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Minha batalha contra as drogas ajuda outros a lutarem também

Muitas pessoas sabem que todas as terças-feiras, às vezes também nas quintas, vou caminhar no Parque do Ibirapuera.

Gosto sempre de ir com uma camisa retrô de times de futebol ou de basquete porque acho todas muito lindas sem patrocínio.

Nessa terça-feira (30), fiz uma homenagem ao Vasco da Gama, que tem uma rica história, com uma camisa do começo dos anos 70 número 10 do meu amigo e ídolo, o saudoso Roberto Dinamite.

Posto sempre uma foto e agradeço muito o carinho e o afeto com que as pessoas me tratam e a gostosa troca de energia positiva que fazemos lá inclusive com os funcionários também.

Mas dessa vez foi muito especial para mim porque encontrei uma pessoa que me fez refletir, sentir que os erros reconhecidos que fazemos na vida muitas vezes servem para ajudar outras pessoas além de nós mesmos.

Pois bem, durante a caminhada cruzei com um cara que me olhou e falou o seguinte: "Fala Casão, beleza? Eu gostaria de te agradecer muito porque você mudou a minha vida".

Respondi: "Nossa, eu que te agradeço, mas gostaria de saber o motivo do seu agradecimento".

Pois bem, ele me explicou o motivo e mexeu muito comigo.

"Casão, eu parei de beber por sua causa, sou um alcoólatra que não conseguia parar e a minha mãe, corintiana fã de você e do Sócrates, me deu o seu livro e me disse: 'Filho, leia esse livro porque você conseguirá parar com a bebida porque se o Casão conseguiu você também pode conseguir".

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Bom, fiquei sem reação, emocionado, com os olhos lacrimejando e falei: "Caramba cara, fico muito feliz por você mas precisa ter muito enraizado a vontade de parar e se recuperar".

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Imagem: Arquivo pessoal

Nos cumprimentamos e continuei a minha caminhada, e ele o seu trote.

Esse encontro me fez ganhar o meu dia porque tudo o que faço, falo, escrevo sobre a dependência química vale muito a pena e me fortalece quando aparece alguém dizendo que estou sendo uma referência para a recuperação dela.

Isso já me aconteceu diversas vezes por todos esses anos e nas primeiras vezes não resistia e chorava muito de emoção porque ainda estava no início do processo.

Mas hoje bate em mim como se fosse o "espinafre para o Popeye" porque me sinto muito mais forte, orgulhoso, seguro e reconhecendo que todos os anos de sofrimento com uso de drogas e o sofrimento da difícil recuperação estão dando resultado muito positivo.

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Já faz muitos anos que não bebo, não fumo e obviamente estou anos-luz de distância de todas as drogas existentes.

Gosto sempre de jogar claro e aberto, portanto digo para se conseguir viver em recuperação e ter uma vida normal, a pessoa precisa estar convicta de querer mudar radicalmente o estilo de vida, e mesmo assim é uma estrada complicadíssima.

A mãe do rapaz tem razão: se um consegue, significa que tem luz no final do túnel para todos. Mas entenda que esse túnel é bem longo, mas quando se chega no final dele, a sensação de liberdade e de vida é a coisa mais incrível que alguém pode sentir.

Todo dependente de qualquer substância ou vício de qualquer coisa se torna um escravo.

A dependência não é apenas de drogas e álcool, mas também do vício em compras, jogos, alimentação, chocolate, enfim, a compulsão te adoece e te vicia em qualquer tipo de coisas.

Fiquei internado um ano junto com todos os tipos de transtornos, vícios e dependência e a dificuldade para largar e mudar de vida é dificílima para qualquer compulsão.

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Então, quando encontro pessoas que estão conseguindo, independentemente de eu ter sido uma referência ou não, me deixa muito feliz.

A luta vale a pena!

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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