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Olhar Olímpico

REPORTAGEM

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Eles voaram durante o BBB e vão dar trabalho: quem são os rivais de PA?

Erik Cardoso e Felipe Bardi, rivais de Paulo André no atletismo - Wagner Carmo/CBAt
Erik Cardoso e Felipe Bardi, rivais de Paulo André no atletismo Imagem: Wagner Carmo/CBAt

03/05/2022 04h00

Paulo André Camilo lamentava ter perdido a prova do líder do dia anterior quando outro brasileiro comemorou, por alguns instantes, no dia 1º de abril, ter realizado o sonho de todos os velocistas do país, inclusive PA. Felipe Bardi, amigo e rival há muitos anos, correu os 100m rasos em 9s99 na Argentina, e festejou ser o primeiro do país a quebrar a barreira dos 100m.

Por uma situação até agora mal explicada, a prova em Concepción del Uruguay, uma cidade argentina, não teve resultado oficial, e o recorde não valeu. Mas a exibição deixou claro que, quando PA voltar às pistas depois de participar do BBB e curtir a fama, terá sua hegemonia nacional na prova mais rápida do atletismo desafiada como nunca antes.

E é exatamente isso que Paulo André pedia antes da fama. ""Eu preciso que ele [Bardi] seja o cara, que ele corra nove, que todo mundo corra nove. Que seja ele o primeiro, que seja ele, o Aldemir [Gomes], o [Vitor] Hugo [Mourão] . Claro que eu quero ser o primeiro, mas quero que todo mundo corra nove, porque se não eu não vou ser campeão olímpico, porra. Eu não vou resolver nada sozinho", me disse PA no fim de 2020.

Paulo André é o atual pentacampeão nacional dos 100m, brilhando durante um período em que a prova foi acompanhada de perto pela Globo, que chegou a criar um projeto dentro do Esporte Espetacular para incentivar a quebra da barreira dos 10 segundos. Foram escolhidos para serem acompanhados de perto pela emissora Paulo André, Vitor Hugo e Derick Souza. Campeão mundial escolar em 2015 nos 200m, Felipe Bardi nesta época estava fora dos holofotes, prejudicado por uma lesão no púbis.

Bardi, que havia sido campeão mundial escolar em 2015 nos 200m, sofreu uma lesão no púbis que o afastou das pistas e o tirou dos holofotes que já iluminavam principalmente Paulo André. Comendo pelas beiradas, o corredor do Sesi-SP só entrou de fato na briga para ser o melhor do país em 2020, quando venceu o GP Brasil (um evento de um dia) e, logo depois, foi prata no Troféu Brasil (o campeonato nacional, normalmente de quatro dias).

Confiando que Bardi poderia completar o ciclo que o Sesi definiu como seu modelo, saindo de uma escola da rede para chegar à Olimpíada, o clube do serviço social das indústrias voltou a investir no atletismo, como fazia no século passado — Carlos Camilo defendeu a equipe e, por ela, mudou-se para Santo André (SP), onde, em 1998, nasceu seu filho Paulo André.

Também em 1998, outro velocista com passagem pelo Sesi se aposentava, Darci Ferreira. Como Camilo, de quem é amigo de longe data, Darci foi estudar educação física. E, depois, trabalhar na formação de atletas, no interior de São Paulo, mais especificamente no Sesi de Piracicaba, chegando à elite do atletismo brasileiro como treinador primeiro de Bardi e, mais recentemente, também de Erik Cardoso.

Está na perna

Quando Paulo André correu os 100m em 10s02 na semifinal do Troféu Brasil de Atletismo de 2018 com vento negativo (pegando-o de frente) e depois fez 10s03 na final, o atletismo brasileiro concluiu que, no jargão da modalidade, os "9 segundos estavam na perna dele". Em outras palavras: Paulo André consegue correr 100 metros em um tempo abaixo de 10s00, faltando só de fato correr, superar essa barreira que é psicológica.

Quatro anos se passaram e PA só conseguiu o sub10 uma vez, em 2019, também em Bragança Paulista, mas o 9s90 daquele dia foi com vento favorável de 3,2 m/s, acima do limite de 2 m/s permitido para aferição de recordes. Portanto, não valeu.

Mas, de lá para cá, Erik e Felipe também colocaram os 9s na perna. Erik, que tem só 21 anos, dois a menos que os rivais, surpreendeu o atletismo ao fazer 10s01 em um campeonato sub-20 no ano passado, no limite do vento. Bardi é mais consistente. Tem três marcas abaixo de 10s05, além do 9s99 na Argentina que não valeu — a explicação, informal, é que o cronômetro não estava funcionando direito.

No domingo, enquanto PA curtia a ressaca da Sapucaí, Erik venceu o GP Brasil com 10s12, seguido do amigo Felipe Bardi, com quem divide apartamento, que chegou um centésimo depois. Foi a terceira vez de Erik abaixo de 10s15 na temporada. Um passo atrás está Rodrigo do Nascimento, de 27 anos, atleta da equipe ligada ao governo do Maranhão, que correu duas vezes para 10s20 este ano.

Como mostrou o Olhar Olímpico, a vontade do pai de Paulo André é que ele volte às competições no Troféu Brasil, no fim de junho, evento marcado para o Estádio Nilton Santos, no Rio de Janeiro. PA ainda não fez exames depois de sair do BBB, nem retornou aos treinos.