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OPINIÃO

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Muitos não sabem o que é um Corinthians x Palmeiras; hoje, vão descobrir

Abel Ferreira e Vítor Pereira se reencontram para o terceiro dérbi em 2022 - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira e Vítor Pereira se reencontram para o terceiro dérbi em 2022 Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL

13/08/2022 04h00

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Você não sabe o que é um Corinthians x Palmeiras!"

Essa foi uma frase marcante dita pelo personagem, um treinador do Palmeiras, que o Lima Duarte interpretou no filme "Boleiros - Era uma vez o futebol", de 1998, dirigido pelo Ugo Giorgetti.

E a realidade é que, de fato, muitos não sabem a verdadeira importância desse Dérbi para o futuro dos jogadores dos dois times. Nesse momento, quem precisa urgentemente dar uma resposta em campo são os jogadores do Corinthians e o próprio treinador Vítor Pereira, que até agora só perdeu para o Abel Ferreira.

O Yuri Alberto, por exemplo, não fez nenhum gol até agora, mas tudo pode mudar para ele — tanto para o lado positivo quanto para o negativo — depois dessa partida. Fazendo gols e o seu time vencendo, ele ganhará muitos créditos com a Fiel torcida. Mas se o Corinthians perder, e ele jogar mal, a paciência com o jogador vai diminuir.

E eu sei muito bem como muda para um jogador ir bem nesse clássico, principalmente para os atacantes. Falo isso porque tive duas experiências positivas, marcantes, e que mudaram o meu futuro dentro do Corinthians.

A primeira foi na época de juvenil, no fim da década de 1970, quando eu tinha só 16 anos. Pela minha idade, eu jogava no juvenil C — naquela época, o juvenil B e o A eram com garotos mais velhos.

Depois de um jogo contra o São Paulo, teve uma briga com várias expulsões, e o treinador ficou sem jogadores para continuar o campeonato do juvenil B. Ele me perguntou se eu poderia jogar como centroavante, contra o Paulista de Jundiaí, na preliminar do profissional fora de casa. Eu falei que sim, mesmo sabendo que os jogadores adversários já tinham 17 e 18 anos.

Ganhamos por 4 a 1, fiz dois gols e comecei a chamar a atenção. No outro domingo, o jogo era contra o Palmeiras, também na preliminar, no Morumbi. Vencemos de novo por 4 a 1, e eu fiz três gols.

Depois disso, tudo mudou. Comecei a ser muito falado dentro do Parque São Jorge e já me viam como uma grande promessa. Virei intocável, não só no juvenil B como também no A, em que os garotos já tinham 19, 20 e 21 anos. Joguei duas Taças São Paulo bem novinho. E, depois de um tempo, o saudoso treinador Orlando Fantoni me chamou para treinar com os profissionais.

Mas a segunda experiência foi a mais importante.

Foi durante o Campeonato Paulista de 1982, com o grande time da Democracia Corintiana, em que eu ainda não tinha conquistado totalmente a confiança dos torcedores, da diretoria e dos jornalistas — até se falava na contratação de um centroavante mais experiente, como o Baltazar (Grêmio) e o Mirandinha (Botafogo).

Mas aí chegou o Dérbi.

No dia 1º de agosto de 1982, um domingo, enfrentamos o Palmeiras às 16 horas, no Morumbi. Nesse jogo, eu tirei todas as dúvidas de quem ainda tinha alguma.

Era meu primeiro confronto contra o Palmeiras como profissional e tudo estava correndo bem: vencíamos por 2 a 1 com gols do Magrão e do Biro-Biro para o Corinthians, e do Jorginho para o Palmeiras. Esse placar durou até os 38 minutos do segundo tempo — e depois disso, tudo mudou de uma maneira formidável!

Fiz três gols em quatro minutos: o primeiro foi aos 38, o segundo aos 39 e o terceiro aos 41. Todos da mesma maneira, demonstrando um enorme senso de posicionamento e de oportunismo.

Depois desse jogo, nunca mais falaram em contratar outro centroavante. Virei titular do Corinthians até o dia em que fui para o Porto, em 1986.

Bom, dei esses dois exemplos para mostrar como tudo pode mudar num jogo entre Corinthians e Palmeiras.

Do lado do Corinthians, tirando o Cássio e o Fagner, todos que entrarem em campo estarão na linha do limite, em que dependendo do desempenho e do resultado, podem se tornar um herói ou um vilão.

Além de ser o primeiro colocado, o Palmeiras também está em muita vantagem no lado emocional, psicológico e, claro, na parte tática e técnica. Só uma derrota trágica poderá criar problemas para os jogadores do Abel Ferreira — o que, convenhamos, é uma situação improvável.

O Corinthians pode vencer, porque o Dérbi tem essa história de não importar quem está melhor ou pior no momento. Já vi diversas vezes o time numa fase melhor entrar no jogo e perder o clássico. Mas acho difícil ter uma goleada para o lado do Vítor Pereira.

O Palmeiras, para mim, é o favorito por ser mais time, mas vai encontrar um Corinthians que sabe o momento ruim que está passando, e que tudo pode desmoronar no caso de uma derrota contundente.

Alguns jogadores do Vítor Pereira também sabem muito bem que esse jogo pode criar muitos problemas — ou, no caso contrário, também pode ajudar a cair nas graças da torcida.

Mas, no fundo, acho até que alguns dos jogadores que vão jogar esse Dérbi ainda não sabem a dimensão de um Corinthians x Palmeiras. Do lado do Verdão, a maioria só sabe como é ganhar atropelando. E os jogadores do Timão sabem como é ser atropelado (como foi no primeiro turno).

Será que as coisas podem se inverter dessa vez?