Topo

Casagrande

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dependência química é uma doença grave: qualquer deboche é perversidade

Walter Casagrande Jr., em cena do documentário "Casão - Num jogo sem regras", da Globoplay - Reprodução/Globopla
Walter Casagrande Jr., em cena do documentário 'Casão - Num jogo sem regras', da Globoplay Imagem: Reprodução/Globopla

Colunista do UOL

09/11/2022 09h58

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Todos sabem o problema sério que tive com a minha dependência química no passado.

Junto com o jornalista Gilvan Ribeiro, escrevi dois livros sobre esse assunto: "Casagrande e seus demônios" e "Travessia".

O primeiro livro está na maioria das clínicas de recuperação, e também é muito usado em cursos sobre dependência química nas faculdades de psicologia.

Já dei inúmeras entrevistas sobre essa doença, que é gravíssima. É classificada como uma doença progressiva, crônica e fatal.

Esse é um assunto muito sério, no mundo inteiro, não só aqui no Brasil. Entre 10 dependentes, no máximo dois conseguem se recuperar.

Todas as famílias que convivem com alguém com esse problema sabem muito bem o tamanho do sofrimento. Ele afeta a família toda. As pessoas próximas ficam doentes também, porque viram co-dependentes.

Eu e minha família sofremos com isso por muitos anos. Lembrar dos momentos em que deixei de lado meus pais, meus filhos, meus amigos e até o trabalho por não conseguir me conter e lidar com o desespero pela falta de controle... é angustiante.

Estou limpo há muitos anos. Não bebo, não fumo, e, obviamente, estou muito distante das drogas.

Tenho uma vida saudável, treino no mínimo três vezes por semana, e me dedico muito a passar a minha história para frente, com a intenção de esclarecer e ajudar o máximo de famílias possíveis.

Fiz parte de um projeto chamado "Ceará sem drogas", em que viajei durante quatro anos por todo o estado para conversar com pais, crianças e adolescentes, para alertar sobre o risco de ser tornar um dependente químico.

A Globoplay produziu um documentário sobre a minha vida, com a direção da cineasta Susanna Lira, enfatizando muito esse período. Foi uma série muito assistida, e que consegue ajudar muita gente.

Não tenho vergonha nenhuma em ser um dependente químico. E tenho orgulho de ter me esforçado para me recuperar e ter uma vida normal como tenho hoje.

Sempre digo que nós, dependentes, somos todos iguais. A diferença está na oportunidade de se tratar ou não, e também de querer ou não mudar de vida.

Por isso, me considero igual às pessoas doentes que estão pelas ruas jogadas, como na Cracolândia de São Paulo. Muitos estão ali porque a família e eles próprios desistiram, não aguentaram mais lutar contra aquela situação.

Quando falo isso, não é sensacionalismo, e nem um recado para ninguém.

É para mim mesmo.

Porque um ponto básico do tratamento e da recuperação é nunca esquecer o seu passado, para tomar cuidado para não repeti-lo.

Fiquei um ano internado e mais uns 9 anos me tratando com psicólogos, psiquiatras e fazendo grupos terapêuticos com outros dependentes como eu.

Trabalhei muito o meu emocional. Mergulhei dentro de mim, porque precisava me conhecer melhor e descobrir como me livrar daquela vida.

E uma das situações para as quais os psicólogos nos preparam é para os ataques preconceituosos.

Sofria muito no início, quando lia pessoas me chamando de drogado, viciado, cheirador e outros ataques desse tipo. Porque não são críticas. São ataques preconceituosos.

E não me surpreende de forma alguma quando uma pessoa como Neymar curte um post com essas perversidades, preconceitos e grosserias.

Ele já demonstrou diversas vezes ser uma pessoa que não tem a mínima preocupação com o próximo.

Nunca incentivou a vacinação. Apesar de ter muito dinheiro, não se mexeu para ajudar as pessoas de Manaus que durante a pandemia estavam morrendo por falta de oxigênio. Não gastou um centavo para comprar um tubo de oxigênio, como fez o Richarlison, por exemplo. Organizou festas em plena pandemia.

As críticas que faço ao Neymar sempre foram em cima de fatos, nunca usando qualquer tipo de problema pessoal que ele tenha.

Portanto, Neymar, se a sua intenção foi me causar algum mal emocional, mostrando todo o seu lado preconceituoso, isso não aconteceu.

Eu tenho Cristo no meu coração, e não é o mesmo que você diz ter, assim como o seu líder Jair Bolsonaro. Pessoas como vocês, preconceituosas, são absolutamente pobres de espírito. Não importa quanto dinheiro ou poder tenham.

É por isso que te chamo de fake Ney. Você é um dos muitos covardes que publicaram fake news para enganar e manipular a sociedade brasileira. Você é um fake cidadão brasileiro.

Gostaria de terminar esse texto agradecendo pelo carinho que as pessoas têm comigo e por todas que, neste caso específico, estão demonstrando sua solidariedade. Meu muito obrigado a todos vocês.