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Olhar Olímpico

OPINIÃO

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Se Tandara tem provas de inocência como diz, deveria mostrá-las

Minha História - Tandara Caixeta - Marcus Steinmeyer/UOL
Minha História - Tandara Caixeta Imagem: Marcus Steinmeyer/UOL

24/05/2022 12h42

Condenada a quatro anos de suspensão pelo Tribunal de Justiça Desportiva Antidopagem (TDJ-AD), Tandara Caixeta disse, no Twitter, que tem "provas mais do que suficientes" de que foi "contaminada" quando testou positivo para uma substância proibida no Código Antidoping. Se tem mesmo, deveria mostrá-las.

Os processos da justiça antidoping correm sempre em segredo, como forma de preservar o atleta acusado. Mas Tandara já está com sua imagem exposta: ela foi condenada à pena máxima, considerada culpada por ter em seu corpo, na véspera das Olimpíadas, uma substância que tem efeito parecido da testosterona no corpo feminino.

Em processos em que há uma vítima e um réu e que correm na Justiça comum, o segredo protege os dois lados. Quem é acusado não pode expor o caso, e quem acusa também não. Na justiça antidoping é diferente. Os órgãos de controle (ABCD, procuradoria, auditores) não podem expor o atleta. Mas o mesmo tem o direito de se defender em público.

A coluna apurou que a as "provas mais que suficientes" citadas por Tandara não foram apresentadas no julgamento realizado ontem (23_. Mas talvez seja uma diferença de interpretação. Talvez ela as tenha apresentado, mas os três auditores da 1ª Câmara do TJD-AD, que a condenaram à pena máxima, não as tenham entendido.

Sendo isso, Tandara tem o direito e vir a público e mostrar as provas que demonstram sua inocência. Não só pelos 18 anos de uma história como jogadora de vôlei, agora manchada, mas também porque ela é pré-candidata a deputada federal pelo MDB de São Paulo, e os eleitores que consideram a opção de escolhê-la para representá-los em Brasília merecem esse esclarecimento.

A não ser que a jogadora de vôlei tenha uma condição médica que cause a ela algum constrangimento, que a force a esconder quais substâncias consome, não faz sentido que Tandara continue insistindo à Justiça que corram sob sigilo os processos dela contra duas farmácias de manipulação. Uma delas, por um suplemento comprado em 2019.

Ora, se ela considera que ambas a prejudicaram, que mancharam sua imagem, atrapalharam sua carreira, seu sonho de ser uma medalhista olímpica, que então ela exponha essas farmácias, dentro da lei. A coluna apurou que nenhum das duas farmácias se opõe à publicidade do processo, pelo contrário.

Quando me coloco no lugar de Tandara, penso o que faria se fosse eu a ser julgado e condenado injustamente, ainda mais em posse de "provas mais do que suficientes" de que sou inocente. Provavelmente estaria gritando a todos os cantos minha inocência, expondo essas provas. Não entra na minha cabeça a hipótese de optar por me defender em segredo, enquanto a condenação é pública.

Ao longo dos anos, quem gosta de esporte e gosta de esporte limpo se cansou de ter que acreditar que quase todos os grandes atletas brasileiros que testaram positivo para substâncias proibidas foram contaminados. Com os processos sempre em sigilo, não nos resta outra alternativa senão acreditar, com uma pulga atrás da orelha, no julgamento das poucas pessoas com conhecimento dos processos: os auditores.

Desta vez, Tandara nos pede um esforço a mais: que acreditemos na inocência dela, sem mostrar as provas, e confiando que o julgamento do tribunal, que serviu a outros tantos clientes do mesmo advogado dela, desta vez é injusto. E que acreditemos a ponto de votar nela para deputada. Fica difícil.