Organizadas rivais se unem por seleção do Panamá e espalham "febre russa"
Quem assistiu a algum jogo do Panamá durante as eliminatórias pode ter ficado surpreso ao se deparar com enormes letras desconhecidas em uma faixa estendida na arquibancada pela Extrema Roja, principal torcida organizada de futebol no país, dedicada exclusivamente à seleção que disputará sua primeira Copa do Mundo na história.
O idioma local, porém, não conta com letras diferenciadas. A faixa dizia apenas ‘Vamos à Rússia’ em alfabeto cirílico, utilizado no leste europeu, e virou destaque no site da FIFA durante a campanha. “A mensagem era clara, nós tínhamos que ir à Copa de qualquer jeito”, explica o presidente da torcida, Adrian Herrera, 37.
Apesar da inédita classificação ter surpreendido o restante do planeta e até muitos panamenhos, nas arquibancadas do Estádio Nacional Rommel Fernandez, sempre cobertas de vermelho nos jogos dos ‘Canaleros’, a febre com o país sede da competição já estava contagiada. Após a confirmação da vaga ela apenas se espalhou para todo o país.
Na capital Cidade do Panamá, famosa pelo Canal que liga os oceanos Atlântico e Pacífico, a ansiedade é evidente a cada esquina. Seja em enormes letreiros fixados em viadutos ou num pequeno cartaz no vidro de um táxi, em todo lugar vê-se estampado o slogan ‘Vamos pra Rússia’.
A expectativa não é por acaso. Apesar do futebol ser uma paixão nacional, a seleção é a única equipe local com uma grande torcida. Enquanto seus jogos levam de 25 a 30 mil pessoas aos estádios, a maioria das partidas da Liga Panamenha custa a alcançar uma centena de pagantes.
Com a falta de importância dada ao campeonato e clubes locais, os momentos de grande emoção do futebol nacional são gerados exclusivamente pela seleção. Por isso, ela foi capaz de reunir as torcidas organizadas dos principais times do país e criar uma torcida única sem qualquer problema.
Foi desta forma que em agosto de 2010 um grupo de amigos fundou a Extrema Roja (em português, ‘Extrema Vermelha’), hoje referência da torcida panamenha, sempre reunida no setor sul do estádio. “A única condição para estar lá é o apoio incondicional, constante e sem limites à ‘sele’”, diz Gerardo Samaniego, um dos fundadores.
“A torcida nasceu da chamada Marea Roja, que não era exatamente uma torcida”, conta Herrera. ‘Marea Roja’ era nome apelidado pela imprensa local a toda a massa que sempre lota o estádio. “Então decidimos formalizar algo que pudesse se tornar concreto, com referências de cantos sul-americanos, mas também com músicas originais”.
Apenas em 2012, porém, a Extrema Roja sai pela primeira vez de suas fronteiras para apoiar a equipe panamenha. Nessas ocasiões, geralmente se hospedam no mesmo hotel dos jogadores ou em algum ao lado. A estreia fora de casa foi contra Honduras, quando o time fazia boa campanha e sonhava com uma vaga na Copa no Brasil.
“O estádio estava lotado, com a torcida deles fazendo muita pressão. Então começamos a cantar, cantar e cantar”, conta empolgado sobre a partida que terminou em 2 a 0 para os visitantes. “Os jogadores nos disseram que nos escutaram muito e que fomos fundamentais para o resultado. Isso nos deu forças para seguir adiante”.
Além dos jogos fora de casa, a torcida também mudou o ambiente como mandante. Samaniego garante que após sua consolidação, toda o estádio passou a cantar em maior sintonia, acompanhando os gritos vindos do setor sul e se transformando sempre em um 12º jogador, o que teria sido fundamental para a classificação inédita.
A sintonia, porém, não depende apenas deles. No setor central do estádio também está a ‘La Legión’, fundada em 2013 pelo publicitário Efrain Medina, dissidente da Roja, com uma visão administrativa enfocada no setor comercial.
“A Extrema Roja é muito mais coração e informal. Para mim, a questão é mais empresarial”, explica Medina. “O futebol é um produto e você tem que ver alguma maneira de converte-lo atrativo às pessoas. Por isso, La Legión pretende respeitar e dar um retorno a seus patrocinadores”.
Medina também aderiu à febre russa e garante ter sido o primeiro panamenho a comprar os ingressos da Copa, ainda em setembro. Já estudou detalhadamente seus adversários e sabe tudo sobre os belgas, “a equipe mais forte”, a Inglaterra e a Tunísia, contra quem espera conquistar pontos. “Também é uma equipe com quase todos jogadores na Liga local. Então temos condições de conseguir alguma coisa”, diz. “Já contra os europeus será difícil”.
Festa russa
Além da faixa estendida na arquibancada, a febre russa contagiou todos os setores da sociedade, chegando até a festa de aniversário de Herrera. Todos os torcedores foram convidados para um evento temático decorado com as cores russas e panamenhas, com os tradicionais chapéus soviéticos e animado ao som de baterias, bandeiras e sinalizadores.
Todos vestiam a camisa vermelha. Afinal, independente do futebol que será apresentado pela seleção panamenha, 2018 é um ano especial para todos os panamenhos, crianças, jovens ou idosos. Este é o ano em que todos vivem a sensação, expectativa e emoção de participar pela primeira vez de uma Copa do Mundo de futebol.
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