Rodrigo Mattos

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Saída precoce de Ronaldo do Cruzeiro reflete expectativa irreal sobre SAF

Ronaldo comprou o Cruzeiro SAF em abril de 2022 e a revendeu apenas dois anos depois para o empresário Pedro Lourenço. O período curto do ex-jogador à frente do clube alviceleste se explica pelas expectativas irreais que foram criadas com os novos clube-empresa.

É um fato que Ronaldo não queria ficar com o Cruzeiro para sempre, como ele mesmo indicou em entrevistas. Mas sua saída se tornou precoce por conta da pressão e ofensas de parte da torcida cruzeirense para o dono.

E as críticas ao ex-jogador são justas? O Cruzeiro SAF esteve abaixo das expectativas iniciais?

Essas perguntas demandam uma resposta mais complexa do que sim ou não. Para começar a entender o quadro, é preciso lembrar como foi feito acordo inicial da compra do Cruzeiro.

Ronaldo acetou a aquisição de 90% da SAF do clube em troca de: 1) aporte de R$ 50 milhões 2) obrigação de gerar receitas incrementais de R$ 350 milhões 3) Assumir as dívidas fiscal e na Justiça do clube.

Em comparação com as SAFs de Botafogo e Vasco, é justo dizer que o investimento previsto por Ronaldo era bem modesto. Os dois clubes cariocas já tiveram gastos de mais de R$ 200 milhões cada em elenco durante os anos de 2022 e 2023.

O plano de Ronaldo sempre foi reerguer o Cruzeiro aos poucos com pouco dinheiro e só investir quando isso fosse sustentável. A gestão feita pela equipe do ex-jogador, comandada por Gabriel Lima, fez um trabalho bem eficiente na resolução dos principais problemas do clube. A dívida foi equacionada e está sendo paga aos poucos, houve melhoras de infraestrutura, o clube passou a ter uma organização.

Sim, essa organização se deu em um patamar esportivo inferior ao anterior do Cruzeiro, com elenco mais modesto. Mas aquele patamar era artificial tanto que quebrou o clube. E a comparação com o Atlético-MG, rival, é também injusta porque houve ali investimento muito além das possibilidades do clube.

Então, há um ponto no meio em que pode-se criticar o investimento baixo de SAF do Cruzeiro e elogiar o modelo sustentável buscado pela gestão de Ronaldo.

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Dito isso, os ataques da torcida do Cruzeiro se explicam também porque, na criação das SAFs, a primeira percepção do adepto é que o clube tinha ficado rico. Que haveria em determinado momento algo parecido (em patamares brasileiros) a investidores árabes do PSG. Ocorria não só no Cruzeiro. Aos poucos, essa ideia tem se evaporado.

O novo dono do Cruzeiro, Pedro Lourenço, vai investir no elenco como já deixou claro. Isso é positivo para dar uma turbinada. Porém, será um passo atrás caso se construa um modelo alavancado com gastos muito acima das possibilidades de receitas do clube.

O equilíbrio entre receitas e despesas é o caminho mais viável para SAFs, e associações. É por isso que a instituição do Fair Play Financeiro, sempre rejeitada por boa parte dos clubes, precisa acontecer no futebol brasileiro.

Para que no futuro não se tenha de construir uma nova lei, com outra estrutura de empresa, para salvar SAFs que se tornaram inviáveis por conta de acúmulo de dívidas.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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