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Rafael Reis

Espanha já vendeu direitos de transmissão como o Brasil... e se arrependeu

Karim Benzema e Sergio Ramos foram os protagonistas do título espanhol do Real Madrid - Denis Doyle/Getty Images
Karim Benzema e Sergio Ramos foram os protagonistas do título espanhol do Real Madrid Imagem: Denis Doyle/Getty Images

26/07/2020 04h00

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Negociação individual da transmissão do campeonato nacional e direitos das partidas sendo exclusividade do time mandante. As principais brigas encabeçadas pelos clubes brasileiros nos últimos tempos relacionadas à exibição dos seus jogos já foram testadas pelo futebol espanhol. E devidamente reprovadas por lá.

Ente 1998 e 2014, cada equipe da primeira divisão da Espanha era responsável por negociar com os canais de televisão as transmissões das partidas em que atuava em casa no campeonato nacional.

O resultado dessa política foi a abertura de um fosso imenso entre Barcelona/Real Madrid e o resto, o crescimento dos problemas financeiros entre as equipes pequenas do país e a perda de competitividade da competição no cenário internacional, em relação a outros campeonatos, como o Inglês e o Alemão.

Foi necessário uma intervenção estatal no futebol. Uma lei promulgada há cinco anos alterou a dinâmica dos direitos de transmissão na Espanha e estabeleceu a "venda em bloco" como o melhor cenário para o desenvolvimento da modalidade por lá. Tudo em nome de maior competitividade e de um crescimento coletivo.

"Quando um clube negocia individualmente seus direitos, é isso o que acontece. Para alguns, esse liberalismo pode parecer bom. Mas a gente não pode se esquecer que o legal da competição não é ter um grande campeão e grandes perdedores. Você precisa fazer o campeonato ser mais emocionante", disse o representante no Brasil da La Liga, entidade que organiza o Espanhol, Albert Castelló, durante live realizada no perfil do "Blog do Rafael Reis" no Instagram.

"A gente percebeu que precisava mudar. Então, a La Liga passou a cuidar da venda da transmissão [negociação em bloco] e de fazer a distribuição desse dinheiro da forma mais equalitária possível."

A mudança na forma de negociação dos direitos de transmissão e a redistribuição de receitas tiveram um efeito para lá de positivo. Cinco das seis últimas edições da Liga dos Campeões foram vencidas por equipes do país (quatro pelo Real e uma pelo Barça), hegemonia só vista anteriormente na década de 1950.

No mesmo período, o Atlético de Madri chegou a duas finais. Em 2014 e 2016, foi derrotado em decisões "100% espanholas".

Na Liga Europa, a situação não foi muito diferentes: foram cinco títulos da nação campeã mundial de 2010 nas oito temporadas mais recentes (o Sevilla ganhou três vezes e o Atleti, duas).

Mesmo no Campeonato Espanhol, que continua dominado pela dupla de gigantes (vencedora de 15 das 16 edições mais recentes), o desequilíbrio tem diminuído progressivamente. Em 2011/12, auge da disparidade, Barcelona e Real somaram sozinhos 18,3% dos pontos da competição. Na recém-encerrada temporada, essa marca já caiu para 16,7%.

"Antes dessa lei, Real Madrid e Barcelona ganhavam [de direitos de transmissão] mais ou menos 12 vezes mais que os clubes que terminavam nas últimas posições. Atualmente, essa diferença está na casa de 3,5 vezes. Criamos estruturas para outros clubes terem mais condições de serem competitivos", adicionou Castelló.

E, nesse novo cenário, todo mundo passou a ganhar mais dinheiro. Na temporada passada, a liga espanhola registrou seu maior faturamento da história (3,4 bilhões de euros, ou R$ 20,7 bilhões), ultrapassou o Alemão e voltou a ser o segundo campeonato nacional do planeta com maior receita.

Além disso, todos os clubes da primeira divisão registraram lucros operacionais, situação bem diferente da Premier League inglesa, ainda a mais rica do mundo, que, de acordo com a consultoria Deloitte, teve prejuízo acumulado de 1,1 bilhão de euros (R$ 6,7 bilhões).

A mais última edição do Campeonato Espanhol terminou no fim de semana passado e consagrou o Real Madrid como campeão pela 34ª vez. A equipe dirigida por Zinédine Zidane, o Barcelona e o Atlético ainda estão vivos na disputa da Champions.

Com o atraso do calendário provocado pela pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a próxima temporada da La Liga está prevista para começar no dia 12 de setembro, e não em agosto, como de costume.