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Casal russo quer achar brasileiros que deram ingressos em frente estádio

Ingressos que brasileiros deram a casal russo - Acervo pessoal/Gleb Obodovsky
Ingressos que brasileiros deram a casal russo Imagem: Acervo pessoal/Gleb Obodovsky

Ricardo Senra

Enviado especial da BBC News Brasil a Moscou

27/06/2018 12h47

Apesar das notícias negativas que vêm sendo publicadas nas últimas semanas, torcedores brasileiros também vêm deixando um rastro de alegria, esperança e gratidão na Rússia.

Um dos exemplos é o depoimento "Milagres acontecem", escrito por um jovem russo de Rostov-on-Don, cidade onde o Brasil estreou na Copa do Mundo com um empate de 1 a 1 contra a Suíça.

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Em texto que viralizou em redes sociais como o Pikabu - uma das preferidas entre millenials e jovens da geração Y de países como Rússia, Ucrânia e Cazaquistão - Gleb Obodovsky, de 27 anos, conta como foi surpreendido por dois brasileiros que, ao vê-lo cabisbaixo com a esposa assistindo a um mar de torcedores caminhando em direção ao estádio, decidiu parar e fazer uma boa ação.

Casal russo tenta encontrar brasileiros que deram ingressos de presente na porta de estádio - Acervo pessoal/Gleb Obodovsky - Acervo pessoal/Gleb Obodovsky
Imagem: Acervo pessoal/Gleb Obodovsky

"Nossos rostos entristecidos chamaram a atenção de um dos brasileiros que passavam. Um deles cutucou seu amigo, disse algo para ele e eles se aproximaram de nós. Em primeiro lugar, eu pensei que eles quisessem perguntar alguma coisa. Mas eu estava errado", diz o texto que foi publicado há seis dias, em russo, e tinha quase seis mil interações até a publicação desta reportagem.

"Quando chegaram mais perto, um deles tirou pedaços de papel do bolso. 'Panfletos', eu pensei. Ele então esticou os braços e me entregou os papéis, enquanto eu não conseguia entender o que estava acontecendo."

O texto emocionado continua.

"Estes são ingressos de amigos que não puderam vir à Rússia", disse o homem. Fiquei estático. Minha esposa não entendia a conversa, porque tem inglês muito limitado, mas a julgar pela sua expressão de surpresa e alegria, eu não precisaria traduzir, ela já sabia o que estava acontecendo."

Da tensão à catarse

O jovem, que disse que nunca tinha visto como são os ingressos oficiais, prossegue contando que inicialmente não acreditou no que ouvia e achou que a dupla do Brasil estivesse fazendo piada.

Ele, então, perguntou se os bilhetes eram de verdade e o que devia fazer com eles. Os brasileiros responderm: "Claro, são verdadeiros. Mas vocês precisam correr para conseguir um Fan-ID (documento de identificação exigido para todos os torcedores com ingressos) e se registrar para o jogo no centro de informações da FIFA."

Os russos, então, agradeceram, tiraram uma foto com os benfeitores e foram atrás do crachá.

O jovem Obodovsky conta que, na despedida, desejou sorte a eles e prometeu torcer para o Brasil.

"Para conseguir as Fan IDs é preciso andar com um documento oficial, e eu nunca carrego comigo. Mas neste dia eu tinha. Por quê?, você deve se perguntar. Porque a cidade estava repleta de estrangeiros e havia policiais e seguranças por todos os lados. Como fomos para a orla do rio, pensei que eles poderiam nos parar para verificação. Já minha esposa está sempre com seus documentos. É realmente inacreditável essa combinação de circunstâncias."

Em entrevista à BBC News Brasil, Obodovsky conta que temia não conseguir entrar no estádio por conta dos nomes nos ingressos.

"Achei até que algo de ruim poderia acontecer conosco. Mas não. As Fan IDs ficaram prontas em 10 minutos e nos deixaram entrar no estádio normalmente", conta.

Ele enviou fotos dos tickets, também publicadas nesta reportagem.

Apesar de oficialmente proibido, desde o início da Copa, a BBC News Brasil já testemunhou casos de centenas de torcedores de diferentes nacionalidades que compraram ingressos de terceiros por meio de redes sociais ou cambistas e não tiveram problemas para acessar os estádios da Copa.

Apelo aos autores do 'milagre'

Feliz por ter assistido à partida junto à torcida brasileira, Obodovsky diz, no depoimento, que aprendeu como os fãs e torcedores são tão importantes quanto o jogo ou o esporte em si.

"Nos tornamos parte do jogo. Torcíamos pela Seleção Brasileira com todo o coração e a alma e passamos a fazer parte da massa de torcedores, gritando com injustiças contra os brasileiros e estremecendo nos momentos tensos."

E continua: "A partir de agora eu amo o futebol. Torço para a Rússia e vou torcer para a Seleção Brasileira onde quer que ela jogue."

Mas, agora, o jovem tem outra preocupação: reencontrar os torcedores que deram um presente tão especial.

"Os caras que nos deram os ingressos não estavam perto de nós nas arquibancadas. Eu tentei encontrá-los nas redes sociais pelo nome que aparece nos bilhetes, mas não tive sucesso. São muitas pessoas com nomes iguais."

Em conversa por telefone com a BBC News Brasil, o russo diz que "deve estar parecendo psicopata" nas redes sociais de brasileiros.

"Eu tentei encontrá-los em redes sociais por esses nomes nos bilhetes. As pessoas provavelmente acharam que eu sou meio psicopata, ou algo assim, quando aparecia e mandava a foto com os caras perguntando: 'Você conhece esses dois brasileiros?'."

Em seu texto, ele prossegue fazendo um apelo.

"Sinto muito. Eu queria de alguma forma agradecer do meu jeito, me comunicar com eles para que nos tornemos amigos."

À reportagem, ele diz que gostaria de se encontrar com os autores do "milagre".

"Espero que vocês o encontrem. Queria dizer quão agradecido estou por eles terem nos proporcionado aquela noite tão especial. Estamos muito agradecidos. Queria dizer isso e, um dia, reencontrá-los", disse o jovem.

A BBC News Brasil resolveu ajudar neste encontro. Se você conhece algum dos rapazes da imagem, deixe um comentário nas nossas redes sociais.

Se não conhece, compartilhe esta reportagem até que os "anjos da guarda" dos russos sejam identificados.
Uma nova matéria será publicada quando o mistério for revelado!

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