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Especialistas veem seleção brasileira com marca forte, mesmo após tropeços

Tite, durante convocação da seleção brasileira em 18 de setembro de 2020 - Lucas Figueiredo/CBF
Tite, durante convocação da seleção brasileira em 18 de setembro de 2020 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Do UOL, em Belo Horizonte

09/10/2020 12h00

É inegável dizer que nos últimos anos a relação entre o público brasileiro e a seleção esfriou e perdeu boa parte da identidade que existia há pelo menos duas décadas, especialmente em 2002, ano da conquista do pentacampeonato.

Muito se fala atualmente que esse distanciamento teve início após a Copa do Mundo de 2014, com o fatídico 7 a 1 para a Alemanha; outros, pelo fato de muitos atletas passarem a deixar o país cada vez mais cedo e, assim, perderem uma relação maior com seus torcedores.

"A seleção é um produto, e quando esse produto não entrega a vitória, a tendência é que todos os atributos desta modalidade que envolvem paixão, emoção, o desejo de assistir e consumir, todos esses conceitos passam a ter uma conotação contrária, pois as pessoas tendem a fomentar esses atributos para o lado negativo, da repulsa, da falta de amor à pátria", explica Marcelo Palaia, especialista em marketing esportivo e professor do segmento na ESPM.

Uma coisa, no entanto, ninguém questiona: o 'produto' chamado seleção brasileira e é sempre será muito bom. Para ratificar esse discurso, alguns fatores importantes são citados pelos especialistas, como os serviços e a transparência oferecidos pela CBF e até mesmo a questão cultural e patrimonial que envolve a história canarinho.

"A seleção brasileira tem uma estabilidade de produtos. Você conhece o calendário, você sabe quando joga, está sempre envolvida em grandes momentos, tem uma capacidade clara de comunicação. Por mais que exista uma frustração ou uma sensação de que o brasileiro está afastado, ela é uma plataforma de futebol que a CBF conseguiu criar um equilíbrio, planejamento e transparência", aponta Bruno Maia, especialista em inovação e novos negócios na indústria do esporte e sócio da 14, agência de conteúdo estratégico.

"Quando se fala de seleção brasileira, é necessário refletir além do campo esportivo. Precisa entender que é um patrimônio cultural, representa de certa forma o povo, por mais romantizado que possa ser. Representa o jeito e os valores do cidadão brasileiro. E quando a gente analisa a questão de patrocínio, mesmo quando a formação do time não tem toda a identificação, por muitos deles terem saído cedo do país, mesmo assim a marca, a camisa, a representatividade da seleção é mantida", acrescenta Wagner Vilaron, CEO na LMiD, agência de marketing esportivo.

De fato, os números remam a favor da CBF. De acordo com números divulgados no site da própria entidade, a receita total foi de R$ 957 milhões em 2019, o que representou um aumento de 43,3% em relação a 2018. Em 2018, as receitas já haviam sido 13% maiores em relação a 2017 - todas elas elevadas em razão de três fontes como patrocínios, direitos de transmissão e comerciais.

Atualmente, a CBF conta com 11 parceiros, casos de Nike, Itaú, Vivo, Guaraná Antarctica, Mastercard, Gol, CIMED Genéricos, SEMP TCL, Fiat, Ultrafarma e EF English Live - muitos deles presentes há algum tempo.

"Enquanto a camisa do Brasil tiver essa representatividade, ela continuará sendo atraente para o mercado publicitário. Mesmo que o torcedor olhe com um pouco de desconfiança ou sem toda aquela paixão, pois é verdade também que a seleção criou um passivo que vai demorar a tirar dela, a marca continua muito atrativa", completa Vilaron, da Lmid.

"Isso é um mérito que a CBF conseguiu, pois tem tudo muito bem calculado, os patrocinadores que estão lá há anos e conseguem ter uma clareza maior do que você está recebendo, pois naturalmente é uma entrega de qualidade. Tem os melhores jogadores, ativos valorizados, o produto todo é bom mesmo que não performe tão bem no campo, as entregas são boas", acrescenta Bruno Maia.

"Os resultados afastaram o público de torcer, mas o produto é muito bom, a marca cresce ano após ano e a tendência é que isso se multiplique", encerra Marcelo Palaia.