamos naturalmente mais expostos. Se perdemos a bola, sofremos alguns riscos. Eu sempre tive essa marca forte na carreira, sou fã do Guardiola, de toda sua filosofia de jogo. Estou trabalhando essa transição defensiva melhor, mas com certeza eu sempre trabalho em um modelo de jogo bastante ofensivo", finalizou.