Rodrigo Mattos

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Tite tem desafio de evitar jogo modorrento do Flamengo que marcou Sampaoli

Léo Pereira toca para Fabrício Bruno, que encosta para Gerson que retorna a pelota para Léo, que devolve a Fabrício Bruno, que serve de novo seu companheiro de zaga, que passa para Allan mandar um lançamento no espaço vazio. Esse tipo de troca de passes foi protagonizado pelo Flamengo por boa parte dos 90 minutos da vitória magra sobre o Amazonas.

O contexto do jogo era de um time de Série B que se defendia com 10 jogadores atrás da sua intermediária defensiva. Era necessário, portanto, que a equipe rubro-negra criasse as dinâmicas para furar essa defesa.

Em vez disso, viu-se burocracia, falta de movimentos, ausência de jogo coletivo ofensivo. O Flamengo foi uma equipe desconectada em que cada atleta parecia esperar uma iniciativa individual de um colega.

Tanto que criou apenas 13 conclusões, sendo que quatro delas no gol. Isso para um time que teve 72% de posse de bola e que passou quase o tempo inteiro no campo ofensivo.

Não é uma cena tão rara nos últimos anos rubro-negros como se possa imaginar. O período final de Jorge Sampaoli à frente do Flamengo tinha momentos similares. Eram trocas de passes longas e pouquíssimas chances criadas de gol, o que contrastava com o início intenso sob o treinador argentino. Lembremos a final da Copa do Brasil, no Maracanã, em que o Flamengo quase não ameaçou o São Paulo.

E também houve períodos assim, com pouquíssima contundência, com Rogério Ceni na campanha do título Brasileiro-2020. Sobrava posse de bola e faltavam conclusões a gol. Até que o treinador alterou o time ao botar Arão como zagueiro, agilizou o jogo rubro-negro e conquistou a taça com uma reação.

Diante do Amazonas, o jogo lento passava por Gerson atuando como volante, em seu estilo de segurar a bola, em vez da velocidade de De La Cruz. Meio inexplicável, aliás, que Gerson tenha ficado em campo até o final. Além disso, faltavam as formações de triângulos pelas laterais de campo, características do trabalho de Tite no início do ano.

Da única vez que isso ocorreu, de fato, Viña e Bruno Henrique tabelaram e o uruguaio meteu a bola na cabeça de Pedro. O lateral-esquerdo, aliás, apresentava uma iniciativa no jogo juntamente com Lorran, pela ponta direita.

Houve uma tentativa de TIte de mudar o time com Gabigol. O time passou a ter dois atacantes em um 4-4-2. E ainda houve a entrada de Matheus Gonçalves e Luís Araújo para gerar vantagem nas laterais. Mas nada mudou o tédio do jogo.

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Contra o Botafogo, é justo dizer que os jogadores erraram mais do que Tite. Contra o Amazonas, os problemas coletivos claramente se sobrepuseram aos individuais.

Isso não significa que se deva cair no discurso fácil, e exagerado, de apontar todos os canhões para o treinador. Seu bom início de trabalho, em que deu padrão e solidez ao Flamengo, indicam que é capaz de fazer esse time jogar bola.

Mas, como mostram as lições de técnicos anteriores, pode ser necessário achar novos caminhos, formas diferentes de escalar o time ou de utilizar seus jogadores. Ou o tédio durante o jogo se transformará em protestos ao final como ocorreu nesta quarta-feira no Maracanã.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL

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