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Neymar sobre racismo: Percebi que responsáveis não fariam nada, me revoltei

Colaboração para o UOL, em São Paulo

14/09/2020 14h50Atualizada em 14/09/2020 15h30

Neymar voltou a falar sobre o caso de racismo que sofreu ontem, durante o clássico entre Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha, condenando a omissão dos árbitros como responsável pela confusão.

Na partida pelo Campeonato Francês, em que o PSG foi derrotado por 1 a 0, o atacante foi expulso após agredir o zagueiro Álvaro González, acusando o rival de tê-lo chamado de "macaco".

O zagueiro do Olympique negou a acusação de Neymar, postando uma foto ao lado de companheiros de time negros e afirmando, sem citar o nome do atacante, que "às vezes é preciso aprender a perder e assumir no campo".

Em resposta, o brasileiro disse que "seu único arrependimento era não ter dado na cara" de González e o acusou de "não ter caráter".

Na tarde de hoje, em seus stories no Instagram, Neymar adotou um tom mais tranquilo ao falar do caso.

O atacante do Paris Saint-Germain reiterou que sofreu ofensas racistas e que, apesar de "entender as ofensas de jogo", as falas do zagueiro do Olympique foram "inaceitáveis".

Apesar disso, Neymar pediu a "pacificação" do movimento antirracista e disse se arrepender de ter agido com violência, explicando que agrediu o adversário apenas diante da omissão dos árbitros da partida, dizendo que, apesar de aceitar sua expulsão, espera punições para o rival.

Confira a íntegra do comunicado de Neymar, publicado em seu Instagram:

"Ontem me revoltei, fui punido com o vermelho porque quis dar um cascudo em quem me ofendeu. Achei que não poderia sair sem fazer nada porque percebi que os responsáveis não fariam nada. Não percebiam ou ignoravam. Durante o jogo queria dar a resposta como sempre, jogando futebol. Os fatos mostram que não consegui, me revoltei.

No nosso esporte, as agressões, insultos, palavrões, são do jogo, da disputa, não dá pra ser carinhoso. Entendo esse cara em parte, faz parte do jogo. Mas o preconceito e intolerância são inaceitáveis.

Eu sou negro, filho de negro, neto e bisneto de negro, tenho orgulho e não me vejo diferente de ninguém, ontem eu queria que os responsáveis pelo jogo (Árbitro, auxiliares) se posicionassem de modo imparcial e entendessem que não cabe tal atitude preconceituosa.

Refletindo e vendo tanta manifestação quanto ao que ocorreu fico triste pelo sentimento de ódio que podemos provocar quando no calor do momento nos revoltamos. Deveria ter ignorado? Não sei ainda...hoje, com a cabeça fria, respondo que sim, mas oportunamente eu e meus companheiros pedimos ajuda aos árbitros e fomos ignorados. Esse é o ponto.

Nós que estamos envolvidos no entretenimento precisamos refletir. Uma ação levou a uma reação e chegou onde chegou. Aceito minha punição porque deveria ter seguido no caminho da disputa limpa do futebol. Espero, por outro lado, que o ofensor também seja punido.

O racismo existe, existe, mas temos que dar um basta. Não cabe mais, chega! O cara foi um tolo, eu também fui por me deixar ser atingido. Eu ainda hoje tenho o privilégio de me manter com a cabeça levantada, mas todos nós precisamos refletir que nem todos os pretos e brancos podem estar na mesma condição. O dano do confronto pode ser desastroso para ambos os lados, quer seja preto ou branco. Não quero e não podemos misturar assuntos. Cor de pele não há escolha. Perante Deus somos todos iguais.

Agora...ontem perdi no jogo e me faltou sabedoria...estar no centro dessa situação ou ignorar um ato racista não vai ajudar. Eu sei. Mas pacificar esse movimento 'anti racismo' é obrigação nossa para que o menos privilegiado receba naturalmente sua defesa. Vamos nos encontrar novamente e vai ser do meu jeito, jogando futebol. Fica na paz! Fica em paz! Você sabe o que falou, eu sei o que fiz! Mais amor no mundo."