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OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Do fundo de um coração cheio de amor preto e branco: parabéns, Corinthians!

Reprodução/Site Corinthians/Nelson Coelho
Imagem: Reprodução/Site Corinthians/Nelson Coelho

Colunista do UOL

01/09/2022 04h00

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É difícil de escrever, sem se emocionar, sobre um clube que faz parte da minha vida desde criança. As minhas histórias como jogador do Corinthians todo mundo já sabe, mas desconhecem a paixão do torcedor Waltinho. É isso que quero contar.

Cresci ouvindo três palavras: Corinthians, Rivellino e Pelé. E a minha primeira memória de impacto é a da quebra do tabu contra o Santos, em 1968, em que o Corinthians venceu por 2 a 0 com gols de Paulo Borges e Flávio. Eu tinha cinco anos.

Um tio meu, o tio Ney, namorava uma sobrinha do ex-zagueiro Ditão, do Corinthians, e me levou ao casamento dele. Nesta festa, ainda bem pequeno, conheci vários jogadores — não só do Corinthians, mas também de outros times. Mas eram os corintianos que mais me interessavam. Ah, e meu tio casou com a sobrinha do Ditão!

Depois, meu pai me levou para assistir uma partida de futebol no estádio pela primeira vez. Foi logo depois da Copa de 1970, no México. Fomos ao Parque São Jorge assistir Corinthians 1 x 1 Ponte Preta (gols de Lima e Manfrini). E, nesse jogo, iriam voltar depois da Copa, o Ado e o Rivellino, que tinham acabado de ser campeões mundiais. O meu maior ídolo, Rivellino, deu uma volta olímpica e não jogou. Mas consegui vê-lo de perto, e foi o máximo. Já o Ado — que é um dos meus grandes ídolos do Corinthians — jogou.

Depois disso, meu pai começou a me levar aos jogos e, de cara, me apaixonei pela Fiel Torcida recém-formada.

Em 1975, com 12 anos, fui para o dente de leite do Corinthians. E a primeira vez que vesti aquele manto foi uma sensação indescritível e inesquecível. Foi um sonho que me deixou feliz para sempre. Eu vivia no clube, jogando bola, vôlei, basquete... estava lá o tempo todo, e me sentia em casa.

Agora, vou até confessar para vocês uma coisa que meus saudosos pais nunca souberam: eu cabulava aula uma vez por semana para assistir os treinos do Corinthians. Era uma paixão enorme por esse clube! (Mas meninos e meninas, por favor, não façam isso!).

Na invasão do Maracanã contra a Máquina Tricolor, em 1976, fiquei abismado e muito emocionado com a entrada do time em campo. Para quem ainda não sabia como era o Corinthians, ficou sabendo naquela tarde de domingo, né?

Na campanha da quebra do tabu, em 1977, assisti a muitos jogos. Lembro que na quinta-feira do título, em que vencemos com o gol do Basílio, a festa foi incrível! Minha irmã Zildinha (que faleceu em janeiro de 1979) e o seu marido foram me pegar em casa e rodamos São Paulo com uma bandeira enorme do Corinthians. Muita gente na rua com bandeiras, carros buzinando.. e eu com 14 anos entendi perfeitamente o que era ser corintiano.

Foi uma sensação incrível de felicidade e ali ficou claro, como canta o Toquinho, "que ser corintiano é ir além de ser ou não ser o primeiro".

Alguns anos se passaram e virei jogador profissional do time do coração de toda a minha família, principalmente do meu pai, e do meu coração também. Isso foi muito complicado inicialmente, porque eu era um verdadeiro torcedor em campo e sabia muito bem o que um torcedor corintiano espera de um jogador. No Corinthians, é preciso unir a técnica com a raça — e até pode faltar um pouco de técnica; mas raça, nunca.

Casagrande e Sócrates em ação pelo Corinthians - Reprodução - Reprodução
Casagrande e Sócrates em ação pelo Corinthians
Imagem: Reprodução

Tive o prazer de unir o meu amor corintiano a um gênio da bola e do mundo como foi o Magrão, meu grande amigo Dr. Sócrates, e juntos conquistamos o bicampeonato paulista em 1982 e 1983. Além disso, lutamos pela nossa democracia vestindo a camisa do Corinthians.

Foi nesse período que também tive a honra de conviver e jogar com pessoas admiráveis como Zé Maria, Wladimir, Ataliba, Biro-Biro, Eduardo, Paulinho e todos os outros que fizeram parte da Democracia Corintiana. Tivemos o privilégio de que cada gol que fazíamos não era só pelo time, mas também pela democracia e pela sociedade brasileira.

Vivi paixões incríveis nos meus anos dentro daquele clube. E fiz grandes amizades, porque o corintiano é unido pela paixão, pelo amor e pela carência também.

Ter o meu nome gritado pela Fiel Torcida, mesmo eu sendo um adversário naquele jogo Corinthians x Flamengo em 1993, foi a maior prova de amor e carinho que recebi na minha vida como jogador de futebol. Ali foi outro momento marcante, porque depois de muitos anos de Europa e de naquele momento estar em um time do Rio, aquele fato me provou que apesar da distância e do tempo, eu ainda era amado pela torcida e continuava muito corintiano também.

Parabéns, Sport Club Corinthians Paulista, pelos seus 112 anos de história! Muito obrigado por ter me deixado fazer parte dela! Quero te dizer, Corinthians, que você é o grande amor da minha vida dentro do futebol. Jamais me esquecerei dos maravilhosos momentos que passamos juntos.

Com amor, Walter Casagrande Junior, o Casão.

(E como já cantou a Fiel Torcida: "Doutor, eu não me engano: o Casagrande é corintiano!")