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Rafael Reis

REPORTAGEM

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'Chutados' da Europa, magnatas russos se movem para comprar times no Brasil

Russo Roman Abramovich era dono do Chelsea antes da guerra na Ucrânia -  O Antagonista
Russo Roman Abramovich era dono do Chelsea antes da guerra na Ucrânia Imagem: O Antagonista

Colunista do UOL

09/02/2023 04h00

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Excluído dos principais campeonatos nacionais da Europa desde o começo da guerra na Ucrânia, há um ano, o dinheiro dos magnatas russos pode encontrar um novo lar no futebol brasileiro.

O "Blog do Rafael Reis" apurou que pelo menos quatro clubes das duas primeiras divisões nacionais receberam nas últimas semanas representantes de investidores da terra de Vladimir Putin interessados na compra das suas SAFs (Sociedades Anônimas do Futebol).

E um desses negócios está evoluindo consideravelmente. O Londrina, nono colocado na última Série B, já até recebeu uma proposta russa na casa de R$ 80 milhões para assumir a gestão do seu departamento de futebol. Metade desse valor ficará com o clube e a outra metade irá para a SM Sports, empresa do agente Sérgio Malucelli que é dona do centro de treinamento utilizado pela equipe.

O clube paranaense foi um dos primeiros do Brasil a negociar com investidores estrangeiros (conversou com o Grupo City três anos atrás, antes mesmo da aprovação da lei que criou o modelo das SAFs).

Além do grupo que deseja comprar o time paranaense, cujos integrantes têm sido mantidos em sigilo pelos envolvidos na negociação, há pelo menos mais um fundo da Rússia prospectando negócios no futebol brasileiro.

Esses dois investidores não são novatos no mundo da bola. Eles já colocam dinheiro em equipes do seu país de origem e estão atrás de uma expansão. O plano A era assumir o comando de times em mercados do primeiro escalão europeu. Mas, como encontraram as portas fechadas por lá, acabaram fazendo uma mudança de rota e vindo ao Brasil.

Desde que a Rússia decidiu invadir a Ucrânia, em fevereiro do ano passado, e deu início a uma guerra condenada por praticamente todo o mundo ocidental, os compatriotas de Putin vêm sendo alijados do cenário internacional do futebol.

Tanto a seleção russa quanto os clubes do país estão até hoje proibidos de disputar competições organizadas pela Fifa e pela Uefa, como a Copa do Mundo, a Eurocopa e a Liga dos Campeões.

Também houve uma forte campanha (com direito a ações legais, inclusive) para que clubes estrangeiros que tivessem empresários russos como proprietários ou acionistas minoritários mudassem de mãos.

O caso mais conhecido foi o de Roman Abramovich, responsável por transformar o Chelsea em um dos times mais poderosos da Europa neste século.

O magnata, famoso pela proximidade com Putin, teve suas contas no Reino Unido bloqueadas e foi obrigado pelo governo britânico a vender o clube para o norte-americano Todd Boehly por ser um "apoiador da guerra".

Ante as dificuldades para encontrar clubes na Europa dispostos a furar esse bloqueio e receber investimento russo, Abramovich ainda não anunciou qual será a sua próxima investida no futebol. Aparentemente, aqui no Brasil, ele não teria problemas para encontrar alguém disposto a fazer essa cessão.

Dos 20 clubes participantes da primeira divisão do Campeonato Brasileiro deste ano, quatro têm seus departamentos de futebol gerenciados por investidores estrangeiros: Bahia (Grupo City), Botafogo (John Textor), Bragantino (Red Bull) e Vasco (777 Partners).

O Cruzeiro também já aderiu ao modelo de SAF e terceirizou o comando do seu time. A diferença é que seu acionista majoritário é do próprio país, o ex-atacante Ronaldo Fenômeno, que inclusive jogou no clube e possui ainda um time na Espanha (o Valladolid).