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Funcionário do Flamengo diz que extintores falharam no Ninho do Urubu

Segurança que presenciou incêndio no Ninho do Urubu - Reprodução/TV Globo
Segurança que presenciou incêndio no Ninho do Urubu
Imagem: Reprodução/TV Globo

Do UOL, em São Paulo

21/03/2021 22h14

Benedito Ferreira, segurança que presenciou o incêndio no Ninho do Urubu, no Rio, revelou em entrevista que tentou apagar as chamas com três extintores, mas que nenhum deles funcionou. Além disso, o funcionário do Flamengo se emocionou ao relembrar detalhes da noite do incêndio e disse ainda escutar por pedidos de socorro.

O incidente no CT do Rubro-Negro aconteceu em fevereiro de 2019 e teve dez vítimas fatais, além de outros três feridos, todos jovens integrantes das categorias de base do clube. Nesta semana, a CPI da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro) indiciou nove pessoas por homicídio culposo. Agora, o relatório deve ser aprovado em Plenário e encaminhado ao Ministério Público do Rio de Janeiro

"No início eu usei um extintor de pó químico, mas não funcionou. Um garoto que estava ao meu lado, tentou usar, mas também não funcionou. Tentei usar outro extintor, mas não funcionou. Tentei um terceiro extintor, mas também não funcionou", afirmou ele, em entrevista ao "Fantástico", da TV Globo, na noite de hoje.

Em nota, o Flamengo negou a versão do funcionário e afirmou que "os pontos levantados na entrevista narram uma visão pessoal dele, que não encontra amparo nos fatos, na lei e muito menos no inquérito criminal". O Rubro-negro anexou o depoimento de Ferreira à 42ª DP do Rio. Em seu termo de declaração, ele narrou que "acionou alguns extintores, tentando apagar o fogo que estava mais forte na parte lateral onde ficavam os aparelhos de ar condicionados, que usou dois extintores mas o fogo não baixou (...), que pegou mais uns três extintores de incêndio para apagar o fogo".

Durante a entrevista, cerca de dois anos depois, Ferreira —que conseguiu salvar pelo menos três jovens— relembrou detalhes da noite do incêndio e contou que ficou desesperado ao descobrir que ainda tinham outros dez adolescentes no contêiner, que servia de dormitório.

"Quando me disseram que tinham dez —entre eles, alguns que eu tinha encontrado horas antes—, o meu mundo acabou. Então, eles não tiveram a chance de sair", lamentou Ferreira. "Um garoto chegou pra mim e disse 'tio, lá atrás está cheio'. Foi onde bateu o desespero. Não tinha mais como entrar", disse Ferreira, que tentou salvar um quarto jovem, mas não conseguiu. "Eu puxei um garoto, que estava muito queimado. E ele me disse: 'tio, não me deixa morrer'".

O segurança, que foi diagnosticado com depressão e tem tomado até seis medicamentos por dia, afirmou também que escuta até hoje os pedidos de socorro.

"Eu vi que acabou quando o teto baixou. Aí não tive mais o que fazer. Eu sentei e fiquei olhando aquela cena que nunca mais sairá da minha memória. Até hoje eu escuto ele gritarem 'está ardendo', 'socorro'. É um sentimento de perda", contou.