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Rodrigo Mattos

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Não é só o árbitro: jogadores e torcida precisam mudar cultura sobre faltas

22/04/2022 04h00

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O jogo entre Flamengo e Palmeiras foi marcado por reclamações de atletas sobre faltas não marcadas. O árbitro Wilton Pereira Sampaio, surpreendentemente, deixou o jogo correr mais. Seguiu uma orientação do novo chefe de arbitragem da CBF, Wilson Seneme, que quer mais jogo e menos intervenção dos juízes.

Primeiro, é preciso lembrar que o "deixou o jogo correr" de Wilton significou 36 faltas, um número bem alto. E ele não deu uma ou outra falta como um contra-ataque de Everton Ribeiro. Dito isso, privilegiou, sim, mais a bola corrida.

Mas não foi nem um pouco ajudado por jogadores. Gabigol fez reclamações acintosas contra o juiz, o que lhe rendeu mais um cartão amarelo. Ao final do jogo, pediu árbitros de nível europeu. Rafael Veiga foi outro que protestava por falta a cada bola perdida. No geral, os atletas estiveram insatisfeitos com o juiz, e a torcida rubro-negra mais ainda.

Ora, um árbitro europeu talvez marcasse ainda menos falta do que Wilton Pereira. E também contaria com jogadores que abusassem menos do recurso de faltas como ocorre no Brasil. Isso, obviamente, tomando-se o padrão das principais ligas como Premier League, Bundesliga e La Liga.

No início do Brasileiro, já tivemos 13 jogos que acabaram com 30 faltas ou mais. Ou seja, mais da metade das 21 partidas teve um número altíssimo de paradas faltosas. Fortaleza x Cuiabá chegou a 45 faltas, Flamengo x São Paulo, teve 42 faltas. É sonegar futebol ao torcedor.

Haverá, sim, um tempo para os árbitros se adaptarem à nova filosofia de Seneme. E cometerão erros neste percurso, negligenciando algumas faltas. Mas esse caminho, que já foi prometido algumas vezes no Brasil sem sucesso, é o único a ser seguido se de fato queremos melhorar o nível do nosso futebol.

Só que os jogadores precisam colaborar, querer jogar mais e reclamar menos. A torcida também tem um papel nisso: não adianta querer ver um jogo corrido e ficar gritando por cada encostão, revendo 800 vezes o replay atrás de um puxãozinho no centroavante do seu time. Ao final do jogo, o Palmeiras estava exibindo um vídeo de choque da mão de Hugo em Gustavo Gomez e pedindo pênalti - menos, muito menos. E o mesmo vale para jornalistas: é preciso uma mudança de cultura.

Os árbitros têm um papel importante, mas não são os únicos, não farão sozinhos. O que podem é evitar parar o jogo em qualquer contato e punir de forma mais exemplar times que adotam o rodízio de faltas. Quando passarem a receber amarelos pelos excessos de faltas, os jogadores vão repensar suas atitudes. As reclamações acintosas também devem ser penalizadas, ouvido de juiz não é pinico.

Ao assumir a CBF, Seneme sinalizou na direção certa ao pedir um árbitro mais forte, menos intervencionista e menos dependente do VAR. Mas só terá uma chance de sucesso se todo o ambiente do futebol estiver convencido da mudança.