'Galvão egípcio' motiva rivalidade com Arábia Saudita em despedida da Copa
No âmbito esportivo, o duelo entre Arábia Saudita e Egito vale pouco nesta segunda-feira (25), a partir das 11 horas (de Brasília). Ambas já estão eliminadas da Copa do Mundo e se despedem do grupo A cumprindo tabela, mas alguns fatores extracampo podem ajudar a apimentar o duelo na Arena Volgogrado. Um deles é a contratação do mais famoso narrador egípcio para trabalhar na Arábia Saudita, o que enfureceu torcedores.
No gramado, é claro que a maior expectativa é em torno de Mohamed Salah. O camisa 10 do Egito foi desfalque na estreia e não jogou tão bem contra a Rússia, de modo que ainda está devendo no Mundial uma atuação no nível das que tem no Liverpool (ING). Frente a um sistema defensivo frágil com o saudita, ele deve ter melhor sorte.
Outra história que merece atenção é a de Essam El-Hadary, goleiro veterano de 45 anos que pode se tornar o mais velho a disputar uma Copa do Mundo. O clima na delegação egípcia, no entanto, não parece dos melhores. A imprensa do país chegou a noticiar um racha entre elenco e federação, causado pela badalação em torno dos atletas. Salah negou.
Do outro lado, há a preocupação de encerrar a participação na Copa do Mundo com uma atuação que compense as anteriores. Há grande tensão após o presidente da Autoridade Geral de Esportes, Turki Al-Sheikh, ameaçar jogadores dizendo que “três serão punidos”. Al-Sheikh, aliás, é responsável por deflagrar uma inimizade um tanto quanto inédita entre egípcios e sauditas.
‘Galvão Bueno egípcio’ vai para a Arábia Saudita
Às vésperas da Copa, Al-Sheikh anunciou a contratação do apresentador de TV Amr Adib, “o locutor mais caro de todo o Oriente Médio” nas palavras do cartola saudita. O jornalista receberá três milhões de dólares por ano na Arábia Saudita (mais de R$ 11 mi), onde será a face do futebol local. O investimento faz sentido, uma vez que Turki Al-Sheikh planeja transformar a Arábia Saudita em um polo futebolístico da região.
Amr Adib é (ou era) considerado um patrimônio da TV egípcia; uma espécie de Galvão Bueno deles, mas com alcance muito maior. Narra e comenta esporte e política para todo o mundo árabe, influência refletida nos 3 milhões de seguidores que tem no Twitter. Por tudo isso, sua ida para a Arábia Saudita é tratada como um insulto.
Torcedores egípcios receberam a notícia com descontentamento. “Um patrão saudita usa seu tesouro para patrocinar um escravo que comprou. O Egito não merece isso”, escreveu um fã nas redes sociais.
Relação entre os dois países
Ambas as nações têm grande influência sobre o mundo árabe, sendo o Egito o país árabe mais populoso e a Arábia Saudita um membro do G20. A relação entre eles é amigável desde 2013, quando o rei Salman apoiou o sangrento golpe de Estado que instaurou um governo militar no Egito, sob comando de Abdel Fattah al-Sisi. Um acordo econômico assinado há dois anos envolveu cerca de 25 bilhões de dólares (R$ 87 bilhões à época) e a cessão de duas ilhas até então egípcias.
Uma pesquisa feita em 2013 revelou que 78% dos egípcios tinham visão favorável aos sauditas. Número expressivo, ainda mais se levados em consideração os protestos do ano anterior, no Cairo, que questionarem a prisão de um advogado egípcio na Arábia Saudita. Embaixadas chegaram a ser fechadas na ocasião, mas os países logo se reconciliaram.
Outra tentativa saudita de aumentar sua influência esportiva na região se deu na votação para a sede da Copa do Mundo de 2026. Os sauditas votaram na United, candidatura conjunta costurada pelos Estados Unidos, seu aliado, que venceu junto com México e Canadá. O Egito preferiu o Marrocos, que esperava contar com todo o apoio árabe.
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