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Brasileiro com mais gols na Europa é fã de R10 e não parou na pandemia

Gabriel Ramos (à esquerda) em ação durante jogo do Torpedo Zhodino - Divulgação/Torpedo Zhodino
Gabriel Ramos (à esquerda) em ação durante jogo do Torpedo Zhodino Imagem: Divulgação/Torpedo Zhodino

Marcello De Vico

Do UOL, em Santos (SP)

11/11/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Gabriel Ramos é o brasileiro mais bem colocado na Chuteira de Ouro da Uefa
  • Atacante de 24 anos joga em Belarus desde fevereiro e soma dez gols
  • Gabriel Ramos é fã de Ronaldinho Gaúcho: "é o bruxo, ele é sensacional"

Sabe quem é o brasileiro mais bem posicionado na corrida pela Chuteira de Ouro da Uefa? Se você pensou em Neymar, Gabriel Jesus ou Firmino, errou. O atual dono do posto é desconhecido do público em geral: o atacante Gabriel Ramos, de 24 anos, que já passou pelas categorias de base de Bahia e Flamengo e hoje atua em Belarus, país 90º colocado no ranking da Fifa.

Gabriel Ramos faz sua temporada de estreia em Belarus e já soma dez gols com a camisa do Torpedo Zhodino na atual edição do Campeonato Bielorusso. Com 15 pontos (coeficiente do torneio em questão é 1,5), ele ocupa o 36º lugar na Chuteira de Ouro - veja os dez primeiros colocados. Dodô e Emerson Deocleciano, brasileiros que jogam na Letônia, somam os mesmos dez gols, mas têm dez pontos.

Segundo informou o blog do Rafael Reis, o Brasil não fatura a Chuteira de Ouro desde 2001/2002, quando Jardel, à época no Sporting, foi o goleador máximo da temporada europeia — o ex-centroavante do Grêmio também levantou o troféu em 1998/1999. Além dele, apenas Ronaldo Fenômeno (1996/1997) já colocou o país no lugar mais alto do pódio.

Gabriel Ramos, do Thorpedo Zhodino - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação

"Fiquei surpreso, mas muito feliz em estar representando meu país aqui na Europa, e espero fazer mais gols e mais pontos para estar concorrendo forte nessa disputa. É um prêmio individual que contaria muito na minha carreira e na visibilidade do meu futebol. Muitas pessoas que não me conhecem ainda estão tendo a oportunidade de me conhecer por conta dos gols, das assistências e da temporada que venho fazendo", disse em entrevista ao UOL Esporte.

"Cheguei à Bielorússia no fim de fevereiro, já completaram nove meses. Não conhecia o futebol nem o país, mas me surpreendeu bastante. É um futebol de muita competitividade, força e técnica. E o país é tranquilo, bom de morar e gostei bastante", acrescentou o brasileiro.

Vale ressaltar, porém, que o futebol de Belarus adota o calendário anual (de janeiro a dezembro, igual no Brasil) e já está na reta final de sua temporada.

Inspiração no Bruxo

Gabriel Ramos em passagem pelo Flamengo - Arquivo pessoal/Gabriel Ramos - Arquivo pessoal/Gabriel Ramos
Gabriel Ramos passou pela base do Flamengo
Imagem: Arquivo pessoal/Gabriel Ramos

Habilidoso e veloz, Gabriel Ramos tem em Ronaldinho Gaúcho sua maior inspiração para jogar futebol. Não que Neymar, Messi e Cristiano Ronaldo não sejam, mas o Bruxo, como é conhecido o ex-atleta do Barcelona, tem um lugar especial na lista de ídolos do brasileiro.

"Minha inspiração é o Ronaldinho Gaúcho, é o Bruxo. Ele é sensacional, foi um jogador muito top. Gostava do estilo de jogo dele, da habilidade, da alegria... Fora ele, tem vários outros, como o Neymar, que é um ídolo pra nós jogadores. Tem o Messi, que é melhor do mundo, o Cristiano Ronaldo, que é um jogador sensacional e me inspira muito pela força de vontade e do trabalho. Pra mim, são os três melhores do mundo. Mas a maior inspiração mesmo é o Ronaldinho", disse.

Pandemia não muda nada na Belarus

Gabriel Ramos chegou à Bielorrússia em fevereiro deste ano, quando o novo coronavírus já começava a causar estragos. O país europeu, porém, foi um dos raros no mundo que não interromperam em nenhum momento seu futebol por causa da pandemia da Covid-19.

"Num primeiro momento, a torcida continuou frequentando os estádios, mas com todos os cuidados possíveis por conta da saúde das pessoas e dos jogadores", disse o brasileiro.

Mesmo indo na contramão do mundo, não houve nenhuma manifestação. "Não teve nenhum protesto em relação a jogador pedir para não jogar ou parar o campeonato. Creio eu porque a Federação está com o controle da situação, com todos os cuidados, fazendo tudo direitinho. Acho que por isso que o futebol continuou", completou.

Jogadores do Torpedo comemoram gol do brasileiro Gabriel Ramos em jogo da liga de Belarus durante pandemia do novo coronavírus - Reprodução - Reprodução
Jogadores do Torpedo comemoram gol de Gabriel Ramos em jogo da liga de Belarus durante pandemia do novo coronavírus
Imagem: Reprodução

Veja mais trechos da entrevista:

Antes de Belarus...

Antes daqui, eu atuei na Geórgia e no leste europeu. Atuar nesses centros mais desconhecidos é diferente. Era uma oportunidade da minha vida para jogar e mostrar meu futebol. Consegui mostrar meu futebol na Geórgia e estou conseguindo mostrar aqui. Espero conseguir mostrar meu futebol, meu trabalho e a pessoa que sou para quem ainda não me conhece. Espero, com meu trabalho, minha força de vontade, chegar a um time grande da Europa ou do Brasil. Tenho certeza de que, daqui a pouco, essas pessoas que não me conheciam estarão conhecendo meu trabalho.

Diversão na Rússia

Na rua, no supermercado, é muito difícil falar russo. As pessoas falavam comigo e eu não entendia, eles davam risada e eu também dava. Então, está tudo certo [risos]. Se ela falasse alguma coisa, eu falava em português, porque às vezes você esquece que não está no seu país e acaba falando a sua língua.

Artilheiro desde cedo

Sempre fui de fazer uns golzinhos na base do Bahia e do Flamengo. No Cuiabá, estreei com gol. Fiquei cinco anos da base do Bahia e só tenho que agradecer. Foi um aprendizado importante não só na minha carreira profissional mas na minha vida pessoal. Gratidão pelo Flamengo, que também me acolheu tão bem quando estive por lá. Pelo Cuiabá tive uma passagem muito rápida, mas também gostei muito do clube.

Passagem pelo Flamengo

A sensação foi muito legal porque todo menino sonha em jogar no Flamengo. Quando o Flamengo mandou uma proposta para o Bahia, pesou muito, e eu ainda estaria perto da minha família, dos meus amigos. E não fiquei triste por não ser aproveitado lá. Eu trabalhei, fiz a minha parte... A oportunidade não veio e isso faz parte do futebol, acontece.

Volta ao Brasil?

Tenho muita vontade de voltar ao Brasil, mas creio que agora não é o momento de voltar. Agora, minha cabeça está voltada para a Europa, de jogar por um clube de maior expressão, jogar competições como a Champions, a Liga Europa, e sempre buscando as melhores ligas, como Espanha, Alemanha, Inglaterra, Itália... Meu plano é ficar por aqui mesmo.

Como é o futebol de Gabriel Ramos?

Eu sou um jogador habilidoso, tenho muita técnica, gosto de participar das jogadas, de chamar o jogo pra mim, gosto de finalizar e sou rápido. E aprendi muito da parte tática aqui, parte defensiva, e isso ajudou muito na minha adaptação.