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Brasileirão - 2020

Goleada do Flamengo aprofunda abismo técnico e financeiro com o Corinthians

Jogadores do Flamengo comemoram gol sobre o Corinthians - Daniel Vorley/AGIF
Jogadores do Flamengo comemoram gol sobre o Corinthians Imagem: Daniel Vorley/AGIF

Do UOL, no Rio de Janeiro (RJ) e São Paulo (SP)

19/10/2020 04h00

A goleada imposta pelo Flamengo sobre o Corinthians, na tarde de ontem (18), na Neo Química Arena, pelo Campeonato Brasileiro, aprofundou as diferenças entre os clubes, que parecem seguir caminhos opostos dentro e fora de campo.

Rendimento em campo

A vitória fez a equipe rubro-negra entrar de vez na briga pelo título — chegou a estar, momentaneamente, na liderança —. condizendo com o selo de "favorito" que ganhou antes mesmo do início da competição, diante do rendimento na última temporada.

O Timão, por sua vez, está apenas dois pontos acima da zona de rebaixamento e, em caso de vitória do Bahia ou Botafogo, logo mais, contra o Atlético-MG e Goiás, respectivamente, pode ainda perder posições na tabela.

Domènec Torrent começou o trabalho no Fla sob críticas, mas conseguiu driblar as barreiras, um surto de covid no elenco e, aos poucos, consegue impor o estilo de jogo à equipe, apontando evolução.

Já o Corinthians está no terceiro técnico da temporada e Vagner Mancini, que veio depois de Tiago Nunes e Coelho, chegou quase que com a função de bombeiro para apagar um incêndio que começava a ganhar corpo no Parque São Jorge.

A vitória sobre o Athletico-PR quebrou um jejum de cinco jogos sem vencer na competição e levou um alívio momentâneo, que evaporou diante da maior derrota na Arena já sofrida.

"A culpa é de todo mundo, eu não me isento, até porque eu já faço parte do processo. Mas ao mesmo tempo acho que seria injusto jogar nas minhas costas porque a situação já não estava boa. Precisamos analisar de forma fria, acho que todo mundo tem sua parcela de responsabilidade, todo mundo dentro do clube vai ter que assumir. A partir do momento que todo mundo assume, você já sai de um ponto", disse Mancini.

Crise com ídolos

Em meio ao momento conturbado, nem mesmo jogadores mais identificados com o Corinthians estão sendo poupados. O desabafo de Cássio, apontado como o maior goleiro da história do clube, dá o tom do atual momento.

Cássio lamenta gol do Flamengo em derrota do Corinthians no Brasileirão - MIGUEL SCHINCARIOL/ESTADÃO CONTEÚDO - MIGUEL SCHINCARIOL/ESTADÃO CONTEÚDO
Imagem: MIGUEL SCHINCARIOL/ESTADÃO CONTEÚDO

"Jamais eu me acho maior que o Corinthians, jamais eu acho que sou intocável. Eu sou muito grato por tudo o que o Corinthians fez por mim. Mas nesse momento eu estou sendo escudo, tudo está sobrando para mim, é muita coisa. É difícil. Não acho que estou em um mau momento. Tem todo direito de ser criticar, mas no momento que eu atrapalhar o Corinthians é melhor eu procurar outro lugar", disse ele na saída de campo após a partida.

A fase, inclusive, já gerou protestos tanto na porta da Neo Química Arena quanto no CT Joaquim Grava em oportunidades anteriores. Com faixas e cânticos de protestos direcionados ao presidente Andrés Sanchez, jogadores e também grupos de oposição, torcedores externaram a revolta diante dos maus resultados.

No Flamengo, o máximo que se pode dizer sobre os ídolos envolve Gabigol: com a grande fase de Pedro, como ele se encaixará no time quando voltar de contusão?

Resposta da base

Em meio a um surto de covid, o Rubro-Negro se viu forçado a utilizar os jogadores da base e, diante da resposta positiva, ganhou mais opções no elenco para uma temporada que promete ser uma maratona. Exemplos são o goleiro Hugo Neneca e os zagueiros Natan e Gariel Noga, que jogaram ontem.

No Corinthians, alguns jovens passaram a ser utilizados e ganharam vaga de titulares. Lucas Piton, por exemplo, é o dono da lateral esquerda, mas muito mais por falta de opções do que por estar jogando particularmente bem. No meio-campo, Xavier tem sido tratado como solução, mas a má fase do time impede uma análise mais fria.

Dinheiro

O Flamengo, atualmente, é um dos clubes que indica estar organizado financeiramente e com poder de investimento no mercado da bola. Não à toa, nos últimos anos, conseguiu ganhar disputas com concorrentes e também repatriar jogadores que se tornaram importantes no elenco. Em 2020, Thiago Maia e Pedro são exemplos disso.

O Corinthians, por sua vez, atravessa uma profunda crise nos cofres, com direito a atraso salarial, bloqueios, penhoras, e até mesmo corte de luz na sede no início da pandemia. A diretoria vem tentando sanar e, recentemente, anunciou a parceria com a Neo Química para o naming rights da Arena.

Bastidores

Ao longo da temporada, o Flamengo conseguiu driblar os problemas internos e, em certo momento, chegou a mostrar força política junto à Federação de Futebol do Rio (Ferj) e Confederação Brasileira de Futebol (CBF). Vale lembrar ainda que o presidente Rodolfo Landim encontra-se no meio do mandato, com nova escolha apenas no fim do ano que vem.

Em ano eleitoral, os corredores do Corinthians também se encontram agitados. Com a aproximação do pleito, que acontece dia 28 de novembro, a tendência é que a questão política ganhe ainda mais peso.