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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Ronaldo e Cruzeiro têm prazo para fechar venda e aporte urgente para dívida

Ronaldo Fenômeno compra ações e vira o dono do Cruzeiro - Reprodução/Instagram
Ronaldo Fenômeno compra ações e vira o dono do Cruzeiro Imagem: Reprodução/Instagram

21/12/2021 04h00

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A partir da assinatura do primeiro acordo, Ronaldo e Cruzeiro terão um período de até 120 dias para concluir a venda definitiva da SAF (Sociedade Anônima de Futebol). Neste período, o ex-jogador vai fazer aportes de emergência de cerca de R$ 21 milhões para dívidas na Fifa, além de salários do final do ano. Depois disso, a nova empresa terá de repassar 20% de suas receitas para o clube quitar a dívida de quase R$ 1 bilhão.

Quem conta o próximos passos SAF é o CEO do Cruzeiro, Paulo Assis, ao blog. A gestão de transição, com dirigentes da associação e de Ronaldo, já se iniciou nesta segunda-feira. Será o período para ele, aos poucos, assumir a empresa e traçar detalhes do acordo final.

No sábado, Ronaldo e Cruzeiro assinaram uma proposta vinculante de aquisição, instrumento parecido com um memorando de intenções em que estão definidas as bases do acordo.

"Foi uma proposta vinculante de aquisição, dependendo de condições a serem atendidas tanto do Ronaldo quanto do Cruzeiro. É parecido com um MOU (Memorando de Entendimento, em inglês). Não fez o fechamento. Do jeito que a gente formatou as partes já estão vinculadas. Essa é a diferença. É uma estrutura de transição. Segunda-feira vamos trabalhar em conjunto. Tá feito o negócio se forem atendidas algumas condições", explicou Assis, que deu a entrevista no domingo.

O prazo para conclusão da venda é de quatro meses. Mas o executivo entende que isso pode ser finalizado antes. "É um prazo limite. Muitas etapas que são descritas como pendentes já foram feitas, então, pode ser mais rápido. É algo padronizado de mercado", explicou.

Quem assinou o acordo com o Cruzeiro foi a empresa Tara Sports, com sede em Madrid, e propriedade de Ronaldo. Ele é o único sócio. Ainda não foi detalhado se ele terá parceiros no investimento. "A proposta vinculante prevê que o sócio relevante tem que ser o Ronaldo", completou Assis.

Por quê? A ideia é que a participação de Ronaldo alavanque receitas do Cruzeiro. Em 2021, o clube deve fechar com uma renda pouco abaixo de R$ 150 milhões por causa da presença na Série B. A aposta cruzeirense é que o ex-jogador repita, em outra proporção, o que fez no Valladolid na parte financeira.

Na Espanha, houve uma redução de débito de 21,6 milhões de euros para 2,2 milhões de euros. A receita cresceu: gira em torno de 62 milhões de euros. Mas a equipe foi rebaixada à Segundona.

Não há previsão de interação entre Valladolid e Cruzeiro no acordo assinado. Mas Assis entende que esse é um processo de sinergia que deve ser natural. Afinal, a Tara Sports é a principal acionista do clube espanhol.

Como primeira medida no Cruzeiro, Ronaldo vai injetar dinheiro para resolver a questão do transfer ban —proibição de contratação. A dívida em execução é referente a três clubes: Defensor (Arrascaeta), Morelia (Marcelo Moreno) e Tigres (Rafael Sobis). O valor estimado é de R$ 21 milhões.

"Vai haver uma entrada de recursos iniciais porque o clube tem uma série de execuções. Isso vai acontecer. Mas a forma do desembolso [durante os anos] ainda não se decidiu", explicou Paulo Assis. "Há ainda situações operacionais precedentes [salários atrasados]. A gente avançou bastante. Mas vamos ter uma necessidade de capital de giro para fechar esse ano."

Pela explicação, ainda não está definido em que período serão desembolsado os R$ 400 milhões previstos para a venda do clube. É certo que a SAF, com Ronaldo, terá de repassar 20% de toda a receita para o pagamento da dívida, assim como 50% dos dividendos. A empresa não é a devedora, e, sim, o Cruzeiro. O clube já está incluído no Regime Centralizado de Execuções para unificar todas as dívidas cíveis e trabalhistas.

"A partir de agora, o Ronaldo, como dono da SAF, tem interesse de pagar o mais rápido possível porque pega 20% de receita. Fará esforços adicionais para pagar os 20%. Se ele pagar em cinco anos, e não dez, vai ser melhor para ele. Ele passa a ser solidário para a dívida depois dos dez anos", contou Assis.

Pela lei, o clube tem 5 anos para pagar pelo menos 60% do débito judicial. Assim, consegue prorrogar o pagamento do restante por mais cinco anos. A velocidade que o Cruzeiro pagará a dívida dependerá da capacidade de Ronaldo de alavancar receitas no clube.

"A grandes questão não é só quanto o investidor vai dar de aporte, mas quanto pode conseguir de receita. O grande ponto para a gente é a capacidade do Ronaldo como gestor para gerar mais receita", disse Assis.

Na transição, Ronaldo não tem tanto a fazer na gestão do futebol, em si. Já está definido o diretor de futebol, Alexandre Mattos, para 2022, assim como o técnico Vanderlei Luxemburgo. O Cruzeiro já fez algumas contratações para a disputa da Série B.

Por fim, na proposta vinculante assinada entre as partes, está previsto que, se Ronaldo optar um dia por revender a SAF, tem de dar prioridade para o Cruzeiro recomprá-la.