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Time da Redenção dos EUA pode ser exemplo para fim da soberba na seleção

Kobe Bryant comemora após vitória na final olímpica de Pequim - AFP PHOTO / FILIPPO MONTEFORTE
Kobe Bryant comemora após vitória na final olímpica de Pequim Imagem: AFP PHOTO / FILIPPO MONTEFORTE

Colunista do UOL

08/01/2023 11h19

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Acabei de assistir ao documentário "O Time da Redenção", que trata da seleção de basquete dos Estados Unidos nos Jogos Olímpicos de 2008, em Pequim. Ele mostra a revolução do time norte-americano após a medalha de bronze, em Atenas (2004), resultado que foi considerado ruim.

Depois do terceiro lugar no torneio, a seleção olímpica dos Estados Unidos passou por uma mudança do comando técnico e da direção. Convocaram outros jogadores: apenas quatro atletas de 2004 ficaram para iniciar os treinamentos para a Olimpíada de Pequim, em 2008.

No caminho, a seleção ainda perdeu o Mundial de 2006, no Japão, diante da Grécia, na semifinal. Assim, em dois anos, os norte-americanos precisaram mudar completamente o comportamento para recuperar a autoestima do povo, que não acreditava mais no basquete do país.

Para começar, chamaram o Kobe Bryant. Depois, iniciaram um processo para fazer os astros da NBA entenderem que o jogo é coletivo. Tudo para recuperar a identidade da seleção com os torcedores. A missão mais difícil foi tentar abaixar a soberba dos jogadores.

Bom, fiz esse resumo porque estamos na mesma situação com a nossa seleção brasileira de futebol masculino. Para mim, será preciso fazer o mesmo processo de recuperação da autoestima dos brasileiros, criar uma nova identificação e o mais difícil: abaixar a soberba dos jogadores atuais.

O presidente da CBF e os jogadores de futebol deveriam assistir ao documentário para, talvez, perceberem que será muito difícil competir com as outras seleções favoritas, caso a seleção mantenha essa postura.

Talvez, precisaremos criar a nossa seleção da redenção, para humanizar e ajudar os jogadores a recuperar a raiz em cada um. O documentário mostra que, quando os jogadores da NBA começaram a ganhar muito dinheiro, eles foram perdendo o entendimento do amor pela camisa norte-americana.

De uma certa forma, isso aconteceu por aqui também. Não discuto o que os jogadores ganham, porque são pagos pelo dom que tem. Discuto porque o futebol perdeu completamente a noção de realidade.

Na Copa do Qatar, eu fiz uma crítica aos ex-jogadores da seleção, que ficaram sentados na tribuna junto com o presidente da Fifa. Comparei-os com os ex-atletas argentinos, que estavam se comportando como verdadeiros torcedores, vibrando, cantando as músicas e torcendo de verdade para a sua seleção.

A grande maioria das pessoas e jornalistas concordaram comigo, menos os jogadores. Essa mudança também aparece no documentário. Na Olimpíada de Atenas, eles não ficaram na Vila Olímpica e, sim, num navio, porque se achavam os melhores e não queriam ser assediados pelos os outros atletas e torcedores.

Em Pequim, isso também mudou: a seleção norte-americana ficou na Vila, ao lado de todos os atletas do mundo, de todas as modalidades. Pensam: Kobe Bryant, Lebron James e Dwyane Wade andando no meio de todos, comendo no refeitório.

Fora essa interação com os atletas, eles foram para as arquibancadas do ginásio e dos estádios para torcer para as equipes norte-americanas de outras modalidades. No fim, conquistaram a medalha de ouro diante da Espanha, então campeã mundial, em um dos grandes jogos de todos os tempos, contra vários jogadores que estavam na NBA.

Recomendo esse documentário porque também serve para todos nós. Em alguns momentos da nossa trajetória, é necessário uma mudança de comportamento para voltar a vencer na vida.