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Rodrigo Mattos

Arbitragem da semi do Palmeiras derruba tese de benefício a argentinos?

Árbitro Esteban Ostojich mostra cardão amarelo a Marcos Rocha em Palmeiras x River Plate - REUTERS/Nelson Almeida
Árbitro Esteban Ostojich mostra cardão amarelo a Marcos Rocha em Palmeiras x River Plate Imagem: REUTERS/Nelson Almeida

13/01/2021 03h59

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Não, o Palmeiras não se classificou à final da Libertadores por causa da arbitragem. É correto dizer que o time foi muito mal e só a sorte (e seu goleiro Weverton) o impediu de tomar uma virada história do River Plate. Mas as três interferências do VAR em lances decisivo, todas a favor do time brasileiro, foram corretas. Portanto, o vídeo corrigiu o que estava errado.

No primeiro lance, que gera mais dúvida, houve um impedimento de Borré, do River, no início da jogada. Havia duas questões: 1) o toque para Borré tinha sido do jogador do River? Sim, foi de Enzo Perez com leve desvio de palmeirense que não muda a marcação. 2) um impedimento naquela altura do lance gera anulação? Não há uma regra objetiva do corte da revisão, mas, sim, se o impedimento foi na fase de ataque que gerou o gol, deve-se anular. Foi o caso.

Ou seja, o árbitro Leodan González acertou apesar da demora. Assim como errou ao marcar o pênalti em cima de Suárez que força o contato com o defensor palmeirense e cai. O VAR corrigiu.

No lance final, Borré sofre pênalti de Luan, mas estava impedido. De novo, o árbitro de vídeo identificou a irregularidade.

Somada à expulsão de Rojas pelo segundo amarelo, também correta, foram quatro decisões em favor do Palmeiras e contra o River Plate em uma semifinal de Libertadores. Corretas, diga-se. O time argentino também tivera um atleta, Carrascal, expulso em Buenos Aires.

Esse River Plate que é considerado o time com trabalho de bastidor mais forte na Conmebol pela proximidade de seu presidente Rodolfo D'Onofrio da cúpula da Conmebol. De fato, ele sempre foi próximo da gestão de Alejandro Domiguez.

Ora, isso não derruba a tese tão difundida no Brasil de que há uma tendência de arbitragens favoráveis aos argentinos na Libertadores? Não há dúvida que times brasileiros têm o que reclamar em campeonatos anteriores e até nesse. Lembremos que o Santos teve um pênalti ignorado diante do Boca Juniors no jogo de ida da semifinal. Mas isso está na conta de benefícios ao país vizinho ou erros comuns de arbitragens?

A tese de que os argentinos eram favorecidos não é um mito urbano ou saída do nada. Durante anos, Julio Grondona, então poderoso chefão da AFA, tinha enorme poder sobre a arbitragem sul-americana. Ele foi inclusive grampeado dando instruções a um árbitro. E isso em um tempo de uma Conmebol em que praticamente todo o Comitê Executivo - isto é, dirigentes de todos os países - eram corruptos como mostrou a investigação do caso Fifa. Três presidentes da confederação acabaram acusados de receber propina ou presos.

E há, sim, erros escandalosos como um jogo decisivo entre Boca Juniors e Corinthians, no Pacaembu, em que o time brasileiro foi prejudicado do início ao fim. É só um exemplo para não me estender.

Mas a Conmebol mudou. Faz licitações para contratos, publica contas, foi atrás de recuperar o dinheiro perdido por corrupção no caso Fifa, melhorou a organização de seus torneios, implantou um VAR que é exposto publicamente. Ninguém aqui está dizendo que trata-se de uma entidade sem defeitos, em que não há política envolvida, e especialmente não há garantias de que não haverá erros de arbitragem futuros. Os próprios argentinos acusaram a Conmebol de favorecer o Brasil na última Copa América, o que gerou um racha político.

Não há, no entanto, aquele ambiente de terra de ninguém em que a suspeita era a regra. Os clubes brasileiros podem esperar que, sim, ainda vão ocorrer erros contra eles, e possivelmente a favor. A arbitragem sul-americana, mesmo com VAR, é ruim. Ao que tudo indica, no entanto, não há uma balança pendendo a favor de outro país. Esperemos que o Santos x Boca não nos desminta, nem as competições futuras.