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Copa 2018

Com lágrimas e palmas, panamenhos tornam "pior jogo da Copa" um espetáculo

Torcedora chorando no jogo entre Panamá e Tunísia - UOL
Torcedora chorando no jogo entre Panamá e Tunísia Imagem: UOL

Felipe Pereira

Do UOL, em Saransk (Rússia)

28/06/2018 20h05

Antes de a Copa-2018 começar os torcedores do Panamá que viajaram à Rússia esperavam apenas derrotas. A equipe não decepcionou. Chegou à terceira partida, contra a Tunísia, eliminada e com nove gols na bagagem.

Os adversários também não tinham um cartel de responsa. Partilhavam as duas derrotas e a eliminação. O jogo ainda acontecia na menor cidade-sede de todas. Saransk vive uma decadência econômica desde que os chineses quebraram suas indústrias de lâmpadas. Os jovens fugiram para Moscou deixando para trás um lugar com cara de atraso e de União Soviética.

Todos os ingredientes tornavam o confronto como “o pior jogo da Copa”. Mas sempre falam que o maior bem de um time é sua torcida. Os panamenhos não arredaram o pé. Quando a cerimônia de abertura do jogo começou um garotinho de chapéu Panamá (claro) imitou Romário: fez o sinal da cruz.

Lily Carmen soltou um berro estridente que entrou na chamada de vídeo que o homem abaixo fazia com seu filho na América Central. O hino do Panamá começou e todos se sentiram tenores soltando a voz com gosto. Lily Carmen parecia adolescente fã de boy band e chorou.

“E futebol”, resumiu a torcedora. Ela falava como se as duas palavras explicassem o comportamento passional de milhares de pessoas nas arquibancadas. Os panamenhos vivem o futebol intensamente. Ela tinha uma calça jeans com o rosto de seis jogadores.

“São os legendários. Eles classificaram a seleção para Copa pela primeira vez e hoje é sua última partida”.

Tunisianos correram da raia

O comportamento deles contrastava com os tunisianos. A imprensa do país contou que eles vieram em bom número, cerca de 15 mil ingressos foram vendidos por lá. Mas com as duas derrotas, abandonaram a seleção. Uns voltaram para casa e outros foram para cidades com jogos de equipes badaladas. Esqueceram que tem muito churrasco povão bem mais animado que festa de bacana.

Mas é inegável que se livraram de ver um jogo de qualidade técnica muito baixa. Os jogadores da Tunísia batiam cabeça, erravam passes a pequena distância e os laterais cruzavam como quem bate tiro de meta. O Panamá conseguia ser pior. Era dominado e jogava recuado.

Mas futebol é legal porque o melhor nem sempre vence. Meriah abre o placar para o Panamá. Chuva de cerveja nas arquibancadas. Agora são meia dúzia chorando. “É muita emoção. Futebol é minha vida, esses jogadores são meu país. Vivi 67 anos esperando uma Copa”, suspira Raul Alfredo Reid.

Panamá - AP Photo/Darko Bandic - AP Photo/Darko Bandic
Imagem: AP Photo/Darko Bandic

Priiiiiii priiiiiiiii

O intervalo é continuação do carnaval. Mas o segundo tempo traz o empate logo aos seis minutos. Já havia acontecido tantas vezes com o Panamá, ainda assim os torcedores parecem feridos de morte ao tomar o gol. A Tunísia vira e a tristeza dobra. Mas então eles lembram que não esperavam muito e fazem festa. Um desce a frente da galera e puxa: “vamos muchachoooooo. Esta noche tenemos de ganar”.

Tanta paixão expressada em espanhol faz parecer Libertadores. Mas os russos não entendem e tiram os três homens aos empurrões e estão perto de apelar para os safanões. Minutos depois um homem que regia a torcida da Tunísia recebe o mesmo tratamento. Os torcedores se olham com aquela solidariedade de quem se sente incompreendido.

Apito final, Tunísia 2 a 1. O Panamá perde outra vez e a primeira Copa da história deles chega ao fim. Os jogadores se ajoelham no centro do gramado e Rafael Diaz aplaude por mais de um minuto. Eles não estavam brincando quando falavam que esperavam pouco de seu time. “A gente aplaude tanto porque só quer que eles joguem com o coração. Representem nosso país com o coração e com amor”.

Reunião da seleção do Panamá após partida contra a Tunísia - Lucy Nicholson/Reuters - Lucy Nicholson/Reuters
Imagem: Lucy Nicholson/Reuters

Vestiário também chora

Considerável parte da seleção que colocou o país na Copa diz adeus. O time perdeu seis jogadores nesta sexta. Gomez chega na zona mista como ex-atleta. Ele conta que houve muito choro na despedida. Tem orgulho pela trajetória, mas fala que a hora mais feliz foi quanto estavam a frente do placar pela primeira vez.

“Acreditei que íamos ganhar. A torcida merecia. Mas a gente não conseguiu. Erramos e na Copa o nível é outro, não te perdoam se errar. Uma pena porque nosso povo merecia. Eles foram melhores que nós”.

A torcida do Panamá aplaude porque só quer que os jogadores se importem com eles e seu país. Diferente de muitos favoritos a Copa, eles acreditam que têm sua vontade atendida.

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