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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Por que as sanções do governo ameaçam arruinar o Chelsea

Three estava na camisa do Chelsea desde janeiro de 2020 - Twitter / Chelsea FC
Three estava na camisa do Chelsea desde janeiro de 2020 Imagem: Twitter / Chelsea FC

11/03/2022 04h00

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O governo britânico decidiu sancionar o russo Roman Abramovich, dono do Chelsea, com o congelamento dos seus bens no país por sua ligação com o governo russo. É uma consequência da guerra da Rússia contra a Ucrânia. As medidas têm impacto considerável no atual campeão da Champions League que corre o risco de ir à ruína se não houver uma solução para sua venda.

Primeiro, a punição do Reino Unido ocorre porque foi identificada uma conexão entre ele e o presidente russo Vladimir Putin. O documento do governo britânico cita favorecimentos em negociações com o governo e até contratos para organização da Copa-2018.

A decisão era temida pelo próprio Abramovich. Tanto que o bilionário já tinha colocado à venda o Chelsea com medo de uma sanção que paralisasse o clube. Agora, a operação de venda está congelada, embora o governo britânico possa liberá-la no futuro sob determinadas exigências.

Mas, por enquanto, o Chelsea, como ativo pertencente a Abramovich, foi submetido ao congelamento de seus negócios. Mas foram abertas condições especiais para o clube continuar funcionando. A questão é que essas ameaçam inviabilizar sua operação —essa é inclusive a versão dada pelos executivos do time ao governo, segundo o jornal "The Times". O Chelsea pede uma revisão das regras.

Por que essas sanções ameaçam o futuro do clube? As receitas do Chelsea são severamente afetadas, assim como a possibilidade de fazer operações básicas de um clube como vender ingressos e jogadores.

Primeiro, o clube não pode receber fundos de Abramovich. O russo emprestou 1,5 bilhão (R$ 10 bilhões) para o clube por meio da empresa Fordstam, que controla o Chelsea. O time londrino admitiu, em seu último relatório financeiro, ser dependente destes repasses. Afinal, teve prejuízo de 153 milhões de libras (R$ 1 bilhão) no ano de 2020/2021.

Segundo, o clube não pode vender ou comprar jogadores novos. Na última temporada, o Chelsea teve um lucro de 27 milhões de libras (R$ 177 milhões) com negociações.

O clube pode, sim, receber e pagar por contratações já feitas. Mas o dinheiro, que entrar no caixa, vai ser congelado. Não há como usá-lo. E o Chelsea tem em torno de 150 milhões de libras (R$ 985 milhões) para pagar em compras de jogadores nos próximos anos. Mais, não poderá renovar com jogadores chaves como Rudiger ou Azpilicueta, cujos contratos acabam no final da temporada.

Pior, o Chelsea conta com um elenco avaliado em 437 milhões de libras (R$ 2,8 bilhões), mas não poderá vender ninguém por enquanto para aliviar o caixa. Boa parte do elenco nem sequer foi pago integralmente como são os casos de Lukaku e Havertz.

Terceiro, o clube não poderá desenvolver novos negócios comerciais, nem vender mercadorias (camisas). Para se ter ideia, o clube arrecadou 154 milhões de libras (R$ 1,01 bilhão) com esse tipo de transação. A Três Comunicação, principal patrocinadora, já suspendeu o contrato com o Chelsea, outros parceiros analisam a situação.

Quarto, o clube não pode vender novos ingressos, apenas os já negociados para temporadas. São 28 mil lugares, o que significa que o Stranford Bridge deverá ter lugares vazios. Em uma temporada cheia, o Chelsea chega a ganhar 50 milhões de libras com bilhetes. Um consolo é que time pode vender bebidas aos seus fãs.

Quinto, o Chelsea poderá receber suas receitas de televisão, que representaram mais da metade da renda da última temporada: um total de 273 milhões de libras. Mas esse montante foi inflado pelo título da Champions League, com os prêmios correspondentes. Pior, o clube poderá receber o dinheiro, mas o montante vai ser congelado.

Sexto, houve limitações para as despesas de viagem e custos com jogos do Chelsea. Os patamares —20 mil libras (R$ 136 mil)— indicam que as operações do time serão afetadas.

Sim, o Chelsea poderá continuar a pagar salários e pensões. Resta saber de onde vai tirar dinheiro para bancar os cerca de 332 milhões de libras anuais (R$ 2,1 bilhões) com essas limitações. Por isso, parece claro que ou o governo britânico muda as condições atuais ou permite que o Chelsea seja vendido rápido ou pode causar um desastre financeiro no time inglês.