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É complicado: Como a Honda não saiu da Fórmula 1 e está voltando em 2023

Max Verstappen, da Red Bull, durante primeiro treino livre do GP de São Paulo, em Interlagos - REUTERS/Ricardo Moraes
Max Verstappen, da Red Bull, durante primeiro treino livre do GP de São Paulo, em Interlagos Imagem: REUTERS/Ricardo Moraes

Colunista do UOL

16/12/2022 04h00

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A divulgação da lista oficial de inscritos para a temporada 2023 da Fórmula 1 revelou o novo nome do motor das Red Bull e das AlphaTauri: Honda RBPT. Depois de ver suas próprias unidades de potência sendo rebatizadas como Red Bull Powertrains, o nome por trás da sigla, os japoneses perceberam a oportunidade de marketing que deixaram para trás e entraram em acordo com a Red Bull para fazer a mudança. Debaixo das carenagens, no entanto, nada muda. No futuro, a história pode ser outra.

Para essa história fazer mais sentido, é preciso voltar a outubro de 2020, quando a Honda anunciou que estaria saindo da F1 no final de 2021. Foi uma decisão que veio da direção da montadora no Japão e era baseada na necessidade de focar o investimento em tecnologias sustentáveis.

A divisão esportiva da Honda sempre quis permanecer, e buscou costurar o melhor acordo possível, inclusive, para manter o emprego de todos que estavam na Inglaterra apenas para o projeto da F1.

A Red Bull, por sua vez, não tinha alternativas, e mesmo assim acabou com um acordo bastante vantajoso. Eles teriam os motores fabricados e operados pela Honda, inicialmente até o final de 2023. Com a extensão do contrato, esse serviço será prestado até o final de 2025.

Red Bull vai ficar com o motor Honda até o fim de 2025

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Engenheiros da Honda e da Red Bull estudam dados durante GP de Portugal de F1 de 2020
Imagem: Mark Thompson/Getty Images

As datas não são nenhuma coincidência. Enquanto costurava o acordo com a Honda durante 2021, a Red Bull pressionava para atrasar ao máximo a adoção de novas regras para a unidade de potência. Encontrou aliados e conseguiu: a F1 terá um novo motor em 2026, um ano depois do inicialmente proposto. Até lá, o desenvolvimento está congelado.

Essa nova unidade de potência era justamente o que a Honda vinha pleiteando nas reuniões: totalmente sustentável, com o fim do complicado MGU-H, mais energia elétrica sendo usada e com motor a combustão movido somente com biocombustível (hoje, são 10%).

No Japão, uma troca no comando da Honda também fez com que a F1 fosse vista com outros olhos. Toshihiro Mibe assumiu no primeiro semestre de 2021 e viu que a F1 não era um negócio tão ruim assim, e também que a Honda estava explorando muito pouco do marketing positivo de ter, depois de muito sofrimento e centenas de milhões de dólares investidos, a unidade de potência mais eficiente da categoria. Afinal, com ela, Max Verstappen e a Red Bull venceram os dois campeonatos, e a publicidade para a Honda foi mínima. Afinal, seu motor tinha sido rebatizado como Red Bull Powertrains dentro do acordo costurado na saída da montadora.

A Red Bull Powertrains é a divisão de motores que os austríacos estão montando, visando fazer sua própria unidade de potência em 2026. Até lá, eles só dão o nome ao motor dos Red Bull e dos AlphaTauri. Ou seja, o que muda a partir deste ano é que a Honda não só fornece e opera os motores, como também volta a ter seu nome associado a eles, juntamente com a RBPT.

No final das contas, é só uma questão de marketing. Mas isso não quer dizer que a Honda vai parar por aí.

A volta de verdade da Honda não deverá ser com a Red Bull

A prova de que o retorno do nome Honda é só a ponta do iceberg é o fato de os japoneses terem registrado-se como fornecedores de motores em 2026, quando as novas regras entram em vigor. E a Red Bull Porwertrains também está inscrita, em separado.

É sabido que as partes tiveram várias conversas ao longo do ano, mas no momento eles querem coisas diferentes. A Red Bull até já conseguiu montar um motor a combustão, mas precisa de expertise nessa área, especialmente pelos problemas trazidos com o biocombustível. A Honda não quer ser meramente uma parceira menor. E também há outros problemas, pois o regulamento diferencia fornecedores novos e antigos em termos de tempo de desenvolvimento disponível.

unidade de potência - Divulgação - Divulgação
A unidade de potência da F1 vai mudar em 2026
Imagem: Divulgação

Tanto, que os atuais campeões mundiais estão ouvindo outras propostas, após o colapso das negociações com a Porsche, e estariam conversando pelo menos desde outubro com a Ford.

Já a Honda teria outras opções para uma parceria. Mas há outras variantes no mercado, uma vez que a Porsche busca a mesma coisa. E o bom momento comercial da F1 também tem atraído interessados a formar novas equipes, embora seja necessário convencer os outros times disso.

Só as idas e voltas desta história de Honda e Red Bull em pouco mais de dois anos, desde o anúncio da saída dos japoneses (que nunca aconteceu de fato), dá a medida de quantas reviravoltas ainda nos esperam até os novos motores irem à pista em março de 2026.