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Que fim levou o GP do Vietnã? E por que GP de Portugal não 'vingou' na F1?

Fórmula 1: Trabalhador usa máscara de proteção ao covid-19, novo coronavírus, durante expediente na pista do GP do Vietnã - Manan Vatsyayana/AFP
Fórmula 1: Trabalhador usa máscara de proteção ao covid-19, novo coronavírus, durante expediente na pista do GP do Vietnã Imagem: Manan Vatsyayana/AFP

Colunista do UOL

20/10/2021 04h00

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O calendário de 2022 da Fórmula 1 tem o retorno de algumas provas que ficaram fora nos últimos dois anos por causa da pandemia, como Japão, Singapura, Austrália e Canadá, e uma prova "caçula" em Miami. Mas tem uma corrida que nem chegou a estrear e já sumiu da temporada: o GP do Vietnã.

As negociações com o país começaram ainda na era Bernie Ecclestone, mas foi com a Liberty Media que o Vietnã finalmente assinou seu contrato em 2018. Os valores não foram oficialmente divulgados, mas falava-se na época em US$ 60 milhões de receita total, tornando a prova uma das mais lucrativas do calendário.

A F1 chegou a ver a cor do dinheiro vietnamita, uma vez que estas taxas são pagas antecipadamente, mas teve de devolver a quantia depois que a corrida inaugural de 2020 não foi realizada devido à pandemia e o cenário político que permitiu o acordo mudou drasticamente.

Até março de 2020, as coisas corriam bem para a estreia em abril, com a obra da pista, que era um circuito de rua, praticamente terminada. No entanto, a prova foi adiada 21 dias antes de acontecer, e finalmente cancelada meses depois, com a justificativa de que não faria sentido seguir adiante com a corrida durante a pandemia sem poder contar com torcedores, até para reaver o investimento feito. Uma justificativa forte para isso eram pesquisas locais que apontavam que o público da prova seria de pelo menos 50% de estrangeiros e, no final das contas, a F1 acabou ficando mesmo restrita a provas na Europa e no Oriente Médio em 2020.

Para 2021, no entanto, a prova nem chegou a constar no calendário, com sua data sendo divulgada como evento "a ser anunciado". Isso porque o prefeito de Hanói e grande força política por trás da ida ao Vietnã de um esporte sem qualquer tradição no país, Nguyen Duc Chung, foi preso por apropriação de documentos classificados.

O evento, na verdade, é financiado por um conglomerado privado chamado VinGroup mas, sem o apoio político, a prova perdeu força antes mesmo de sua primeira edição. Pelo menos os habitantes da região do circuito, uma parte menos privilegiada de Hanói, agora têm ruas mais amplas e recém-asfaltadas para usar no dia a dia.

Das pistas da pandemia, só Imola pode ficar

portimão - Steve Etherington/Mercedes - Steve Etherington/Mercedes
Circuito de Portimão sediou provas disputadas da F1 em 2020 e 2021
Imagem: Steve Etherington/Mercedes

O cancelamento de etapas como a vietnamita em 2020 fez com que a F1 buscasse opções nas quais era possível fazer o transporte por via terrestre durante a pandemia. Vários circuitos reapareceram no calendário, como Nurburgring, Istambul e Imola, e outros dois fizeram sua estreia —Portimão e Mugello.

Desses, apenas Imola consta no calendário de 2022, dentro de um esforço que une o governo da região da Emilia Romagna e o nacional para manter a pista no campeonato. A avaliação é de que vale a pena investir dinheiro público na prova devido o retorno em termos de visibilidade para o turismo da região e a arrecadação de impostos, em um modelo semelhante ao da prova de São Paulo.

Os turcos pensam da mesma forma, mas não conseguiram lugar fixo em um calendário já bastante cheio. Na verdade, Imola segue como substituta em 2022, entrando no lugar do GP da China, mas aparece como a primeira reserva caso algum contrato não seja renovado, ou a F1 decida desistir de correr em Paul Ricard, circuito de difícil acesso para os torcedores.

Esee é o mesmo problema de Portimão, pista que recebeu provas em 2020 e 2021, mas que enfrenta dois obstáculos importantes: assim como em Paul Ricard, só há uma autoestrada de acesso, e os portugueses não conseguiram fazer uma proposta na casa de US$ 20 milhões por ano, valor que costuma ser o mínimo para os novos contratos da Liberty. Com outros países, como Arábia Saudita e Qatar, dispostos a pagar bem mais do que isso, fica fácil entender por que gerar boas corridas não é suficiente para manter certas pistas no campeonato.