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Rodrigo Mattos

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Na Série B, Cruzeiro perde 57% da receita e buraco nas contas cresce

Sérgio Santos Rodrigues, presidente do Cruzeiro - Bruno Haddad/Cruzeiro/Fotos Públicas
Sérgio Santos Rodrigues, presidente do Cruzeiro Imagem: Bruno Haddad/Cruzeiro/Fotos Públicas

27/04/2021 04h00

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Com Thiago Fernandes

O rebaixamento para a Série B provocou uma redução acentuada na receita do Cruzeiro na temporada passada: a arrecadação bruta caiu em 57%. Assim, mesmo com corte de despesas, o clube mineiro teve novo aumento da sua dívida líquida que ficou próxima de R$ 1 bilhão. É o que mostram os números do balanço financeiro do clube obtido pelo blog.

O Cruzeiro entrou em crise por causa da gastança da gestão anterior de Wagner Pires de Sá. Houve um aumento brutal da dívida e a queda para a Série B em 2019. O clube não conseguiu voltar à elite na temporada de 2020.

É uma péssima notícia quando se percebe os efeitos do rebaixamento sobre as finanças cruzeirenses. Em 2020, o clube teve receita operacional bruta de R$ 123 milhões diante de R$ 289 milhões em 2019. Houve efeitos da pandemia de coronavírus, mas o principal motivo foi a queda de divisão.

Houve queda de receita de direitos de transmissão de R$ 102,5 milhões para R$ 40,4 milhões. Ressalte-se que uma parte dos pagamentos do pay-per-view do Brasileiro ficou para 2021. Além disso, o Cruzeiro arrecadou apenas R$ 23,5 milhões com venda de jogadores quando a cifra tinha ultrapassado R$ 100 milhões no anterior em que foi registrada a venda de Arrascaeta.

Houve, sim, uma redução de custo do Cruzeiro da ordem de 40%. Só que isso foi insuficiente para enquadrar os gastos dentro dos limites financeiros. Até porque houve despesas com tributos e rescisões contratuais. As despesas operacionais ficaram em R$ 275 milhões, valor bem superior ao que o clube recebeu.

O déficit registrado foi R$ 227 milhões. E o valor só não foi maior porque foram contabilizadas receitas financeiras de 177 milhões referentes ao desconto dado pelo governo em acordo para pagamento das dívidas fiscais.

A gestão do novo presidente Sergio Rodrigues, que assumiu o clube no meio do ano, afirmou que o seu período à frente do Cruzeiro teve superávit. "Considerando apenas a gestão do presidente Sérgio Santos Rodrigues, que assumiu o Cruzeiro de forma oficial a partir de junho de 2020, o Clube apresentou superávit de R$ 33 milhões no período", diz nota do clube. Há o mérito de sua gestão de fazer o acordo com a Procuradoria Geral da Fazenda que alongou a dívida do clube.

Em 2020, o clube fechou com uma dívida líquida de R$ 963 milhões. Houve um crescimento em relação aos R$ 799 milhões do final de 2019. Em sua nota, o Cruzeiro informa ter uma dívida global de R$ 897 milhões sem explicar o critério para o número.

Mas há um ponto positivo: o débito circulante, aquele que tem de ser pago em um ano, caiu 43%: ficou em R$ 385 milhões. Esse é o passivo que mais estrangula os clubes.

Ainda assim, a situação é complicada. O débito líquido de curto prazo representa o triplo da receita anual do clube no ano passado. Ou seja, nem se não tivesse despesa alguma, o clube conseguiria pagar todos seus compromissos.

O aumento do endividamento tem relação com obrigações trabalhistas não pagas, principalmente acordos de rescisões contratuais. O clube ainda tem a pagar cerca de R$ 200 milhões em contratações, o que mostra o dano feito pela gastança de Wagner Pires de Sá.

O Cruzeiro negociou dívidas e cortou custos para se adequar à nova realidade. Mas o problema deixado pela gestão anterior é ainda avassalador sobre as contas do clube.