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Rafael Reis

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Os 7 motivos que levaram o Barcelona ao "fundo do poço"

Messi caminha enquanto jogadores do PSG comemoram mais um gol do clube francês ao fundo - Alex Caparros - UEFA/UEFA via Getty Images
Messi caminha enquanto jogadores do PSG comemoram mais um gol do clube francês ao fundo Imagem: Alex Caparros - UEFA/UEFA via Getty Images

10/03/2021 04h00

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Segundo maior vencedor da Liga dos Campeões da Europa neste século, o Barcelona deve protagonizar hoje uma despedida melancólica da competição que venceu quatro vezes desde 2006.

A menos que goleie o Paris Saint-Germain por pelo menos quatro gols de diferença (ou vença por três tentos de vantagem, com placar maior que 4 a 1), dentro da França, o time de Messi irá embora da competição interclubes mais importante do planeta ainda nas oitavas de final.

Desde 2007, quando foi derrotado pelo Liverpool exatamente nessa fase, o Barça não é eliminado tão cedo da Champions.

Só que, mesmo normalmente indo longe no torneio, o clube catalão tem acumulado vexames nas últimas temporadas. O maior deles, sem dúvidas, foi a derrota por 8 a 2 para o Bayern de Munique, nas quartas da edição passada.

Mas, como é possível que um time que brilhou tanto no cenário europeu ao longo das últimas décadas tenha entrado em uma decadência tão profunda e acelerada? O "Blog do Rafael Reis" apresenta abaixo os sete motivos que levaram o Barcelona ao "fundo do poço".

Deixar Neymar ir embora

Neymar foi contratado pelo Barcelona para ser o protagonista jovem do clube e, com o passar do tempo, herdar a coroa de astro máximo que pertencia (e continua pertencendo) a Lionel Messi. Só que a diretoria culé não conseguiu convencer o brasileiro a esperar que essa transição se completasse. Em 2017, o Paris Saint-Germain pagou os 222 milhões de euros (R$ 1,5 bilhão na cotação atual) da multa rescisória do atacante e o levou para ser o dono da equipe na França. Apesar do dinheirão que recebeu, o Barça ficou sem o cara que garantiria o futuro do time e foi se tornando cada vez mais dependente do cada vez mais envelhecido Messi, que agora já tem 33 anos e cansou de carregar "sozinho" seus companheiros nas costas.

Fortuna mal gasta

É claro que o Barcelona poderia ter aproveitado a grana da venda de Neymar para encontrar no Mercado da Bola um outro jogador capaz de fazer diferença dentro de campo, decidir jogos e reduzir a sobrecarga de Messi. Só que os principais tiros dados pelo clube passaram longe do alvo. Depois da saída do brasileiro, o Barça gastou 415 milhões de euros (R$ 2,9 bilhões) só na aquisição de três candidatos a novas estrelas: Philippe Coutinho, Antoine Griezmann e Ousmane Dembélé. Porém, nenhum deles conseguiu até hoje justificar o investimento. Os três reforços milionários não renderam como o esperado, jamais caíram nas graças da torcida e até passaram um tempo no banco de reservas.

Medalhões blindados

Piqué - GettyImages - GettyImages
Imagem: GettyImages

Enquanto torrava as economias para tentar encontrar um "novo Neymar", o Barcelona deixou de lado o rejuvenescimento de outros setores do time. O zagueiro Gerard Piqué, o lateral esquerdo Jordi Alba e o volante Sergio Busquets, remanescentes do período em que o clube conquistava um título atrás do outro, foram envelhecendo e perdendo rendimento. Mesmo assim, jamais foram incomodados pela chegada de reforços e continuam com seus lugares garantidos no time titular. Com uma equipe envelhecida, o Barça perdeu velocidade e capacidade de atuar em alta intensidade durante muito tempo.

Escolhas conservadoras

Quando tudo está dando errado, é natural que você opte por buscar um novo caminho, uma revolução capaz de alterar seus rumos. Definitivamente, o Barcelona não pensa assim. Todos os técnicos contratados desde a saída de Guardiola, lá em 2012, tinham alguma conexão anterior com o clube, nem que fosse na questão da ideologia do futebol (caso de Quique Setién). Faltou à diretoria culé coragem para romper velhos laços, buscar nomes já consagrados em outros países da Europa, como Inglaterra, Alemanha ou Itália, e arriscar com comandantes que não apenas reproduziriam padrões, mas que levariam realmente algo de novo ao Camp Nou.

Declínio de La Masia

O Barcelona vendeu ao mundo a ideia de que possuía em suas categorias inferiores uma fábrica de jovens jogadores de qualidade acima da média, que dariam ao time principal uma espinha dorsal formada em casa. Só que depois da badalada "geração de 1987", a de Messi, Piqué e Cesc Fàbregas, pouca gente formada em La Masia conseguiu se firmar no primeiro escalão do futebol mundial. O meia Thiago Alcântara, a maior das exceções, até atingiu o estrelato, mas só depois de sair do Barça rumo ao Bayern de Munique. Hoje, a aposta recai sobre nomes como Ansu Fati, Riqui Puig, Óscar Mingueza e Ilaix Moriba, todos ainda muito jovens para uma responsabilidade desse tamanho.

Diretoria tóxica

 Josep Maria Bartomeu é presidente do Barcelona (Foto: F.C. Barcelona) 		 - Divulgação	 - Divulgação
Imagem: Divulgação

O que dizer de uma diretoria que comete todos os erros citados acima e ainda tem a capacidade de entrar em confronto explícito com o maior jogador da história do clube, Messi, até chegar ao ponto de ele anunciar que vai embora para outro time após o fim do seu contrato? Por essas e outras, a gestão de Josep María Bartomeu é vista praticamente como uma unanimidade no ponto de vista de desastre. Para completar, o dirigente, que comandou o Barça entre janeiro de 2014 e outubro do ano passado, ainda foi preso na última semana. A acusação é tão bizarra que chega a ser surreal: o cartola teria contratado uma consultoria especializada em gestão de dados e redes sociais e desviado sua função para espalhar fake news sobre seus principais opositores, como Messi e Joan Laporta, eleito no domingo o novo presidente culé.

Pandemia

Se as coisas no Barcelona já estavam ruins no começo do ano passado, elas pioraram consideravelmente depois da covid-19. É claro que a pandemia acabou afetando as finanças de todos os clubes do planeta. Mas, no caso do Barcelona, o estrago foi bem maior que a média. Isso porque o clube tem um estádio com capacidade para receber 100 mil torcedores e um dos museus (com loja oficial e os tradicionais souvenires) mais visitados da Espanha. Com o fechamento dessas estruturas para o público, muito dinheiro deixou de entrar nos cofres blaugranas, e a dívida do Barça foi às alturas. Só em contas que precisam ser quitadas até junho, a agremiação deve incríveis 730 milhões de euros (R$ 5 bilhões).