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Rodrigo Mattos

REPORTAGEM

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Clubes da Superliga recebem mais regalias da Uefa do que times da Conmebol

23/04/2021 04h00

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A revolta dos clubes gigantes europeus para criar a Superliga teve como principal motivo aumentar receitas. Reclamam da Uefa por entenderam que ganham menos do que mereciam na Champions League. Pois os clubes grandes sul-americanos levam uma fatia menor da arrecadação da Libertadores do que os europeus nas suas competições continentais.

As competições sul-americanas notoriamente tratavam mal seus clubes, com contratos obscuros e cotas baixas. Houve uma melhoria significativa com a nova gestão de Alejandro Dominguez que estabeleceu concorrência por contratos e aumentou o valor da venda de direitos. Em paralelo, houve incremento nos prêmios aos clubes. Isso impediu revoltas por liga vistas em gestões anteriores.

Mas a Libertadores continua a ser uma competição que remunera percentualmente seus principais clubes abaixo do que ocorre na Champions League. A diferença é que, na Europa, os clubes exercem uma pressão bem maior sobre a Uefa do que as agremiações sul-americanas em relação à Conmebol.

Vejamos as contas. A Uefa mostrou que sua arrecadação total pela Champions League e Europa League foi de 3,2 bilhões de euros nas edições de 2019/2020. Desse total, foram distribuídos para os times 2,5 bilhões de euros. Ou seja, um total de 78,4% foi para os cofres das equipes, sendo 2 bilhões de euros para os participantes da Liga dos Campões.

Em comparação, a Libertadores 2020 teve uma arrecadação de US$ 272,2 milhões e a Sul-Americana, US$ 37,2 milhões. Os clubes ficaram com 70,3% desse valor já que as premiações somaram US$ 217,5 milhões. Há um detalhe: a Libertadores atualmente subvenciona a Sul-Americana já que a receita da segunda competição é menor do que o dinheiro distribuído aos times.

O presidente da Conmebol, Alejandro Dominguez, tem exaltado o aumento nos últimos anos da premiação dos dois campeonatos. A entidade não reduziu os valores apesar de rompimentos de contratos com a Globo e a DAZN que reduziram as receitas. Mas a distribuição de dinheiro para os times ainda é aquém da europeia

Mais do que isso, os clubes grandes que geram mais receita para a Libertadores são pior remunerados do que os gigantes europeus. A divisão de dinheiro feita pela Conmebol é igual para todos os clubes, sejam eles lá quais forem. Não importa o passado ou o valor de mercado que agrega à competição.

O Brasil, por exemplo, gera cerca de 40% da receita da Libertadores, mas seus clubes não têm nenhum privilégio na divisão. Essa arrecadação só é possível porque as torcidas de Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG têm interesse e geram audiências e pagamentos de pay-per-view à Conmebol, agora que existe a Conmebol TV.

Pois bem, na Europa, a Champions League adota dois outros critérios que consideram tradição e valor de mercado dos clubes na distribuição de um terço do dinheiro. Do total, 585 milhões de euros são divididos de acordo com um ranking de desempenho na Champions nos últimos dez anos. Outros 292 milhões são destinados ao chamado "market pool", isto é, mais dinheiro para mercados que geram mais receita. Clubes ingleses são favorecidos neste caso.

Ainda assim, os 12 clubes - Manchester United, City, Chelsea, Liverpool, Arsenal, Tottenham, Barcelona, Real Madrid, Atlético de Madri, Milan, Inter de Milão, Juventus - fundaram uma Superliga para poder triplicar os ganhos anuais com o campeonato continental. No final, a pressão de torcedores, governos e da Uefa e Fifa os fez recuar e a iniciativa fracassou.

Em troca, no entanto, a Uefa já estabeleceu um novo formato da Champions League que aumenta o número de jogos na fase de grupo. A expectativa é incrementar a arrecadação. Ainda não está claro se haverá mudança na distribuição de recursos.

Esse é outro fator: os clubes europeus têm mais poder de interferência na gestão da competição continental do que os sul-americanos. Por lá, há negociações para estabelecer novas fórmulas. Na América do Sul, a Conmebol tinha um conselho consultivo dos 16 times que chegam às oitavas de final, mas as agremiações têm pouco poder. Tanto que a mudança de formato estabelecida para a Libertadores foi feita com base em um estudo de uma consultoria internacional sem ouvir os times.

Ainda assim, na América do Sul, os clubes não dão sinais públicos de insatisfação com a Conmebol.