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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Espanha pune menos do que Brasil em casos de racismo como de Vini Jr

Vinicius Jr foi bem no clássico espanhol - GettyImages
Vinicius Jr foi bem no clássico espanhol Imagem: GettyImages

20/09/2022 04h00

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No clássico de Madri, a torcida do Atlético cantou gritos racistas contra o atacante Vinicius Jr, chamando-o de macaco fora e dentro do estádio. Ainda houve gestos similares aos nazistas para o ex-flamenguista e para Rodrygo durante a comemoração do primeiro gol do Real, anotado pelo ex-santista. A La Liga já fez a denúncia sobre os cânticos tanto ao órgão do governo que trata desses casos quanto seu comitê de competições vai tratar do assunto.

Mas qual são as possíveis consequências disciplinares para os torcedores? E quais as sanções previstas para o Atlético de Madri pelas manifestações coletivas de seus torcedores? Há costume na Espanha de punições por racismo?

Primeiro, as normas e leis na Espanha são duras com o racismo. Em 2007, foi criada uma legislação para casos de incidentes violentos no esporte, incluindo o racismo. Uma das motivações foram as manifestações racistas contra o ex-centroavante do Barcelona Samuel Eto'o. A comissão antiviolência julga os casos, foi para esse órgão que a La Liga fez uma denúncia sobre os cantos contra Vinicius Jr.

Pela lei, infrações muito graves de racismo podem gerar multas individuais entre 60 e 650 mil euros (cerca de R$ 3,3 milhões). Para casos graves, o valor é entre 3 mil e 6 mil euros. Como sanção, os torcedores podem ser banidos dos estádios com penas entre seis meses e cinco anos. E o Atlético de Madri pode ficar sem o estádio por até dois meses em caso graves, e por até dois anos com o local fechado em caso muito graves. Gritos fora do estádio também são puníveis.

Em paralelo, há o código disciplina da Real Federação Espanhola. De novo, o Atlético Madri pode ser acusado de omissão por não tomar providências para evitar casos de racismo. Dentre as penas possíveis, começa-se com multas e acabaria até em perda de pontos.

A questão é que nenhum dos dois órgãos tem o hábito de punições severas. O máximo é fechar parcialmente um setor do estádio, como já ocorreu com o Real Madrid na Liga dos Campeões. Nos campeonatos na Espanha, no entanto, já houve abusos de quase todos os times e não há perdas de pontos ou estádios interditados.

Quando um torcedor do Villarreal jogou uma banana em Daniel Alves, em 2014, o clube sofreu uma pena de US$ 16 mil. Por iniciativa própria, o Villarreal fechou um setor de seu estádio onde estava o torcedor racista e o baniu de seus jogos.

No mesmo ano, o senegalês Diop teve episódio bem parecido com o de Vinicius Jr. Torcedores do Atlético de Madri fizeram sons de macaco para ele. Revoltado, ele dançou com um macaco para a torcida que ficou ainda mais irritada. Os jogadores do Atlético, principalmente Godín, foram para cima do senegalês. Só Diego Costa o abraçou e pediu para a torcida parar. Não houve punição pesada.

Jornais espanhóis, como o 'Marca', já indicam que é improvável uma punição pesada de estádio fechado para o Atlético de Madri.

No Brasil, há o CBJD (Código Brasileiro de Justiça Desportiva) com previsão de punição por meio do artigo 243-G. O entendimento da maioria dos membros STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) é que só há caso grave de discriminação se houver manifestação coletiva da torcida. Um membro do tribunal entende que o racismo contra Vinicius Jr se enquadraria neste caso.

Foi por uma manifestação coletiva que o Grêmio perdeu pontos e foi eliminado na Copa do Brasil quando o goleiro Aranha, então no Santos, foi alvo de gritos de macaco. Além disso, o Esportivo já foi punido com perda de pontos por manifestações racistas contra o ex-árbitro Márcio Chagas.

A Fifa e a Uefa também têm o costume de fechar estádios por gritos racistas, como já aconteceu com a Hungria nas Eliminatórias à Copa.

Na tarde de ontem (19), o Atlético de Madri divulgou uma nota repudiando os atos: "Condenamos energicamente qualquer tipo de atitude de caráter racista", ressaltando que não ocorreu apenas no jogo no seu estádio. E afirmou que "a atitude de uns poucos não representa nem o clube, nem a grande maioria dos torcedores". A diretoria prometeu punir os torcedores identificados que forem seus sócios.