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Rafael Reis

REPORTAGEM

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Por que a Arábia Saudita está fazendo tudo para ser o novo polo do futebol?

Jogadores do Al-Hilal foram premiados pela realeza por chegarem à final do Mundial - Reprodução/Instagram @alhilal
Jogadores do Al-Hilal foram premiados pela realeza por chegarem à final do Mundial Imagem: Reprodução/Instagram @alhilal

Colunista do UOL

11/02/2023 04h00

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Pela primeira vez na história, um time da Arábia Saudita jogará a decisão do Mundial de Clubes da Fifa (o Al-Hilal enfrenta o Real Madrid, às 16h, no Marrocos, pelo título de melhor equipe de futebol do planeta).

No mês passado, a nação do Oriente Médio contratou o maior reforço para o seu campeonato nacional em todos os tempos: o multicampeão português Cristiano Ronaldo, agora jogador do Al-Nassr.

Ao mesmo tempo, os sauditas têm assistido a seu time na Inglaterra (o Newcastle) brigar lá em cima na tabela da Premier League, o campeonato nacional mais badalado do planeta, e sonhar com a classificação para a próxima edição da Liga dos Campeões da Europa.

Simultaneamente, a nação asiática se organiza para enfrentar Marrocos, Espanha/Portugal/Ucrânia e Uruguai/Paraguai/Chile/Argentina pelo direito de organizar a Copa do Mundo-2030, que comemorará o aniversário de cem anos da competição.

Tantos episódios importantes acontecendo simultaneamente com a Arábia Saudita não são uma mera coincidência. O país tem gastado a rodo para se transformar em um novo polo importante do futebol mundial.

A ideia da realeza (em especial, do seu príncipe herdeiro, Mohammed bin Salman, dono do Newcastle e principal financiador de tudo que envolva a bola por lá) é utilizar a popularidade do esporte mais amado do planeta para melhorar a imagem internacional do regime do qual faz parte e fazer mais negócios com o exterior.

Essa política, conhecida como "Sportswashing", está longe de ser uma novidade e já era adotada por Adolf Hitler (Alemanha) e Benito Mussolini (Itália), na década de 1930. Mais recentemente, o Qatar aderiu ao movimento ao encher o Paris Saint-Germain de craques globais (Kylian Mbappé, Lionel Messi e Neymar) e organizar a Copa-2022, o que inspirou a Arábia Saudita a seguir o mesmo caminho.

Os sauditas têm um longo histórico de violação de direitos humanos (especialmente em relação às mulheres e à comunidade LGBTQIA+) e também de perseguição religiosa contra a minoria cristã que habita o país.

Além disso, o próprio Bin Salman foi apontado por um relatório de inteligência norte-americano como mandante da morte do jornalista Jamal Khashoggi, um ferrenho opositor do governo árabe, ocorrida em 2018.

Coincidência ou não, foi depois desse acontecimento que a nação intensificou o investimento em futebol e, entre outras coisas, ajudou o Al-Hilal a montar um elenco agora capaz de lutar pelo título de "número um do mundo".

Vencedor da Liga dos Campeões da Ásia em 2021, o Al-Hilal só disputa o Mundial de Clubes porque a edição do ano seguinte do torneio continental ainda não terminou. A AFC (Confederação Asiática de Futebol) aproveitou a brecha da Copa do Qatar-2022 para adotar o "calendário europeu", mudar o período de disputa da competição e estendê-la até maio.

Antes da histórica classificação para final, as melhores campanhas da Arábia Saudita na competição eram a quarta colocação obtida pelo Al Ittihad em 2005 e repetida pelo Al-Hilal dois anos em 2019 e 2021.

Já o Real Madrid é o maior vencedor do torneio da Fifa, com quatro títulos (2014, 2016, 2017 e 2018). Os merengues ganharam ainda três taças da antiga Copa Intercontinental, que também tinha status de Mundial apesar de reunir somente os campeões de Europa e América do Sul: 1960, 1998 e 2002.

Ao longo da história, somente times europeus e sul-americanos já se sagraram campeões mundiais. Só que as últimas nove edições do torneio foram vencidas pelos representantes do Velho Continente. A última equipe de lá a ser derrotada na competição foi o Chelsea, batido pelo Corinthians na final de 2012.

AS ÚLTIMAS FINAIS DE MUNDIAIS DE CLUBES

2012 - Corinthians (BRA) 1 x 0 Chelsea (ING)
2013 - Bayern de Munique (ALE) 2 x 0 Raja Casablanca (MAR)
2014 - Real Madrid (ESP) 2 x 0 San Lorenzo (ARG)
2015 - Barcelona (ESP) 3 x 0 River Plate (ARG)
2016 - Real Madrid (ESP) 4 x 2 Kashima Antlers (JAP)
2017 - Real Madrid (ESP) 1 x 0 Grêmio (BRA)
2018 - Real Madrid (ESP) 4 x 1 Al-Ain (EAU)
2019 - Liverpool (ING) 1 x 0 Flamengo (BRA)
2020 - Bayern de Munique (ALE) 1 x 0 Tigres (MEX)
2021 - Chelsea (ING) 2 x 1 Palmeiras (BRA)