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Santos interdita camarotes "Artilheiros da Vila" em estado precário; fotos

Camarote "Artilheiros da Vila" em péssimo estado na Vila Belmiro - UOL
Camarote "Artilheiros da Vila" em péssimo estado na Vila Belmiro Imagem: UOL

Eder Traskini

Colaboração para o UOL, em Santos

16/10/2020 04h00

A ala de camarotes "Artilheiros da Vila" foi interditada na Vila Belmiro. O local nobre do estádio do Santos está com infiltrações que prejudicaram a estrutura de alguns deles, resultando até em desabamento do teto. O UOL Esporte esteve no local e conferiu as condições precárias.

A água que ocasionou o problema entrou por onde o Peixe retirou a cobertura para dar continuidade às obras de instalação da nova iluminação do estádio. No momento, a área, que vem recebendo a delegação visitante durante a pandemia, tem apenas uma lona como cobertura.

"Todos os camarotes estão interditado porque representam risco. Em primeiro lugar porque o acesso a este setor é balizado por baldes plásticos que tentam captar água proveniente da abertura de um telhado. As portas estão deterioradas e os banheiros que atendem a esses camarotes não possuem a menor condição de utilização em dias de jogos", disse Valdir de Moura Júnior, conhecido como Júnior Curitiba, novo diretor de patrimônio do Santos.

"Quando cheguei aqui, falaram para arrumar o camarote para a delegação do Grêmio e vi as condições... Não tem possibilidade de receber ninguém aqui. É a nossa casa, precisamos receber as pessoas bem, não desse jeito", completou ele. Os ídolos Coutinho, Toninho Guerreiro, Feitiço, Dorval e Edu estão entre os homenageados no espaço.

Vila Belmiro tem problemas e interdita camarotes Artilheiros da Vila

O antigo executivo de operações, Fernando Volpato, foi procurado pela reportagem para esclarecimentos e afirmou que, quando deixou seu cargo no clube, os camarotes não se encontravam nessas condições, mas que o risco sempre existiu por causa da obra de instalação da nova iluminação.

"É uma situação crítica, um problema crônico, mas quando saí não tinha nada desabado. Ali é estrutura metálica, não tem laje em cima dos camarotes. Para colocar os novos refletores, tivemos que abrir as telhas, foi feito um estudo para ver se seria possível fazer sem descobrir, mas não, tínhamos que passar por esse perrengue. Óbvio que você precisa cobrir de alguma forma ainda que provisória. Ali não é teto, é um forro. Qualquer umidade que pegue, cai. Não é que desabou estrutura. Sabíamos que poderia acontecer, mas paciência, não era algo custoso e tínhamos que fazer. Não é nenhuma tragédia, era algo absolutamente necessário."

O novo diretor de patrimônio santista ficou inconformado com outro fato no estádio: a área destinada a cadeirantes. O local se encontra imediatamente abaixo de onde fica a torcida visitante e não há outra opção no estádio.

"Quando nós falamos de amor à Vila Belmiro falamos de respeito ao torcedor santista. Observe que o local escolhido para abrigar os portadores de necessidades especiais, em específico os cadeirantes, é o menos privilegiado de Urbano Caldeira. Isso é claramente um recado de segregação social, pois obriga esses nossos especiais torcedores a assistirem as partidas debaixo de sol e de chuva e ainda, impiedosamente, os impedem de acessar outros locais para que possam experimentar outras formas de participar de uma partida em Vila Belmiro. Nosso torcedor não tem que assistir, ele deve e gosta de participar do jogo e essa cultura será resgatada em breve, foi nos exigido pelo presidente Orlando Rollo, fazer da Vila novamente a casa de todo torcedor santista, do jovem, do idoso, da mulher, da criança, do rico, do pobre e também do cadeirante", relatou Júnior.

"A Vila é um estádio centenário. Não tem condição de acessibilidade. Olha a condição que a gente deu. Eles ficaram dentro daquela casinha, absolutamente quente, chegava a ser desumano. Hoje, eles entram pelo Memorial, usam o sanitário do Memorial, temos um funcionário que atende eles. Tem todo o conforto de ir pelo corredor dos camarotes e são colocados naquele espaço. Muito mais digno do que era. Não dá para ir a todos os lugares, mas na arena nova vai dar", disse Volpato ao ser questionado pela reportagem sobre o setor.

Por todo o estádio é possível ver manchas na pintura, rachaduras, buracos que não foram tapados com massa, paredes ou teto descascando diante de infiltrações, etc... Questionado, o antigo executivo afirmou que o problema se deve a um trabalho de impermeabilização das juntas de dilatação, uma vez que as estruturas do estádio ficam abaixo da arquibancada, que não foi bem feito por uma empresa contratada e que seria refeito - o que pode ser provado por laudos, segundo ele.

Sobre tais problemas menores, o UOL Esporte questionou quais malefícios essa aparente "falta de cuidado" poderia trazer ao clube, e Júnior Curitiba se alongou na resposta.

"Certa falta de cuidado foi uma maneira elegante de introduzir um assunto que dilacera o coração do torcedor santista. O zelo pelo patrimônio do clube revela o grau de amor e comprometimento de quem o geriu recentemente e isso nunca deixou de ser percebido por todo o conjunto de stakeholders ligados ao Santos FC. Veja, o torcedor se afastou e o consumo diminuiu, os patrocinadores negaram cotas mais altas de investimento, funcionários acham normal baldes que coletam água de goteiras no setor dos camarotes, afinal a diretriz anterior era liberar um dos camarotes para a diretoria visitante. O resultado disso para o clube é uma imagem denegrida e sua marca desvalorizada. Afinal, a Vila Belmiro é a "casa-mãe" de todo santista e merece ser dignamente tratada", opinou.

"Esse prejuízo, entretanto, não aparece nos números expostos em relatórios modelados por administradores badalados pelo mercado internacional, até porque, como poderiam eles expressar a dor do torcedor santista ao percorrer conosco os porões de Vila Belmiro?", indagou o diretor que já recebeu alguns torcedores no local para entender as demandas deles quanto ao estádio.

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