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Renato Mauricio Prado

Dome, enfim, entende o Fla e troca o totó pelo carrossel

Alexandre Vidal / Flamengo
Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

10/09/2020 04h00

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A cada jogo fica mais claro: Domènec Torrent, enfim, começa a entender as características do farto e espetacular elenco que tem nas mãos. Aquela obsessão pelo 4-3-3 posicional, aquela mania de não escalar Arrascaeta e Éverton Ribeiro juntos, aquela teimosia de achar que os jogadores é que têm que se adaptar ao seu sistema e não o contrário, isso tudo, parece, vai ficando pelo caminho. Para alívio e alegria da torcida rubro-negra.

O Flamengo que derrotou o Fluminense por 2 a 1 (placar que não traduziu a imensa superioridade rubro-negra na partida) foi um time completamente diferente de tudo o que o treinador catalão vinha tentando no confuso início de seu trabalho. E o resultado foi ótimo. A melhor atuação do rubro-negro sob o comando do novo técnico. Insinuante e dominante do meio para frente e seguro na defesa - que voltou a atuar avançada, praticamente no meio-campo.

Com cinco meio-campistas escalados juntos, de início - Thiago Maia, Gérson, Diego, Arrascaeta e Éverton Ribeiro - e apenas um atacante de ofício - Gabigol, o chamado futebol de totó foi mandado às favas, em prol de uma tática de alta rotatividade e, por que não dizer, uma espécie de carrossel que tomou conta do meio-campo e da partida.

Como bem ressaltou, em entrevista no intervalo, o lateral-esquerdo Filipe Luís (autor do primeiro gol da partida, num chute espetacular), tudo fica mais fácil quando o time tem liberdade para se deslocar e trocar passes, na base do talento de seus jogadores. Foi o que se viu no Maracanã, na última quarta-feira. Era o que se via, nos tempos de Jorge Jesus.

Sim, é verdade que havia uma preocupação de ocupar as laterais do campo, no ataque. Ora era Isla, pela direita, ora o próprio Filipe Luís, pela esquerda. Mas sem radicalismos. Éverton Ribeiro flutuava da direita para o centro, de um lado, e Arrascaeta fazia o mesmo, da esquerda para a entrada da área, do outro. E era o talento que abria os espaços, não as posições fixas do tal esquema posicional.

O recém-contratado lateral direito Isla, uma vez mais, mostrou ser um substituto à altura de Rafinha. Sua participação no primeiro gol foi decisiva. Suas ações ofensivas permitiram que Éverton Ribeiro tivesse mais liberdade e na defesa e, ainda que às vezes exposto, em contra-ataques, se saiu bem também na marcação. Um tiro certeiro de Marcos Braz. Mais um.

O lado esquerdo do ataque, naturalmente, ainda se ressente de Bruno Henrique - do melhor Bruno Henrique. Mas na formação do Fla-Flu, com Arrascaeta, Filipe Luís e até Gabigol caindo por lá, existem opções suficientes para equilibrar o ataque.

Gabigol, aliás, fez mais um golaço. E provou que, estando bem fisicamente, não há motivo razoável para ficar no banco de reservas. Se o departamento médico e de fisiologia indicarem algum desgaste que possa causar riscos de contusão, ok. Caso contrário, é obrigatório deixar o principal goleador do time jogar!

Rodrigo Caio, curiosamente, o único jogador que ainda não entrou no propalado rodízio de Dome, fez mais uma partida monumental. Não perdeu uma disputa de bola. Merece até descansar contra o Ceará, já que no meio de semana tem jogo pela Libertadores. Léo Pereira, Gustavo Henrique ou Matheus Thuler podem formar a dupla de zaga na próxima rodada do Brasileiro.

O Flamengo do Fla-Flu não foi perfeito, mas sinalizou, após a quarta vitória consecutiva, que ainda é, sim, o mais forte candidato ao título do Campeonato Brasileiro. É, igualmente, um dos favoritos na Libertadores. Domenèc só não pode atrapalhar. E ele parece já ter entendido isso.

Sem desculpas

Aquela história de um raio que teria caído nas redondezas, derrubando uma árvore sobre a rede elétrica, causando o curto-circuito no ar-condicionado que provocou o incêndio que matou dez meninos no Ninho do Urubu ruiu como um castelo de cartas com a estupenda reportagem de Léo Burlá e Pedro Ivo, no UOL.

Ela prova que desde março de 2018, e-mails trocados por funcionários do Ninho do Urubu reconheciam e alertavam para uma série de gambiarras e instalações precárias no quadro de luz dos containers que serviam de alojamento para os garotos no CT rubro-negro.

Os problemas eram de conhecimento geral. E o "prefeito" do Ninho, Marcelo Helman, nada fez, sob a alegação de que em pouco tempo as instalações seriam abandonadas, porque o novo CT dos profissionais estaria pronto e os meninos ocupariam o antigo.

Entre os alertas e a tragédia se passaram oito meses! Helman foi contratado pela gestão de Eduardo Bandeira de Mello e mantido pela de Rodolfo Landim. Só deixou o clube nos cortes feitos durante a pandemia, por causa da crise financeira. Ganhava R$ 60 mil por mês. E nem sequer foi capaz de privilegiar a segurança dos garotos que moravam nas instalações das quais era o principal responsável. Que a Justiça cuide do seu futuro.