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Rafael Reis

Política em campo: 5 times de futebol que são de direita

Torcedores da Lazio fazem ato em homenagem a Mussolini, ex-ditador italiano - Reprodução
Torcedores da Lazio fazem ato em homenagem a Mussolini, ex-ditador italiano Imagem: Reprodução

27/05/2020 04h00

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Já houve quem dissesse que futebol e política não se misturam. Basta dar uma olhada na história do esporte mais popular do planeta para perceber que quem pensa assim está profundamente enganado.

Ao longo dos últimos 150 anos, ditadores usaram clubes populares para promover seus regimes, presidentes financiaram a construção de estádios e torcedores encontraram no futebol a forma de se expressar contra governantes.

Há clubes que são conhecidos internacionalmente por terem abraçado alguma bandeira político-ideológica. Um exemplo famoso vem de Barcelona. É impossível dissociar o movimento pela independência da Catalunha do clube que tem Lionel Messi como craque.

O "Blog do Rafael Reis" apresenta nesta semana times que não têm problema nenhum em se posicionar. Ontem, mostramos cinco equipes de futebol que são de esquerda. Hoje, é a vez de apresentar cinco clubes que estão à direita no espectro político.

LAZIO (ITA)

O futebol italiano é dominado por clubes que estão ligados às ideias de direita. Mas, nenhum time relevante do país é tão conectado com a causa quanto a Lazio. O clube é até hoje lembrado por causa de um torcedor ilustre, o ditador Benito Mussolini, pai do fascismo. Setenta e cinco anos depois da sua morte, "Il Duce" ainda é tratado como um Deus pelos torcedores mais extremistas da equipe romana. Os ultras, como são conhecidos, têm um longo histórico de comportamento de extrema-direita: que vai de ofensas raciais contra jogadores negros ou judeus até a proibição da presença feminina nas arquibancadas mais próximas ao gramado do Estádio Olimpico. Outro personagem de devoção laziale é o ex-atacante Paolo di Canio, um fascista assumido, que atuou no clube durante sete temporadas e chegou a comemorar um gol fazendo o Saluto Romano, saudação que os italianos em veneração a Mussolini.

LEGIA VARSÓVIA (POL)

Torcida do Legia Varsóvia - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Líder do Campeonato Polonês e vencedor de três das últimas quatro temporadas, o Legia já era visto como um símbolo da direita mesmo quando o país fazia parte do bloco socialista. Depois da redemocratização polonesa, os torcedores do clube radicalizaram o discurso. Os inimigos deixaram de ser apenas os políticos de esquerda que governavam a Polônia, mas também os negros, os judeus e alguns movimentos separatistas de outras nações europeias, como o de Kosovo. Devido ao comportamento discriminatório dos seus ultras, o Legia Varsóvia já foi punido algumas vezes pela Uefa e acumula diversas multas.

REAL MADRID (ESP)

Assim como a Lazio, o clube mais vitorioso da história também se beneficiou de um regime ditatorial de direita para construir sua trajetória de sucesso. O Real Madrid foi o time escolhido pelo General Francisco Franco, que governou a Espanha de 1938 a 1973, para receber todo o investimento estatal que era possível. O Generalíssimo, como era chamado, influenciou a construção do estádio Santiago Bernabéu e também a ida do craque argentino Alfredo di Stéfano para a capital espanhola (após ele ter acertado a transferência para o Barcelona). Ao contrário do que acontece com a Lazio, no entanto, a torcida do Real não é ideologicamente tão radical. Mesmo assim, seus ultras já entraram em confronto com torcedores adversários, como os do Olympique de Marselha, apenas por eles serem mais identificados com a esquerda.

ZENIT SÃO PETERSBURGO (RUS)

O clube russo é outro cuja torcida tem um comportamento mais de "extrema-direita" do que propriamente de direita. O tabloide inglês "Sun" já descreveu o Zenit como o time de futebol mais racista do planeta. Os torcedores mais radicais da equipe de São Petersburgo se consideram como defensores da "tradição cultural da Rússia" e, por isso, são absolutamente contrários à contratação de jogadores negros ou homossexuais. O atacante brasileiro Malcom, que é negro, sentiu na pele essa ojeriza. Logo em sua estreia pelo Zenit, em agosto do ano passado, apoiadores do clube estenderam uma faixa nas arquibancadas ironizando a decisão da diretoria de "desrespeitar" as tradições da agremiação ao contratar o ex-Corinthians e Barcelona.

BEITAR JERUSALÉM (ISR)

Torcida do Beitar Jerusalém - Reprodução - Reprodução
Imagem: Reprodução

Alguém consegue imaginar torcedores abandonando o estádio em protesto depois de um gol marcado pelo time de coração? Pois foi isso que alguns radicais de Beitar Jerusalém fizeram em 2013, quando Zaur Sadayev balançou as redes pela primeira vez em seu novo clube. Qual era o problema com o jogador? Ele era muçulmano. Os ultras de extrema-direita do Beitar, conhecidos como "La Familia", não têm vergonha nenhuma de defender a intolerância racial/religiosa. Uma das manifestações contrárias a contratação de árabes ou muçulmanos foi cantar que eles são "a torcida mais racista do mundo". Desde 2018, o nome oficial da agremiação é Beitar Trump Jerusalém Futebol Clube, homenagem prestada pela diretoria ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, depois de ele anunciar que reconheceria Jerusalém, e não Tel-Aviv, como capital de Israel.