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Vinte e Dois

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O Los Angeles Lakers tem decisões importantes a tomar para o ano que vem

LeBron James e Anthony Davis, do Los Angeles Lakers, se cumprimentam durante jogo da NBA - Thearon W. Henderson/Getty Images/AFP
LeBron James e Anthony Davis, do Los Angeles Lakers, se cumprimentam durante jogo da NBA Imagem: Thearon W. Henderson/Getty Images/AFP

Vitor Camargo

Colunista do UOL

07/07/2021 04h00

Quando os Lakers foram eliminado pelos Suns na primeira rodada dos playoffs, admito que fiquei um pouco surpreso com a quantidade de gente tratando a derrota como se fosse um ponto final na trajetória do então campeão da NBA. Sim, no papel o atual campeão ser eliminado na primeira rodada é problemático, mas contexto é fundamental. Um ano marcado por múltiplas lesões forçou o time a terminar em sétimo e pegar Phoenix logo de cara, com LeBron limitado e Anthony Davis machucado ao longo da série.

Embora muitos apontem para a série decepcionante de LeBron - que já tem 36 anos e uma infinidade de milhagem nas pernas - como exemplo de que o Rei está envelhecendo e não deve mais continuar a ser a força dominante do passado, vale lembrar que LeBron jogou os playoffs contundido e que antes da lesão ele estava jogando em nível MVP.

Isso é para dizer que, honestamente, eu não vejo esse cenário de terra arrasada em Los Angeles que alguns parecem vender. A margem de erro vai diminuindo, sem dúvida - LeBron estará um ano mais velho, Davis é sempre uma incógnita para ficar saudável -, mas enquanto os dois estiverem em quadra, LA vai ser um time fortíssimo e candidato ao título.

Também é verdade que esses dois pontos colocam mais pressão nos Lakers em relação ao elenco ao redor das estrelas, e nós vimos um pouco disso esse ano. Como o elenco de apoio não encaixou tão bem ou não deu a mesma liga que a versão de 2020. A janela de título vai continuar aberta enquanto Davis e LeBron estiverem lá, mas é importantíssimo colocar as peças certas ao redor da dupla para maximizar essas chances. Embora parte da torcida esteja pedindo uma terceira estrela, a verdade é que a situação salarial atualmente é muito complicada, e isso limita as chances de reforços.

No momento, os Lakers têm apenas quatro jogadores sob contrato para a temporada 2021/2022: LeBron, Davis, Kuzma e KCP (Gasol também, mas não deve retornar). Só com os salários desses quatro, Los Angeles já soma US$ 102,5 milhões contra o teto salarial. Some a isso US$ 7,5 milhões de dinheiro morto, e já são US$ 110 milhões comprometidos contra um teto salarial que deve ser de US$ 112 milhões, e isso sem considerar o dinheiro necessário para assinar o resto do elenco. Harrell também tem uma opção de US$ 9 milhões que ele pode recusar para se tornar agente livre ou não, mas mesmo que recuse, Los Angeles já está acima do teto salarial da NBA, precisando ainda preencher pelo menos oito vagas do seu time.

O que isso significa? Na prática, que suas opções para adquirir reforços são extremamente limitadas. Eles não têm espaço salarial para oferecer contratos a agentes livres de outras equipes, que seria a forma mais óbvia de trazer novos jogadores. Que os Lakers não conseguiriam oferecer contratos máximos para uma superestrela, como Kawhi Leonard, já era sabido, mas dessa maneira os Lakers só podem oferecer dois tipos de contratos para agentes livres: contratos mínimos, ou então usando a mid-level exception, ou MLE, uma exceção equivalente a um salário médio da NBA, cerca de US$ 9,8 milhões por ano que as equipes podem usar anualmente para passar do teto salarial. Só que, para piorar, os Lakers devem pagar multas salariais neste ano, o que significa que a MLE que podem oferecer é metade da normal. Ou seja, Los Angeles não vai conseguir trazer nenhum agente livre neste ano por mais do que US$ 4,9 milhões por ano (e mesmo assim só um jogador nessa faixa).

Isso nos leva ao verdadeiro dilema que os Lakers enfrentam nesta offseason, que é o que fazer com os seus próprios agentes livres. Quando um time renova com seus próprios jogadores, ele não fica preso pelo teto salarial (de modo geral, existem várias regras a esse respeito que não valem a pena expandir aqui). Portanto, Los Angeles estar acima do teto salarial não o impede de trazer de volta seus jogadores do ano passado - o que não quer dizer que vá conseguir trazê-los, afinal todos os outros times da liga estarão atrás deles também. Mas, considerando que os Lakers não têm meios viáveis de repor os jogadores que perder, a franquia não pode se dar ao luxo de abrir mão de muitas peças - e por isso eu acredito que esse vai ser o grande foco.

O principal agente livre de LA - pelo menos no nome - é Dennis Schroder, alguém que eu não enxergo voltando para Los Angeles. Além das supostas dificuldades de relacionamento, com Schroder que estaria insatisfeito com seu papel "menor" na equipe, há questões financeiras. O esperado é que o armador comande um contrato volumoso na offseason, com valor que os Lakers não vão querer pagar - não só pelo dinheiro, mas principalmente pela duração. Por mais que maximizar o curto prazo seja fundamental com LeBron, os Lakers também precisam manter um olho voltado para um eventual futuro pós-James, no qual precisaria se remontar ao redor de Davis. Duvido que a franquia iria querer um contrato milionário de Schroder empacando esse processo.

Outros agentes livres devem ser mais realistas de se reter. Alex Caruso não deve sair barato, pois já tem 27 anos e é sua grande chance de conseguir garantir um salário grande no mercado. Mas ele é um encaixe excelente na franquia, surgiu dentro do time, e tanto ele como os Lakers devem estar satisfeitos em renovar - especialmente se Schroder sair. Markieff Morris também pode voltar: ainda que não possa receber um salário grande por ser uma renovação de "curto prazo" (de novo, vou evitar entrar nas complexidades salariais), ele pareceu ter se encontrado nos Lakers e já manifestou seu desejo de continuar. Wesley Matthews vive situação semelhante. Andre Drummond é outro que eu apostaria num retorno, apesar de uma performance decepcionante nos playoffs. Mesmo podendo renovar apenas por algo perto de um salário mínimo, a contratação dele sempre pareceu um "acordo de cavalheiros", no qual esses contratos mínimos seriam recompensados no futuro com um aumento salarial.

Um caso mais interessante é o de Talen Horton-Tucker, que vai ser agente livre restrito - o que significa que LA pode igualar qualquer proposta que o ala receba no mercado. No papel, você imaginaria que isso significaria uma renovação, mas se THT receber um interesse significativo no mercado pode acabar não sendo tão simples. Uma renovação com Caruso e THT provavelmente colocaria o Lakers como pagador de multas salariais na NBA. LA é um dos times mais ricos da NBA e dificilmente vai evitar a multa tendo a chance de ganhar um título, mas não quer dizer que possa sair rasgando dinheiro, ainda mais por um jogador ainda jovem que - apesar de talentoso - tem uma contribuição relativamente limitada no curto prazo. Em vez disso, THT pode ser chave para abrir portas para uma das pouquíssimas formas que Los Angeles terá para reforçar seu elenco para 2022: trocas.

Quando falamos em Lakers e trocas, os torcedores já pensa em Damian Lillard, mas isso (provavelmente) é apenas sonho impossível. Ao invés disso, LA deveria visar veteranos que ajudem a completar esse elenco no curto prazo, especialmente armadores e/ou chutadores na ala. E nisso THT e Schroder podem ajudar: os dois são agentes livres, mas Los Angeles pode fazer o chamado sign and trade, quando ele renova com o jogador e o troca imediatamente para outra equipe. THT, em especial, é o melhor candidato para isso, já que os Lakers têm mais força na negociação por ele ser agente restrito.

Dificilmente uma troca de algum dos dois iria trazer uma grande peça, mas esse é o ponto: o Lakers não precisa de grandes peças com LeBron e Davis no time. Precisa de jogadores eficientes que completem a dupla, façam sua função e encaixem com o resto do elenco. São esses jogadores que as limitações salariais impedem que LA adicione, e são esses que eles deveriam buscar a partir de THT e Schroder.

Porque, para mim, no fim do dia é a isso que se resume: os Lakers continuarão brigando por títulos enquanto tiverem Davis e LeBron. No entanto, mesmo que traga de volta a maior parte do elenco, o time tende a ser inferior ao de 2021, e ainda mais em relação ao de 2020. E disputar título não é uma variável binária: quanto melhor seu elenco, maiores suas chances. A situação salarial de LA faz com que seja difícil grandes movimentos que alterem significativamente essa situação.

Trabalhar nas margens, algo que a franquia negligenciou nos últimos anos e agora paga o preço, pode ser a melhor alternativa da equipe para tentar aumentar as chances rumo a mais um título.