Para quem acompanha os jogos desta edição da Eurocopa, há um aspecto que chama tanto a atenção quanto os craques Kylian Mbappé, Cristiano Ronaldo e Robert Lewandowski. Com o avanço no combate à pandemia da covid-19 no continente, a volta do público aos estádios se tornou uma atração à parte do torneio. Ainda assim, fica uma dúvida: por que algumas arenas recebem mais torcedores do que outras?
No podcast Futebol sem Fronteiras #6 (ouça na íntegra no episódio acima), o colunista Julio Gomes e o correspondente internacional Jamil Chade falaram sobre o caso de Budapeste. A Puskás Arena ficou lotada para acompanhar a derrota por 3 a 0 da Hungria para Portugal. Enquanto isso, outras sedes têm presença parcial de público. A diferença de tratamento pode ser explicada em uma palavra: política.
"Um estádio cheio, hoje, é uma mensagem para o mundo de 'aqui nós superamos a pandemia'. É uma mensagem política muito importante que está sendo passada na Eurocopa por parte das autoridades. Em Budapeste, o governo húngaro, populista e de extrema-direita, que tem vários problemas negacionistas que a gente conhece, sabe que tem eleição em 2022 e basicamente disse 'olha que boa ideia mostrar que nós estamos controlados com a pandemia'", explicou Jamil.
Do ponto de vista esportivo, tratou-se do retorno de algo a que os jogadores já estavam desacostumados a sentir: a pressão de atuar como visitantes. "Este jogo entre Hungria e Portugal em Budapeste foi o primeiro desde março de 2020 em que um time jogou em casa e outro fora. Tem algumas partidas acontecendo com 10 mil pessoas, mas nada parecido com o que se viu na Puskás Arena. Um estádio apinhado, com 60 mil pessoas. Esse era um efeito que a Euro ia trazer", disse Julio
Embora seja animador assistir a uma partida com estádio lotado, isso não significa dizer que a situação está realmente sob controle. "Viktor Orbán [primeiro-ministro húngaro] é absolutamente fã de futebol, mas como instrumento político. Os dados de vacinação [da Hungria] estão bem, mas a transmissão ainda é importante e muita gente lá diz que não era o momento de abrir estádio com 100% da capacidade", comentou Jamil.
De acordo com a Universidade Johns Hopkins, referência mundial em estudos sobre a covid-19, a Hungria teve 807.322 casos confirmados da doença, com 29.948 mortes até esta quinta-feira (17). Segundo dados do Our World in Data, 55,65% da população húngara já recebeu pelo menos uma dose da vacina contra a doença, segundo dados divulgados na quarta-feira (16).
Embora exista um protocolo definido pela Uefa, a porcentagem de público liberada nos estádios dependeu de uma ação de cada governo. "Existem critérios que foram estabelecidos por cada um dos governos com a Uefa para definir quem pode ou não entrar em estádio. Sinceramente, fico até com dó de quem fez esse plano porque em cada estádio é diferente. Amsterdã só exige teste PCR. Em Bucareste, o vacinado não precisa de teste PCR. Em Budapeste, o húngaro pode entrar só com a vacina; para o estrangeiro, precisa estar vacinado e com PCR", disse o correspondente.
Para Jamil, a presença de torcedores nos estádios da Eurocopa deve ser vista com ressalvas. "A grande novidade, em época de pandemia, é a volta do público. Isso tem gerado um enorme debate entre jogadores e comissão técnica, que sentem esse retorno, depois de meses jogando em estádios vazios. Mas também há o debate político sobre por que alguns aceitaram e outros não. A volta do público é mais do que desejada, mas com condições muito claras. Existe uma vacina, mas nem isso explica a Puskás Arena completamente lotada", finalizou.
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