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Treinador brasileiro perdeu título por morte de Rei e sonha com volta

Mano Pölking, treinador brasileiro com carreira no futebol da Ásia, quer voltar ao Brasil - Divulgação/Bangkok United
Mano Pölking, treinador brasileiro com carreira no futebol da Ásia, quer voltar ao Brasil Imagem: Divulgação/Bangkok United

Jeremias Wernek

Do UOL, em Porto Alegre

09/01/2021 04h00

Imagine essa: um time chega em ascensão na reta final do campeonato nacional e está em vias de superar o líder, faltando poucos jogos para acabar a competição. A guinada rumo ao título é iminente, mas não acontece porque o líder do país morre e causa comoção geral. Foi assim que Alexandre Pölking, treinador brasileiro, deixou de ganhar o título tailandês.

Era outubro de 2016, o Bangkok United perseguia o Muang Thong United até vir a notícia: Bhumibol Adulyadej, rei da Tailândia, morreu aos 88 anos e parou tudo no país.

"A gente vivia nosso melhor momento, o time tinha 75 pontos em 31 jogos e só duas derrotas em toda a temporada. O campeonato tinha mais três jogos, todo mundo mobilizado e o presidente do clube chegou e avisou: vão suspender o campeonato, o rei morreu", relembra Mano Pölking. "Primeiro que foi um choque, no país e a mim também. E conversando com ele, mais de uma vez, eu vi que não ia ter jeito. E não fazia sentido, o povo amava muito o rei".

O falecimento do rei da Tailândia é só uma das histórias que Mano Pölking viveu em quase 15 anos na Ásia. E ele quer trazer todas elas ao Brasil ainda em 2021.

"Eu planejo trabalhar no Brasil, faço contato todos os anos com pessoas que atuam aí, gente que tem algum tipo de poder, digamos assim. Tento manter essa comunicação com eles ao longo do ano para ver se tem essa possibilidade. Eu gostaria de implantar minhas ideias e tudo que vivi nos últimos 23 anos fora do país. Gostaria muito de tentar fazer funcionar aí", diz.

Natural de Montenegro, no interior do Rio Grande do Sul, Pölking vive fora do Brasil desde 2001. Foi jogador de clubes na Alemanha e Chipre e, em 2008, começou a carreira fora das quatro linhas. Auxiliar no Al-Ain, dos Emirados Árabes Unidos, no FC Baku do Azerbaijão, e vários trabalhos na Tailândia. No meio da onda de aposta em estrangeiros, a vida do outro lado do mundo faz Mano sonhar.

"O futebol brasileiro tem buscado estrangeiros, mas eu sou brasileiro. Por ter vivido mais da metade da minha vida fora do Brasil, acho que tem uma pequena diferença na rotina de treino e na formação acadêmica. Isso não quer dizer nada, a bem da verdade. Ser estrangeiro não define se é melhor ou pior, mas existem sim rotinas e informações diferentes. Se isso funciona no Brasil ou não, depende. Depende do profissional", comenta. "Eu sou brasileiro e a minha ideia é ficar mais perto da família, voltar para casa", reforçou.

Atualmente no Vietnã, Mano ainda viveu outra passagem insólita nos tempos de Al Ain. Ele e a comissão técnica inteira tiveram de esperar mais que o planejado, durante o intervalo, para falar com os jogadores.

"Era hora da oração e não dá para mudar o relógio, para rezar depois. Eu entrei no vestiário, louco para falar com o time e tal, e vi todo mundo ajoelhado e virado para Meca. Não tive o que fazer, né? Eu e mais uns que não são da mesma religião ficamos esperando uns 10 minutos".

Aos 44 anos, Mano também acumula a experiência de ter dirigido selecionado o time da liga tailandesa no chamado All-Star Game, que substituiu jogos previstos para a seleção nacional na data Fifa.

"A Tailândia é uma parte forte em minha carreira. Quando penso em ir para o Brasil, penso que grandes treinadores como Felipão e Parreira também trabalharam na Ásia. É um mercado legal para começar", conta.