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Falcão faz intercâmbio no Real e vê Ancelotti e cia. intrigados pelo 7 a 1

Por uns dias, Falcão vive rotina do Real ao lado do ex-companheiro Carlo Ancelotti - Reprodução/Real Madrid CF
Por uns dias, Falcão vive rotina do Real ao lado do ex-companheiro Carlo Ancelotti Imagem: Reprodução/Real Madrid CF

Bruno Freitas

Do UOL, em São Paulo

09/12/2014 06h00

O “rei de Roma” cruzou o Atlântico para buscar atualizações sobre o que anda sendo feito de mais moderno hoje em dia no futebol. Paulo Roberto Falcão encara duas semanas de intercâmbio junto à comissão técnica do Real Madrid e, em meio a troca de informações, precisa lidar com a curiosidade dos anfitriões a respeito do célebre "7 a 1".

Como explicar o fracasso retumbante da seleção brasileira na semifinal da Copa diante da Alemanha, em casa, diante da torcida em Belo Horizonte? Quem sempre prestou reverência ao futebol dos pentacampeões ainda não conseguiu compreender o que aconteceu no gramado do Mineirão. Falcão foi questionado pelo técnico Carlo Ancelotti e seu auxiliar Fernando Hierro a respeito e tentou apontar um diagnóstico mais amplo. Aos intrigados interlocutores, disse que o problema não está na equipe nacional, mas sim na estrutura interna que serve de sustentáculo a ela.

"Ele (Ancelotti) tinha curiosidade, todo mundo se impressiona com o 7 a 1. A seleção sempre será boa. O problema não é a seleção, é a estrutura dos clubes. A gente precisa fortalecer os clubes, ter um campeonato bem jogado, tem que ir na base", afirmou Falcão desde Madri, em entrevista ao UOL Esporte.

Falcão e Ancelotti foram companheiros no elenco da Roma, nos anos 80. Hoje, graças à amizade, o brasileiro estuda o funcionamento do atual campeão europeu, com a meta de voltar a dirigir equipes de futebol. A viagem à Europa também deve ser esticada até Milão, onde o ex-jogador espera fazer o mesmo intercâmbio na Internazionale de Roberto Mancini.   

O ídolo da seleção brasileira tenta retomar a sequência como treinador, depois da lacuna de 18 anos, entre 1994 e 2011, quando atuou como comentarista de TV. Recentemente, Falcão voltou a trabalhar em frente às câmeras, em passagem pelo Fox Sports.

Como treinador, Falcão está sem clube desde que deixou o Bahia em julho de 2012. Antes, passou pelo Internacional, onde conquistou o Campeonato Gaúcho de 2011, mas permaneceu menos de 100 dias no cargo. Nos anos 90, antes da vida de comentarista, o ídolo estreou na função de cara no comando da seleção brasileira, entre 1990 e 1991, saindo após o vice-campeonato da Copa América. Em seguida, passou por América do México, Inter e Japão.

Confira a entrevista com Paulo Roberto Falcão:

UOL Esporte: Como surgiu essa possibilidade de intercâmbio no Real Madrid?

Falcão: Sempre faço isso, já fiz umas quatro ou cinco vezes. Por que o Ancelotti? Porque ele é um dos técnicos tops do mundo na atualidade, e conheço ele muito bem. Tem essa facilidade. E mesmo com o sucesso, ele não mudou nada. Continua humilde, muito brincalhão. Estou aqui para acompanhar os métodos de treinamento dele, estamos conversando. Venho acompanhando treinos, partidas. Ele tem uma curiosidade sobre como o Brasil está se organizando após a derrota na Copa. Pergunta também sobre algum jogador que é destaque no Brasil. Também procuro passar a minha maneira de trabalhar.

UOL Esporte: Você teve contato direto com as estrelas do elenco? Muitos deles nasceram depois que você parou de jogar.

Falcão: Estive hoje [na última sexta-feira] com o Arrigo Sacchi, que foi treinador da seleção italiana. Brinco que o Sacchi é o pai do Ancelotti. Ele foi jogador dele naquele grande Milan. Depois o Ancelotti foi auxiliar dele na Copa de 1994. Hoje ele tem uma carreira extremamente vitoriosa, com três títulos mundiais, dois como jogador. Também falei com o Marcelo, o Pepe, o Sergio Ramos também. Também conversei com o (Fernando) Hierro, auxiliar do Real, que foi jogador naquela época.

Falcão posa para foto com Carlo Ancelotti e o ex-técnico Arrigo Sacchi - Arquivo Pessoal/Paulo Roberto Falcão - Arquivo Pessoal/Paulo Roberto Falcão
Falcão posa para foto com o amigo Carlo Ancelotti (direita) e o ex-técnico Arrigo Sacchi
Imagem: Arquivo Pessoal/Paulo Roberto Falcão

UOL Esporte: Pelo seu trânsito na Europa, é uma opção trabalhar por aí?

Falcão: Não coloco fronteiras. Se for uma coisa boa, pode ser em qualquer lugar que seja. Não ponho limites de fronteira. Estou impressionado com a estrutura do Real. É difícil de encontrar algo assim no mundo. Os europeus sabem qual o tratamento para o produto futebol. Tratam literalmente como uma festa.

UOL Esporte: Temos alguns argentinos de destaque treinando times na Europa, um chileno campeão inglês com o Manchester City. Por que os brasileiros ainda não conseguiram sucesso semelhante por aí?

Falcão: Sim, temos o Simeone com bastante destaque, um argentino. Mas acho que essa pergunta ninguém consegue responder. Tive um almoço aqui com o Sacchi, que foi o diretor do Real Madrid que trouxe o (Vanderlei) Luxemburgo. Mas essa pergunta é uma incógnita, não encontro uma resposta.

UOL Esporte: Você passou por um processo para assumir a Costa Rica, certo? Por que não deu certo?

Falcão: Fui procurado por um empresário e depois fui investigar para ver se ele era sério. Fiz uns contatos e vi que era sério. Com essa possibilidade, mandei meu currículo. E o contato todo foi através dele, parecia tudo muito bem encaminhado. Ele até me passou os e-mails que estava trocando com a federação, com o Ricardo Chacón, diretor de seleções. Mas ele saiu, entrou um gerente de seleções argentino (Marcelo Herrera) e queriam um argentino como técnico. Estava tudo bem adiantado para a gente começar a conversar. Mas agora parece que vão fechar com o Ricardo Gareca.

UOL Esporte: Você tem sondagens de clubes brasileiros para 2015?

Falcão: Tem eleições em alguns clubes agora, deve aparecer alguma coisa. Para os próximos dias. Até porque os clubes precisam se organizar para o ano que vem.

UOL Esporte: Você participou de projetos no Fox Sports neste ano. A televisão segue no seu horizonte?

Falcão: Tenho televisão como uma coisa que eu gosto. A televisão e o trabalho de técnico são as coisas que eu sei fazer. Não fecho a porta. Mas estou me preparando para trabalhar em algum clube. Faz anos que me preparo. Estive em três Copas do Mundo, frequentei os treinos de diversas seleções. E depois que parei na Globo passei a me atualizar constantemente.

UOL Esporte: Você citou a curiosidade do Ancelotti sobre como o Brasil está se organizando após a Copa. Existe muita curiosidade especificamente sobre o 7 a 1?

Falcão: Ele tinha curiosidade, todo mundo se impressiona com o 7 a 1. A seleção sempre será boa. O problema não é a seleção, é a estrutura dos clubes. A gente precisa fortalecer os clubes, ter um campeonato bem jogado, tem que ir na base. Conversei sobre o 7 a 1 com o Hierro também, que me falou das categorias de base do Real, da seleção espanhola. Eles chamam de canteras, o trabalho é muito bem feito, especialmente no Barcelona. A gente precisa formar jogadores mais técnicos. E não precisa abandonar os jogadores de força. Um time precisa de várias coisas. Não dá para cobrar só titulos das categorias de base. Claro que o técnico que quer subir carreira tem na cabeça que precisa ganhar. Mas a única meta deve ser formar jogador para o time de cima. Essa deve ser a diretriz passada pela direção.

UOL Esporte: Como você avalia o começo do novo trabalho do Dunga à frente da seleção?

Falcão: A seleção está bem, ganhando. Mas não me preocupo com a seleção, ela é o ponto final. Sempre terá 25 bons jogadores. É sempre bom que se comece com vitorias, para conseguir trabalhar. Mas vou além disso. Precisamos fortalecer os clubes.